Pedro J. Bondaczuk
O mito vodu dos mortos-vivos, ou “zumbis”, como são conhecidos, há muito excita a imaginação de aventureiros, pesquisadores, cientistas e mais, de meros curiosos (principalmente destes). Conforme essa crença, disseminada por várias partes do Caribe, notadamente no Haiti, determinadas pessoas, que viveram praticando o mal e prejudicando os outros, são trazidas do outro lado da vida, depois que morrem, mediante sortilégios mágicos de um feiticeiro, para servirem aos que prejudicaram e, assim, se redimirem.
Até há pouco tempo, havia quase que consenso de que isso não passava de crendice ou de lenda, como tantas que há nas diversas culturas, forjadas pela imaginação popular que predominam no folclore dos vários povos. Ninguém de bom senso, com um tiquinho que seja de raciocínio lógico, acredita na possibilidade (obviamente absurda) de mortos serem “ressuscitados”, e ainda mais sem consciência ou raciocínio, agindo como robôs, sob o comando de alguém vivo (ou vivaldino?). Os leitores certamente estranharão o fato de eu trazer um assunto como este à baila e tratá-lo seriamente. Por que faço isso? Por uma série de razões.
Em primeiro lugar, o mito existe e milhões de pessoas (não importa se ignorantes e crédulas) acreditam nele. Segundo, essa crença vem sendo explorada tanto pelo cinema (embora em filmes de terror de terceira categoria), quanto em literatura. Há revistas de histórias em quadrinhos, por exemplo, especializadas apenas nesse tipo de enredo. Terceiro, muitos pesquisadores sérios, até cientistas de relativo renome, garantem que há um fundo de verdade por trás do mito, com explicações que garantem serem racionais e lógicas. Quarto, por caber ao escritor retratar comportamentos e crenças de toda espécie, sem discriminações e preconceitos, tentando apurar se há alguma verdade por trás dos mitos. Poderia enumerar ainda mais uma série de razões a propósito, mas não o farei.
No folclore de praticamente todos os povos há esse tipo de crendice, de credulidade em seres criados exclusivamente pela imaginação, frutos de equívocos ou de interpretações errôneas de coisas reais. Na Europa, por exemplo – e hoje, a rigor, em boa parte do mundo – muita gente é capaz de jurar que os “vampiros” (tão popularizados no cinema e na literatura) existem mesmo. Vá dizer o contrário, de que isso não passa de crendice tola de pessoas supersticiosas e ignorantes, por exemplo, a alguns camponeses da Transilvânia.
No Brasil, esses mitos populares também não faltam. A rigor, abundam. Por exemplo, a despeito de estarmos em pleno século XXI, com fartura de veículos de comunicação e com todas as facilidades imagináveis de informação, muita, muitíssima gente crê na existência de lobisomens. Essa crendice é muito arraigada, inclusive, no interior do Estado mais rico e desenvolvido da União, São Paulo. Há, até mesmo, uma cidade (Jarinu) que fez desse mito uma espécie de mascote. Claro, a maioria da sua população leva isso na brincadeira. Tanto que se criou, ali. um festival anual do lobisomem, que atrai muitos turistas e carreia recursos financeiros para o município. Muitos, no entanto, acreditam piamente em sua existência e juram terem visto pelo menos um em suas vidas. Claro que não viram.
Mas... como em toda a lenda sempre há um fundo de verdade... na dos mortos vivos também deve haver. Pensando dessa forma, pessoas de mente inquieta resolveram pesquisar o mito dos zumbis, buscando uma explicação racional para uma crendice irracional. E centralizaram suas pesquisas exatamente onde essa crença está mais arraigada: o Haiti.
Alguns desses pesquisadores atribuem a existência de zumbis ao uso de determinadas ervas de efeito cataléptico, que causam, nos que as ingerem, um estado semelhante ao de um morto, embora, claro, estejam vivos, numa espécie de hibernação. Para outros, as vítimas teriam sido inoculadas com determinada substância encontrada na pele de sapos venenosos, a bufotoxina. Para terceiros, a catalepsia seria provocada por um princípio ativo paralisante encontrado no baiacu, a tetrodixina.
Há aventureiros, mais afoitos (ou mais malandros?) que vendo nesse fenômeno maneira fácil de tapear os crédulos e incautos, garantem serem detentores da fórmula mágica secreta, capaz de transformar qualquer pessoa num “morto-vivo”. Lenda ou realidade, magia ou profundo conhecimento de plantas exóticas e pouco estudadas, o fato é que, periodicamente, alguém vem a público para fazer revelações a respeito.
No folclore brasileiro, a figura do zumbi também existe, mas tem muitas representações. Alguns entendem-na como um espectro, um fantasma incorpóreo. Para outros, trata-se de um duende. Há os que a confundem com uma divindade dos negros cabindas de igual nome. Suas manifestações também são narradas das formas as mais variadas. Essa entidade mítica é descrita ora como semelhante ao Saci, ora como o Caapora ou até como um rígido cadáver ambulante, ao qual não se pode matar, por se tratar já de um morto.
O zumbi tem a fama de desnortear, com seu estridente assovio, às crianças que saiam à mata, em busca de frutos silvestres. Como o Saci, vive pedindo fumo para seu cachimbinho e, quando alguém lhe nega, aplica tremendas surras no “pão duro” desprevenido. Algumas pessoas, com fama de feiticeiras, são, também, chamadas de zumbis.
Em determinadas manifestações folclóricas, esse mito é descrito como alegre e extrovertido, além de inveterado boêmio. Em outras, é visto pelo lado exatamente oposto, ou seja, calado, misterioso, distante e extremamente retraído. Em algumas regiões brasileiras é confundido com o “bicho papão”, figura à qual as mães se remetem para assustar crianças levadas quando estas as desobedecem. Voltarei ao tema para uma análise mais acurada, com base em informações pertinentes.
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