Perdidos numa noite mais ampla
Pedro J. Bondaczuk
O programa “Perdidos na Noite”, comandado por esse extraordinário comunicador que é Fausto Silva, inicia, no próximo sábado, nova etapa em sua brilhante trajetória. A apresentação semanal, até aqui restrita quase que somente a paulistas e cariocas, estréia em nova emissora, a Rede Bandeirantes, e ganha dimensões nacionais. Doravante, gaúchos, baianos, pernambucanos, amazonenses, matogrossenses e os brasileiros de praticamente todos os recantos do País poderão deliciar-se com a irreverência e a descontração desse homem simples, profissional correto e, sobretudo, apresentador inteligente, que teve a sensibilidade de perceber o que o público deseja de um show de televisão.
O telespectador, quando assiste a um musical, não está à procura do jogo de luzes, daquelas fumaçazinhas copiadas de clipes norte-americanos ou de mistificação, embora TV seja, essencialmente, imagem. Busca, além de uma correta interpretação de artistas que realmente tenham qualidades, o lado humano deles, para que esses intérpretes não fiquem parecendo robôs, que somente saibam fazer aquilo para o que sejam programados.
Quer saber como ele age, o que aprecia ou detesta e até mesmo suas opiniões sobre a realidade do dia a dia. É aí que está o maior dos méritos de Fausto Silva (entre tantos outros que tem). O de colocar seus convidados à vontade e, como quem não quer nada, brincando o tempo todo com eles, extrair o seu jeito de ser e revelá-lo ao povão.
Outro aspecto muito bom que notamos nos quase dois anos que acompanhamos o “Perdidos na Noite”, é o fato de nenhum estilo musical, nenhuma influência, nenhum ritmo e nenhum cantor, cantora ou conjunto serem discriminados. Tudo e todos têm o seu espaço. Isso permite que o público tire uma média do que está acontecendo na música brasileira, não de uma forma pedante, empolada e chata. Mas de uma maneira descontraída e às vezes até galhofeira. Aliás, bem ao estilo do próprio brasileiro, que não é lá muito chegado em cerimônias e salamaleques.
Há pessoas que não gostam do “Perdidos na Noite”, o que é seu direito. Alguns chegaram a nos observar, a propósito de palavrões ditos pelo apresentador ou por seus convidados. Nós estranhamos muito tais observações. Afinal, já está mais do que na hora das pessoas serem um pouco mais sinceras neste País e pararem de fazer o gênero de “boazinhas”. Quem nos fez estes reparos, por sinal, inconscientemente, arrematou-os com uma cabeluda palavra de baixo calão. Notaram a contradição?
O palavrão pode ser dito, mas em determinados ambientes e instantes. Pelo menos é o que depreendo do conceito dessas pessoas. Isto é, o homem precisa vestir inúmeras máscaras, na sua convivência cotidiana com os outros, de conformidade com o lugar em que estiver, sem poder ser ele mesmo, do jeito que realmente é, em todos os locais, e sempre. Para nós, uma atitude dúbia, como essa, tem outra definição (e específica)> hipocrisia.
Além de tudo, se alguma expressão mais picante é usada, o horário em que o programa vai ao ar garante que quem a ouve e quem assiste a essa programação televisiva é um adulto. Não se trata, portanto, de nenhum,a criancinha inocente em risco de ser corrompida. Se os programas de TV veiculados nesse horário forem bem observados, chegar-se-á à conclusão que eles mostram, em outros canais, coisas muito mais censuráveis do que expressões que todos conhecemos e, em maior ou menos quantidade, usamos no dia a dia.
Sexo barato, violência gratuita e desavergonhada lavagem cerebral cultural nos são lançados no rosto, sem nenhuma cerimônia, dentro de nossas casas, em filmes que não têm e nunca tiveram nada que preste a nos acrescentar. E as pessoas já ficaram tão calejadas com tais festivais de baixaria e maucaratismo, que sequer se dão conta que estão perdendo a sensibilidade e o senso crítico e que não se impressionam mais quando cenas de assaltos, assassinatos, agressões e violência sexual ocorrem ao seu redor, não na ficção, mas na vida real.
