Friday, May 11, 2012

Perdidos no tempo

Pedro J. Bondaczuk

O mundo conta, na atualidade, em plena era da comunicação total, com mais de 800 milhões de adultos que não sabem ler e nem escrever. Além disso, há 130 milhões de crianças em idade escolar, não alfabetizadas, que estão fora das escolas.


O alerta foi feito, ontem, pelo diretor geral da Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura (Unesco), Federico Mayor, por ocasião da passagem do Dia Internacional da Alfabetização. Não há como negar que houve progressos palpáveis nessa área.


Um dado positivo, que deve ser destacado, por exemplo, é que desde o início de 1991, o número de analfabetos começou a diminuir, em termos absolutos, em todo o Planeta. E, a despeito de nascerem 10 crianças por hora no mundo, continua em queda.


A questão, todavia, não deve ser abordada pelo aspecto numérico (ou não somente por ele), já que não se está lidando com objetos, ou com seres irracionais, mas com pessoas, que têm os mesmos sonhos, ansiedades e aspirações que todos nós, que tivemos a oportunidade e o privilégio de adquiri parcelas de conhecimento.


Tais indivíduos estão absolutamente deslocados na sociedade contemporânea. Não contam com a mínima competitividade e têm a oferecer ao mundo pouco, pouquíssimo, quase nada, apenas a força física --- isto quando a possuem --- sem qualquer perspectiva de êxito na vida.


São como seres de outro planeta em estágio bem mais atrasado do que a Terra. Estão deslocados no tempo e no espaço, vivendo, mentalmente, na Idade da Pedra Lascada, enquanto o resto da humanidade se encontra na Era Tecnológica.


Este despreparo em algo que é básico, primaríssimo, além de pernicioso para as próprias pessoas que o ostentam, é oneroso para toda a sociedade. Northrop Frye lembra, com propriedade, que "cultura e civilização têm o poder de transformar o mundo físico subumano em um mundo de contornos e medidas humanos".


Outro aspecto a considerar, na questão do analfabetismo, é a discriminação que ainda existe contra as mulheres. Dois terços dos analfabetos do mundo, cerca de 535 milhões de pessoas, são do sexo feminino. Das 130 milhões de crianças fora das escolas, 85 milhões são meninas.


É certo que as coisas já foram muito piores nesse aspecto. Mas os avanços foram ainda muito discretos em face da necessidade. O Brasil, por exemplo, avançou muito no combate ao analfabetismo. Todavia, o País ostenta o segundo ou terceiro maior contingente de analfabetos da América Latina, o que representa um custo social elevadíssimo.


O desafio educacional, para o presidente a ser eleito em 3 de outubro próximo, é dos mais graves e urgentes nesse aspecto. Todos os candidatos prometem fazer da educação sua prioridade absoluta. É preciso que cumpram, de fato, essa promessa de campanha.


Mas que o façam de forma sábia e competente. O que o País precisa, destaque-se, não é tanto de gigantescos e onerosos prédios escolares, construídos com fins meramente eleitoreiros, quando não para desviar recursos para o bolso de administradores corruptos, mediante superfaturamento de obras. Necessita de uma doutrina de ensino. Precisa de competência, de vontade política e, sobretudo, de seriedade para recuperar o tempo perdido.


(Artigo publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 9 de setembro de 1994).

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