Thursday, April 12, 2012







Patrimônio desperdiçado

Pedro J. Bondaczuk


O Brasil possui as maiores reservas do Planeta de dois bens que serão sumamente escassos ainda neste milênio (na verdade, já são) e que, portanto, se tornarão bastante preciosos: água potável e madeira.


Todavia, em vez de preservar ambos, com vistas a uma posição vantajosa, internacionalmente, age-se em sentido inverso. Poluem-se mananciais, com mercúrio utilizado pelos garimpeiros e agrotóxicos usados sem controle ou critério nas fazendas. E desmata-se com uma fúria destrutiva desmedida, desperdiçando de maneira tola o que pode ser a redenção do País em curto espaço.


O princípio básico de economia, ensinado em qualquer curso superior, diz que só aquilo que é escasso é valioso. Este é o motivo do ouro ser tão procurado e o simples pedregulho não. O critério do valor de um e outro mineral é o da escassez. Quem tiver em abundância aquilo que os outros não possuírem, mas precisarem, certamente vai enriquecer. É um princípio lógico.


Mas até aqui, a questão da preservação das nossas florestas tem sido tratada com passionalismo e irresponsabilidade. Não se concebe que alguém possua determinada riqueza e no entanto viva na indigência. Só que há enorme diferença entre uso controlado e prudente e desperdício. E é isso o que o Brasil está fazendo com seus recursos naturais. Está sendo pródigo. Está desperdiçando.


Em uma tentativa de preservar esse patrimônio natural de valor inestimável, o então presidente Fernando Henrique Cardoso assinou, em julho de 1996, um pacote de preservação ambiental. Não sei se seus sucessores tomaram medidas semelhantes ou mais abrangentes. Acredito que não. Dias atrás foi aprovado novo Código Florestal que desagradou a “gregos e troianos”.


A questão sequer é a existência ou não de lei, mas de capacidade do Estado de fazer com que ela seja cumprida. E as dimensões continentais do País, aliadas à corrupção conhecida eufemisticamente como "jeitinho", dificultam uma fiscalização eficaz. Ou a punição dos infratores.


Desde 1994, é desmatada, na Amazônia, em média, uma área anual do tamanho do Burundi, na África: 14.896 quilômetros quadrados de madeira são retirados, sem reposição (ora mais, ora menos, mas sempre em torno disso). Com essa devastação, 11,8% da maior floresta tropical do mundo (e virtualmente a única que ainda restou, face às devastações na Ásia, notadamente na Malásia, Indonésia e Birmânia) já foram postos no chão.


Como porcentagem costuma ser ilusória, o entendimento fica mais fácil com comparações. Os 470 mil quilômetros de matas afetados são maiores do que o território da Alemanha unificada (356.957 quilômetros quadrados) e se aproxima da área da França (que é de 543.965 quilômetros quadrados).


E para onde vai essa madeira, da qual o chamado Primeiro Mundo é absolutamente carente? Exportada legalmente não é, já que todo esse volume não consta das pautas oficiais de exportação. É contrabandeada em boa parte. É, portanto, pilhada. E uma parcela vira fumaça, nas queimadas irresponsáveis e criminosas, que além de contribuírem para o desmatamento, calcinam a terra e enfraquecem sua fertilidade.


Os benefícios da Amazônia estão ao nosso dispor para uso e para ajudar a sanar nossa miséria. Mas não para desperdício. Mas não para favorecer contrabandistas. Mas não para a produção de desertos. É preciso que a questão preservacionista seja tratada sem retóricas demagógicas e sem ideologismos. Tem que ser encarada pelo aspecto econômico, ou seja, patrimonial. Afinal, economia é a administração da escassez. E água e madeira são cada vez mais escassas no mundo.

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