A mensagem que o programa de Fausto Silva nos passa, por outro lado, é a de descontração, de informalidade, de familiaridade, da brincadeira sadia, da camaradagem. Aquela mesma que conhecemos na juventude, no colégio, no clube e nos barzinhos, com aquela turminha que sempre acaba deixando uma saudade imensa quando se desfaz. Os cartazes mostrados no auditório, as observações brincalhonas feitas com o público e com os convidados, as piadinhas ditas para o telespectador, tudo isso tem um aspecto que nos é sumamente familiar. É algo humano, verdadeiro, extras-máquina, e não robotizado, artificial e enganador, como tantas outras coisas que nos tentam impingir seguidamente, por maneiras e veículos os mais variados.
Não foi por acaso que os críticos escolheram, e por unanimidade, Fausto Silva como o melhor apresentador de shows da TV do ano passado. E ele ganhou, entre outros, o “Troféu Imprensa”. Não somos nós, portanto, que nos empolgamos na sua apreciação. É o público que lhe faz justiça. Nós, apenas, fazemos parte da crescente legião de telespectadores que manifestam seu apreço pelo “Perdidos na Noite” e seu apresentador.
O Brasil inteiro, a partir do próximo sábado, terá ao seu dispor essa opção de lazer, essa chance para desopilar o fígado com o humor sadio e espontâneo de um comunicador que não precisa de artifícios para se comunicar. Verá, por exemplo, as broncas que sempre quis dar expressas com clareza e irreverência na telinha. E sem aquele tom dogmático e pedante, de tantos apresentadores, que se colocam na postura de oniscientes ou de árbitros do comportamento. Como sempre, continuarei fiel ao “Perdidos na Noite” e disso não abro e não abrirei mão. E estou certo que as pessoas de bom senso também não.
(Artigo publicado na coluna semanal “Vídeo”, na página 12, editoria de “Arte e Variedades” do Correio Popular, em 12 de abril de 1986).
Acompanhe-me pelo twitter: @bondaczuk
Pedro J. Bondaczuk
O programa “Perdidos na Noite”, comandado por esse extraordinário comunicador que é Fausto Silva, inicia, no próximo sábado, nova etapa em sua brilhante trajetória. A apresentação semanal, até aqui restrita quase que somente a paulistas e cariocas, estréia em nova emissora, a Rede Bandeirantes, e ganha dimensões nacionais. Doravante, gaúchos, baianos, pernambucanos, amazonenses, matogrossenses e os brasileiros de praticamente todos os recantos do País poderão deliciar-se com a irreverência e a descontração desse homem simples, profissional correto e, sobretudo, apresentador inteligente, que teve a sensibilidade de perceber o que o público deseja de um show de televisão.
O telespectador, quando assiste a um musical, não está à procura do jogo de luzes, daquelas fumaçazinhas copiadas de clipes norte-americanos ou de mistificação, embora TV seja, essencialmente, imagem. Busca, além de uma correta interpretação de artistas que realmente tenham qualidades, o lado humano deles, para que esses intérpretes não fiquem parecendo robôs, que somente saibam fazer aquilo para o que sejam programados.
Quer saber como ele age, o que aprecia ou detesta e até mesmo suas opiniões sobre a realidade do dia a dia. É aí que está o maior dos méritos de Fausto Silva (entre tantos outros que tem). O de colocar seus convidados à vontade e, como quem não quer nada, brincando o tempo todo com eles, extrair o seu jeito de ser e revelá-lo ao povão.
Outro aspecto muito bom que notamos nos quase dois anos que acompanhamos o “Perdidos na Noite”, é o fato de nenhum estilo musical, nenhuma influência, nenhum ritmo e nenhum cantor, cantora ou conjunto serem discriminados. Tudo e todos têm o seu espaço. Isso permite que o público tire uma média do que está acontecendo na música brasileira, não de uma forma pedante, empolada e chata. Mas de uma maneira descontraída e às vezes até galhofeira. Aliás, bem ao estilo do próprio brasileiro, que não é lá muito chegado em cerimônias e salamaleques.
