Pedro J. Bondaczuk
Os telespectadores terão, como principais atrativos na televisão nos próximos quatro dias, dois grandes eventos, ambos de caráter internacional e cuja transmissão será exclusiva da Rede Globo. Um deles é da área esportiva e vai acontecer no domingo, no Autódromo de Jacarepaguá. Nesse dia e local, o “circo” da Fórmula 1 abre sua temporada de 1986, que promete ser das mais carregadas de emoção, principalmente com as inovações introduzidas neste ano. O outro será a revelação e a entrega das estatuetas do Oscar, atribuído pela Academia de Cinema de Hollywood aos que se destacaram em todos os setores da chamada Sétima Arte em 1985. A cerimônia, que contará com a presença de grandes astros e estrelas das telas, vai acontecer na segunda-feira, varando a madrugada, e será realizada no imponente “Coliseum” de Los Angeles, na rica e exóticas Califórnia.
Esses dois acontecimentos têm recebido, tradicionalmente, excelente cobertura da Rede Globo em anosd anteriores, em especial a corrida de automóveis, setor no qual a emissora é imbatível e em que firmou sólido prestígio internacional. A tal ponto que, em 1985, como reconhecimento da entidade que promove a competição, foi ela quem coordenou as transmissões do Grande Prêmio de Portugal, corrido no Autódromo de Estoril, no mês de abril, a pedido da promotora e coroado com a espetacular vitória desse piloto que então apenas despontava (e que hoje é um dos principais astros desse espetáculo de perícia e de coragem), Ayrton Senna.
Talvez o grande segredo da Globo para manter esse padrão tão elevado de qualidade por anos seguidos, evoluindo invés de estacionar, tenha sido a manutenção durante todo o período de praticamente a mesma equipe. O narrador Galvão Bueno, por exemplo, caiu como uma luva para descrever o que de emocionante ocorre nas pistas. Mas ele tem, como importante coadjuvante, o repórter Reginaldo Leme, que transmite ao telespectador a impressão de conhecer o motor das máquinas que estão correndo tão bem quanto qualquer chefe da turma de mecânicos das melhores escuderias. Conta, porém, com uma vantagem muito importante sobre qualquer técnico: consegue trocar em miúdo as expressões mais complicadas e torna as várias partes de um carro familiares ao leigo. Além disso, demonstra estar bastante familiarizado com as grandes vedetes do espetáculo, os pilotos, dos quais sabe até os mínimos cacoetes.
A impressão que fica é a que quem está acompanhando as corridas pela TV lucra muito mais do que os fanáticos que se dispõem a enfrentar filas e aglomerações para presenciar “in loco” o evento. Não somente porque as câmeras não perdem nenhum momento importante da corrida, mostrando as grandes ultrapassagens, os “pegas” mais emocionantes e os acidentes mais espetaculares. Nem apenas por causa da tomada dos tempos, feita com muita regularidade, traçando uma radiografia da competição. Mas em virtude de outras informações, precisas, corretas, exatas, medidas, dadas no tempo certo, tanto por Reginaldo Leme, quanto por Galvão Bueno. Entretanto, a Globo não se limita, apenas, ao “durante” a corrida, que já é brilhante por si só. Preocupa-se, também, com o “antes” e o “depois”. Foi o que ocorreu com todas as p´rovas do ano passado. É o que está se repetindo agora.
Em dois domingos consecutivos, programações especiais situaram o telespectador no campeonato que ora se inicia. Mostraram as trocas ocorridas nas equipes, os novos motores (cada vez mais potentes), as regras que vão disciplinar os Grandes Prêmios, os circuitos onde eles serão corridos e tudo, enfim, que possa ser do interesse do público. Quer seja ele apaixonado por esse esporte, quer mero assistente ocasional. Para o domingo, durante o “Fantástico”, está programada a fase do “depois”. Isto é, um resumo da corrida, mostrando porque determinado piloto conseguiu subir no pódio e qual a causa que levou à parada prematura de outro. Isso sim é o que pode ser definido como uma cobertura completa.
Já quanto à festa do Oscar, o problema, nos anos anteriores, centralizou-se nas traduções simultâneas. Nem sempre os tradutores demonstraram perícia para superar essa barreira lingüística, fazendo com que aqueles que não têm nenhuma noção de inglês, ficassem um tanto perdidos em determinados instantes. Mas no resto, a cobertura, nestes anos todos em que a Globo vem participando dela, teve mais altos do que baixos. Principalmente porque cada atribuição importante de prêmios foi meticulosamente comentada, analisada e dissecada, despertando expectativas e até garantindo previamente o sucesso de bilheteria de filmes, assim que eles chegaram ao Brasil para exibição.
Em 1986, porém, a maioria já está em cartaz em quase todos os cinemas. Só em Campinas, temos três desses candidatos ao Oscar: “Entre dois amores”, exibido pelo Cine Serrador I, com onze indicações; “Agnes de Deus”, mostrado pelo Cine Regente, com três e “O beijo da mulher aranha” (para o qual vai toda a nossa torcida), por motivos óbvios) nas telas do Jequitibá.
Depois de um certo marasmo durante o longo período de férias, como inexplicavelmente já virou tradição entre nós, teremos, finalmente, a volta às atividade normal na televisão. E em grande estilo. Não somente na Rede Globo, e nem só com os comentados acontecimentos. Também Manchete, Bandeirantes e TVS estão lançando, ou consolidando, novas produções. E com isso o público reconquista algumas opções de lazer, cômodas, baratas e por isso mesmo cobradas com tanta insistência pela crítica especializada e pelo povo em geral.
(Comentário publicado na coluna “Vídeo”, página 21, editoria de Arte e Variedades do Correio Popular, em 21 de março de 1986).
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