Saturday, April 28, 2012

Convívio com as frustrações

Pedro J. Bondaczuk



A primeira lição que um escritor tem que aprender, antes de ser considerado como tal, é a de conviver com frustrações”. Concordam com essa afirmação? Pois eu concordo. Devo esclarecer que não fui eu o autor dessa peremptória declaração. Li-a, dia desses, nas redes sociais. Serei específico, topei com ela no Twitter. Infelizmente, não fui competente o suficiente para anotar quem “twittou” isso (e me perdoem o neologismo que, no meu entender, cabe a caráter aqui).



Bem, não é apenas o escritor que precisa aprender a conviver com frustrações. Todos nos frustramos, amiúde, uns mais, outros menos, de acordo com a personalidade de cada um e, em especial, com suas circunstâncias. E por que, então, especifico essa atividade em particular, e com tamanha ênfase (aliás, reitero, nem fui eu o autor original dessa constatação), como quem deva aprender essa desagradável lição, e com primazia? Por uma série de razões.



O primeiro motivo é que se trata de um dos meus “métiers” (o outro, não menos frustrante, por sinal, é o jornalismo) e, portanto, posso testemunhar a propósito por experiência própria. O segundo é que são poucas as atividades que começam cercadas de tantas esperanças, sonhos e fantasias e que, em confronto com a dura realidade, pouco a pouco se diluem, se desfazem, viram pó e se transformam numa única e imensa frustração. Ademais, ela nem mesmo é reconhecida como profissão. No entanto, para ser bem exercida, exige tanto de quem a abraça, e lhe dá (salvo raríssimas exceções) tão minguado retorno (na maioria dos casos, nem dá algum), que sequer é compensadora.



Por que não escrevi que a primeira lição que o escritor precisa aprender, e muito bem, é a do manejo correto do seu idioma? Porque é o óbvio dos óbvios. Porque para se considerado como tal, a premissa é que saiba escrever. Se não souber, pode ser chamado de qualquer outra coisa, de tudo, menos de escritor. Isso, portanto, fica implícito. Define e determina a própria atividade.



Não há nenhum curso específico que habilite alguém a ser bem sucedido nesse “métier”. Diz-se que o de Letras tem esse papel. Todavia, se o sujeito não tiver vocação para isso, se não contar com talento e não for tomado de inesgotável paixão, pode tirar diploma na mais qualificada faculdade da mais renomada e reconhecida universidade do Planeta que, ainda assim, nunca será escritor. Pode até escrever um ou vários livros. Pode (caso que nem mesmo é tão raro), ser best-seller. Pode ganhar rios de dinheiro e até alguns prêmios literários. Mas... se não tiver talento, se não tiver paixão, se não tiver sangue nos olhos (e me perdoem a metáfora de mau gosto)... nunca será escritor. Não passará de curioso, de garatujador, de escrevinhador (que é como muitas vezes me sinto).



Nem é preciso relacionar muitas frustrações com as quais se têm que conviver. Quem é do ramo conhece-as muito bem Querem um exemplo? Você tem, há anos, esboçado na cabeça, aquele livro que no seu entender fará furor, venderá dezenas de milhões de exemplares, o fará reverenciado pela crítica e pelo público e o credenciará à conquista, quem sabe, do Nobel de Literatura. Quando se dispõe a escrevê-lo, contudo, não encontra as palavras adequadas para expressar com exatidão o que queria.



Ao proceder à necessária pesquisa que fundamente e ressalte o teor do que você se propõe a escrever, não encontra as fontes. E quando as localiza, estas são pífias e confusas. Mais confundem do que esclarecem. Subitamente, aquela sua potencial obra-prima transforma-se num monstrengo que, se você se arriscasse a mostrar para alguém, certamente cairia em ridículo. Seria, em vez de candidato a incontáveis e merecidos elogios, digno de galhofas e de chacotas. Esta não é, claro, a única e sequer a maior das frustrações com as quais tem que aprender a conviver. A pior, no meu julgamento, é a que se refere aos “resultados” do seu labor.



Querem um exemplo desse tipo de frustração? Simples. Digamos que, num determinado dia, bafejado pelos deuses, você redija um texto primoroso, perfeito. Um que seja, simultaneamente, claro, preciso, elegante, inteligente e com conteúdo a salvo de qualquer reparo, desses que nunca você nunca leu em lugar algum, por ser originalíssimo, profundo e atraente. Pois bem, alegre, como um passarinho, você se propõe a publicar essa rara peça literária em jornal, em revista ou mesmo em algum site ou blog da internet.



Porém... Você percebe, dias depois, que ninguém o leu. Ou, o que é pior, que muitos leram, mas não lhe deram a menor importância. A decepção é tão grande, que a sua vontade é a de nunca mais escrever coisíssima alguma, sequer reles bilhete para a mulher ou a empregada. É nessas horas que sonha com uma súbita amnésia que o faça esquecer por completo até o beabá. Que desaprenda, por completo, num piscar de olhos, de ler e de escrever.



Pior é, caso você comente essa frustração com alguém, a interpretação que este alguém lhe dará dela. De imediato, você será considerado imaturo, vaidoso e outros quetais, bem mais desabonadores. Seu crítico gratuito certamente não saberá a diferença entre um mero elogio – via de regra hipócrita quando não oportunista – e o “reconhecimento” de um trabalho, de um talento ou de uma obra.



Qual escritor nunca passou por esse tipo de frustração? Creio que todos passaram. Ocorre que a maioria, temendo ser mal interpretada, sequer se manifesta a propósito. Dá um sorriso amarelo, disfarça, finge que esqueceu ou que nem percebeu o pouco caso com que sua obra-prima foi recebida, e toca o barco. Esses, certamente, aprenderam a primeira e principal lição da sua atividade. Sabem conviver com frustrações e não permitem que elas tolham sua criatividade.



Da minha parte, confesso, não aprendi a agir assim. Não, pelo menos, de todo. Por exemplo, agora estou frustradíssimo por não haver anotado o nome de quem “twittou” a afirmação que suscitou estas reflexões. Como poderia saber, no momento em que a li, que de repente iria escrever a respeito? Deveria saber. Afinal, tudo, absolutamente tudo o que existe, o que pensamos, o que imaginamos, o que vemos, ouvimos e lemos é, potencialmente, assunto tratável em nossos textos. Enfim...

Acompanhe-me pelo twitter: @bondaczuk

1 comment:

Edir Araujo said...

Olá meu amigo. Li e reli esta sua postagem e concordo com voce. Assim como voce concorda com a frase que encontrou no Twitter. > "A primeira lição que um escritor tem que aprender, antes de ser considerado como tal, é a de conviver com frustrações”. Sou também escritor - independente e anônimo - é bom que se diga. Vêz por outra publico alguma coisa, uma crônica, etc. mas é realmente frustrante percebermos o desinteresse do público ledor. Confesso que esta frase que encontrastes no Twitter encontrou eco em mim também. Mas como diria Emanuel Medeiros Vieira, “escrevemos para perdurar, para vencer a poeira do tempo, para despistar a morte, para regar nossos fantasmas e obsessões, para nos comunicar.”
Forte Abraço !
Edir Araujo
edir-araujo@hotmail.com