Há pessoas que não gostam do “Perdidos na Noite”, o que é seu direito. Alguns chegaram a nos observar, a propósito de palavrões ditos pelo apresentador ou por seus convidados. Nós estranhamos muito tais observações. Afinal, já está mais do que na hora das pessoas serem um pouco mais sinceras neste País e pararem de fazer o gênero de “boazinhas”. Quem nos fez estes reparos, por sinal, inconscientemente, arrematou-os com uma cabeluda palavra de baixo calão. Notaram a contradição?
O palavrão pode ser dito, mas em determinados ambientes e instantes. Pelo menos é o que depreendo do conceito dessas pessoas. Isto é, o homem precisa vestir inúmeras máscaras, na sua convivência cotidiana com os outros, de conformidade com o lugar em que estiver, sem poder ser ele mesmo, do jeito que realmente é, em todos os locais, e sempre. Para nós, uma atitude dúbia, como essa, tem outra definição (e específica)> hipocrisia.
Além de tudo, se alguma expressão mais picante é usada, o horário em que o programa vai ao ar garante que quem a ouve e quem assiste a essa programação televisiva é um adulto. Não se trata, portanto, de nenhum,a criancinha inocente em risco de ser corrompida. Se os programas de TV veiculados nesse horário forem bem observados, chegar-se-á à conclusão que eles mostram, em outros canais, coisas muito mais censuráveis do que expressões que todos conhecemos e, em maior ou menos quantidade, usamos no dia a dia.
Sexo barato, violência gratuita e desavergonhada lavagem cerebral cultural nos são lançados no rosto, sem nenhuma cerimônia, dentro de nossas casas, em filmes que não têm e nunca tiveram nada que preste a nos acrescentar. E as pessoas já ficaram tão calejadas com tais festivais de baixaria e maucaratismo, que sequer se dão conta que estão perdendo a sensibilidade e o senso crítico e que não se impressionam mais quando cenas de assaltos, assassinatos, agressões e violência sexual ocorrem ao seu redor, não na ficção, mas na vida real.
A mensagem que o programa de Fausto Silva nos passa, por outro lado, é a de descontração, de informalidade, de familiaridade, da brincadeira sadia, da camaradagem. Aquela mesma que conhecemos na juventude, no colégio, no clube e nos barzinhos, com aquela turminha que sempre acaba deixando uma saudade imensa quando se desfaz. Os cartazes mostrados no auditório, as observações brincalhonas feitas com o público e com os convidados, as piadinhas ditas para o telespectador, tudo isso tem um aspecto que nos é sumamente familiar. É algo humano, verdadeiro, extras-máquina, e não robotizado, artificial e enganador, como tantas outras coisas que nos tentam impingir seguidamente, por maneiras e veículos os mais variados.
Não foi por acaso que os críticos escolheram, e por unanimidade, Fausto Silva como o melhor apresentador de shows da TV do ano passado. E ele ganhou, entre outros, o “Troféu Imprensa”. Não somos nós, portanto, que nos empolgamos na sua apreciação. É o público que lhe faz justiça. Nós, apenas, fazemos parte da crescente legião de telespectadores que manifestam seu apreço pelo “Perdidos na Noite” e seu apresentador.
O Brasil inteiro, a partir do próximo sábado, terá ao seu dispor essa opção de lazer, essa chance para desopilar o fígado com o humor sadio e espontâneo de um comunicador que não precisa de artifícios para se comunicar. Verá, por exemplo, as broncas que sempre quis dar expressas com clareza e irreverência na telinha. E sem aquele tom dogmático e pedante, de tantos apresentadores, que se colocam na postura de oniscientes ou de árbitros do comportamento. Como sempre, continuarei fiel ao “Perdidos na Noite” e disso não abro e não abrirei mão. E estou certo que as pessoas de bom senso também não.
(Artigo publicado na coluna semanal “Vídeo”, na página 12, editoria de “Arte e Variedades” do Correio Popular, em 12 de abril de 1986).
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