Falta de opções
Pedro J. Bondaczuk
A Colômbia vive um clima de guerra civil, mas não por motivos ideológicos – embora ainda tenha guerrilhas esquerdistas atuando desde a década de 50 – porém em decorrência dos poderosos grupos de narcotraficantes, que acabaram por instituir verdadeiro Estado dentro do Estado.
Somente nos seis primeiros meses do corrente ano, de 1º de janeiro até segunda-feira, haviam sido cometidos 10.488 assassinatos atribuídos, em sua maioria, aos três grandes cartéis de cocaína: os de Medellín, Cali e do Caribe.
Isto significa que, hoje, na Colômbia, há um homicídio a cada 24 minutos, um seqüestro a cada sete horas e um atentado terrorista a cada 12. São números assustadores, não é mesmo? Terríveis até para um tempo em que a violência já se tornou rotina na vida dos cidadãos de todas as partes do mundo.
Está, portanto, mais do que na hora dos colombianos prestarem atenção a este fato. Autoridades e população precisam encarar a questão de forma pragmática, objetivando chegar às raízes do problema, que estão em uma sociedade sumamente injusta, em termos de distribuição de renda – como, ademais, ocorre em toda a América Latina, incluindo o Brasil – abrindo caminho para que pessoas se corrompam, até mesmo por questão de sobrevivência.
O grande perigo é o dessa gente humilde, sem perspectiva, em geral analfabeta, ver no corruptor (no caso, o narcotráfico) seu virtual salvador. O pior de tudo é que os poderosos e insensíveis barões da cocaína estão investindo no futuro (o mais correto seria afirmar “contra o futuro”), ao aliciar os jovens para sua nefasta atividade.
Fato revelador disso foi a proposta apresentada ao prefeito de Medellín, Omar Florez, por 200 pistoleiros ligados aos narcotraficantes, a da troca de um indulto pela suspensão de suas ações criminosas. A maioria dessas duas centenas de matadores profissionais (alguns com dezenas de mortes nas costas) está na faixa etária dos 13 aos 20 anos e quase todos são analfabetos.
Que triste e trágica situação! Por isso, estou plenamente de acordo com o presidente boliviano, Jaime Paz Zamora que, na reunião de cúpula da droga, realizada no balneário colombiano de Cartagena, em fevereiro passado, disse a George Bush que a produção de cocaína e o seu contrabando para os Estados Unidos e outros países do Primeiro Mundo somente serão contidos se forem adotadas duas providências: 1ª) Financiamento para as pessoas envolvidas nessa atividade poderem ter outra ocupação, honesta, que lhes garanta a sobrevivência. 2ª) Diminuição, senão a eliminação, da procura por narcóticos por viciados.
Enquanto isso não ocorre, a Colômbia passa por esse dantesco banho de sangue que assusta sua população e constrange as pessoas de boa-vontade, que sonham com um mundo melhor.
(Artigo publicado na página 17, Internacional, do Correio Popular, em 28 de junho de 1990)
Acompanhe-me pelo twitter: @bondaczuk
Pedro J. Bondaczuk
A Colômbia vive um clima de guerra civil, mas não por motivos ideológicos – embora ainda tenha guerrilhas esquerdistas atuando desde a década de 50 – porém em decorrência dos poderosos grupos de narcotraficantes, que acabaram por instituir verdadeiro Estado dentro do Estado.
Somente nos seis primeiros meses do corrente ano, de 1º de janeiro até segunda-feira, haviam sido cometidos 10.488 assassinatos atribuídos, em sua maioria, aos três grandes cartéis de cocaína: os de Medellín, Cali e do Caribe.
Isto significa que, hoje, na Colômbia, há um homicídio a cada 24 minutos, um seqüestro a cada sete horas e um atentado terrorista a cada 12. São números assustadores, não é mesmo? Terríveis até para um tempo em que a violência já se tornou rotina na vida dos cidadãos de todas as partes do mundo.
Está, portanto, mais do que na hora dos colombianos prestarem atenção a este fato. Autoridades e população precisam encarar a questão de forma pragmática, objetivando chegar às raízes do problema, que estão em uma sociedade sumamente injusta, em termos de distribuição de renda – como, ademais, ocorre em toda a América Latina, incluindo o Brasil – abrindo caminho para que pessoas se corrompam, até mesmo por questão de sobrevivência.
O grande perigo é o dessa gente humilde, sem perspectiva, em geral analfabeta, ver no corruptor (no caso, o narcotráfico) seu virtual salvador. O pior de tudo é que os poderosos e insensíveis barões da cocaína estão investindo no futuro (o mais correto seria afirmar “contra o futuro”), ao aliciar os jovens para sua nefasta atividade.
Fato revelador disso foi a proposta apresentada ao prefeito de Medellín, Omar Florez, por 200 pistoleiros ligados aos narcotraficantes, a da troca de um indulto pela suspensão de suas ações criminosas. A maioria dessas duas centenas de matadores profissionais (alguns com dezenas de mortes nas costas) está na faixa etária dos 13 aos 20 anos e quase todos são analfabetos.
Que triste e trágica situação! Por isso, estou plenamente de acordo com o presidente boliviano, Jaime Paz Zamora que, na reunião de cúpula da droga, realizada no balneário colombiano de Cartagena, em fevereiro passado, disse a George Bush que a produção de cocaína e o seu contrabando para os Estados Unidos e outros países do Primeiro Mundo somente serão contidos se forem adotadas duas providências: 1ª) Financiamento para as pessoas envolvidas nessa atividade poderem ter outra ocupação, honesta, que lhes garanta a sobrevivência. 2ª) Diminuição, senão a eliminação, da procura por narcóticos por viciados.
Enquanto isso não ocorre, a Colômbia passa por esse dantesco banho de sangue que assusta sua população e constrange as pessoas de boa-vontade, que sonham com um mundo melhor.
(Artigo publicado na página 17, Internacional, do Correio Popular, em 28 de junho de 1990)
Acompanhe-me pelo twitter: @bondaczuk
No comments:
Post a Comment