Pedro J. Bondaczuk
O Partido Democrata dos Estados Unidos esteve em poucas vezes, nas últimas décadas, numa situação tão boa, para enfrentar os republicanos, na disputa pela Presidência da República, como está agora. Paradoxalmente, porém, raras oportunidades apresentaram pela frente uma campanha tão árdua, como a que vai começar nos próximos dias.
A chapa está bem equilibrada, tanto do ponto de vista geográfico, quanto do político. No primeiro caso, tem como candidato à presidência alguém do tradicional Estado de Massachusetts, onde o sonho norte-americano de se tornar uma nação começou, com a famosa revolta do chá. Para dar-lhe equilíbrio, conta com um representante do rico e orgulhoso Texas, o mesmo Estado do adversário republicano. No segundo aspecto, a chapa é liderada pelo liberal Michael Dukakis e completada pelo conservador Lloyd Bentsen.
Teoricamente, portanto, tem tudo para a vitória, arrebanhando eleitores de todas as tendências, com a vantagem suplementar de pela primeira vez em muitos anos o partido estar unido e disposto a vencer. Ocorre que no outro extremo há o carisma de Ronald Reagan, que quer encerrar com chave de ouro uma administração que, se não foi brilhante, pelo menos em nível interno (que é o que conta) interferiu o mínimo possível na vida do cidadão.
Além de tudo, ainda reduziu os impostos, o que seria uma temeridade para qualquer outro governante, que não tivesse o prestígio e a popularidade desse bem-sucedido ex-ator de Hollywood, que conseguiu levar um pouco de charme à fria Washington.
Há economistas garantindo que a política econômica do atual presidente, apelidada de “Reaganomic”, não passa de uma irresponsabilidade. Que se trata de uma bomba de tempo que vai estourar, mais dia, menos dia. No entanto, não é isso o que vêm mostrando os indicadores econômicos.
Raras vezes os Estados Unidos conheceram tamanha prosperidade (se é que já tiveram uma igual algum dia) como agora. Nem mesmo a era do “New Deal”, de Franklin Delano Roosevelt, foi como esta. É verdade que os déficits da balança comercial estão se acumulando. Que o número de pobres no país aumenta. Mas a economia norte-americana tem grandeza suficiente para pagar tudo isso, para corrigir suas distorções e ainda sobrar muito, mas muito mesmo para todos.
Além de tudo, Reagan devolveu o orgulho ao país, abalado pela derrota na guerra do Vietnã e pelos insucessos da administração Carter no Irã. Fez aventuras classificadas de malucas e de temerárias (quando não de outros nomes mais contundentes) do ponto de vista militar. Mas saiu-se bem em todas elas, embora raramente contando com as simpatias internacionais.
Tudo isso vai pesar muito na campanha. A favor dos republicanos, claro. Não se pode, também, ir a extremos e afirmar, como muitos analistas vêm fazendo apressadamente, que os democratas não têm chances de vitória. Eleições são eleições. Mas que a parada para a chapa Dukakis-Bentsen vai ser das mais indigestas, disso não há como duvidar. A menos que se desconheça como funciona a política norte-americana.
(Artigo publicado na página 13, Internacional, do Correio Popular, em 22 de julho de 1988).
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