Tuesday, April 10, 2012







Protecionismo deteriora relações comerciais

Pedro J. Bondaczuk


O comércio internacional, como, a rigor, todos os tipos de relações entre países, nestes tempos azedos em que vivemos, tende a se complicar, diante de uma série de restrições e de comportamentos protecionistas praticados em várias partes do mundo.
Os principais prejudicados nessa história toda serão, mais uma vez, os endividados, que precisam fazer o máximo de saldo positivo, em suas respectivas balanças comerciais, para atenderem ao serviço asfixiante dos seus endividamentos externos.
Entre os que, certamente, terão que enfrentar tremendas batalhas, no próximo ano, para colocarem bem seus produtos, estaremos nós, brasileiros, transformados numa gigantesca ilha, cercados de riscos e de sobressaltos por todas as partes.
Os Estados Unidos, que pela sua condição de riqueza e prosperidade, são os maiores fregueses de todo o mundo, estão precisando exportar mais e importar menos, para reduzir seus monumentais déficits, que crescem sem parar.
O presidente Ronald Reagan, ardoroso defensor da liberdade comercial, vem sofrendo pressões de todos os lados para dotar medidas protecionistas contra os que se recusam a adquirir os caros e sofisticados produtos norte-americanos. Na maioria das vezes, tem conseguido resistir, heroicamente, a esse assédio, escudado no imenso prestígio que goza junto à população. Em outras, tem sido forçado a ceder, até porque precisa de apoio parlamentar no Congresso para conseguir aprovar algumas medidas controvertidas.
Num dos casos em que o presidente se deu por vencido foi o da criação de alguns impostos sobre produtos importados, que vão encarecer, por conseqüência, essas mordomias no mercado dos Estados Unidos, as tornando menos atrativas para o consumidor local.
O objetivo é financiar alguns programas internos, sem recorrer a pedidos de suplementação orçamentária, num momento em que os congressistas estão contando centavos, visando economizar onde puderem. Dessa maneira, o petróleo que os norte-americanos adquirirem passará a ser taxado, reduzindo os efeitos da débil recuperação de preços que essa matéria-prima experimentou nos últimos dias, após um ano inteiro de baixas.
Era mais do que evidente que os países atingidos pela medida teriam que gritar, como, de fato, estão gritando. Equador, Venezuela e México, cada um à sua maneira, prometem, inclusive, dar o troco a Tio Sam. Ou seja, taxar todas as importações oriundas dos Estados Unidos, deflagrando uma guerra comercial onde qualquer um pode saber, de antemão, quem será o perdedor.
O outro imposto criado foi o de 0,22% sobre o valor das mercadorias importadas, destinado a suplementar o orçamento do serviço aduaneiro norte-americano que, segundo a alegação do governo, teria ficado sobrecarregado com o aumento do serviço em face do crescimento das importações do país.
Aliás, pretextos para que um determinado presidente adote medidas protecionistas nunca faltaram, e jamais irão faltar. Ora tais restrições são adotadas como retaliação contra qualquer rusgazinha comercial, ora para rebater tentativa de dumping, ora para se contrapor a eventuais subsídios, e assim por diante.
O fato é que, somadas às tremendas tensões políticas que estão no ar, teremos, com certeza, uma duríssima batalha de comércio, em 1987, com resultados danosos para todos. Oportunamente, analisaremos porque.

(Artigo publicado na página 11, Internacional, do Correio Popular, em 30 de outubro de 1986)

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