Wednesday, April 18, 2012







Hipóteses, nada mais

Pedro J. Bondaczuk

Os maias – conforme tive a oportunidade de comprovar, com base em pesquisas – constituíram, no Novo Mundo, em vasto território que abrangia o sul do México e cinco países da América Central, um dos mais poderosos e progressistas impérios, por volta de 1.300 AC, quando a maior parte da humanidade mal ensaiava os primeiros passos para o que chamamos de “civilização”. Eram, por exemplo, exímios astrônomos. Criaram um dos mais perfeitos calendários. Elaboraram tabela de eclipses do sol e da lua que vai até o ano 3.000 da nossa era, rigorosamente exata, que não apresentou, até hoje, a mínima falha. Dominaram a matemática, fazendo intrincadíssimos cálculos que até hoje assombram nossos matemáticos.

Além das ciências, destacaram-se nas artes, com notáveis pintores e escultores. Sua arquitetura é assombrosa até para os padrões de hoje, imaginem o que era, então, naqueles tempos tão remotos! Contavam com eficiente organização social, com equilíbrio político e desenvolveram, até mesmo, curioso esporte, que nenhum outro povo tornou a praticar. Essas constatações todas aumentam o assombro dos historiadores, que buscam desvendar o mistério da razão que levou seu império a se acabar.

Os maias, lá um certo dia, simplesmente se dispersaram, com as populações de suas cidades as abandonando sem nenhuma explicação – embora haja inúmeras hipóteses – deixando tudo para trás. Fizeram um estranho e inusitado êxodo em massa (e é impossível de dizer se organizado ou não), para além do seu território, e se perderam nas brumas da história. Por que? O que aconteceu de tão grave que os obrigou a abrirem mão das suas conquistas?

A solução desse mistério, ao contrário do que muitos pensam, nos traz um problema prático e quiçá, até, uma necessidade premente. É possível que estejamos cometendo, hoje, e de forma sumamente ampliada, em âmbito planetário, nesta era dita de “globalização”, os mesmos erros que esse povo cometeu e não estejamos nos dando conta. Quem pode saber? O escritor norte-americano Gerald Horton Bath observou, em certa ocasião: “A História é como um teodolito. Se não o usarmos com bastante freqüência para olhar para trás e nos orientarmos, ela não nos adiantará muito para traçarmos uma linha reta à frente”.

Sem comprovações, podemos apenas conjeturar, o que, geralmente, finda por nos induzir a interpretações equivocadas dos fatos e a conclusões igualmente enganosas. É provável que um desses equívocos seja a suposta “profecia”, tão em voga por razões óbvias, atribuída aos maias, que teriam previsto o fim do mundo para o dia 21 de dezembro de 2012. Mas previram mesmo? O que escreveram foi interpretado como deveria? Não há nisso tudo imensa carga de fantasia? Duvido! Esse caso traz-me à memória uma citação de Jean de La Bruyére, que afirmou: “Quase sempre a verdade é exatamente o contrário daquilo que se crê”. Isto vale tanto em relação ao cosmos quanto às manifestações da natureza ou aos fatos históricos.

Os historiadores trabalham com seis hipóteses principais para tentar explicar a desagregação do império maia. A primeira é a que levanta a possibilidade de haver ocorrido devastadora epidemia na Península de Iucatã, dizimando parte considerável da população. Os sobreviventes, em pânico, teria fugido da região. Enfraquecidos com as mortes em massa, os maias não teriam conseguido se reorganizar em outras áreas.

A segunda hipótese é a de ter ocorrido algum cataclismo natural, Poderia ser, por exemplo, devastador terremoto muito comum no México e na América Central. Ou então, o território pode ter sido assolado por inusitado furacão, já que a área é muito propensa a esse tipo de calamidade climática. Todavia, essa suposição “cataclísmica” perde um pouco de força, quando se sabe que cidades inteiras foram (e continuam sendo) descobertas, praticamente intactas, sem qualquer sinal de destruição, embora cobertas por densa vegetação.

A terceira hipótese é a de que os maias, após séculos de paz, teriam violado as próprias tradições de tolerância e o império ter sido assolado por prolongada e selvagem guerra civil, uma revolta generalizada contra o governo dos sacerdotes. Um conflito dessa natureza, e dessa envergadura, no entanto, certamente deixaria vestígios de destruição, o que não há nenhum.

A quarta hipótese refere-se a uma possível superpopulação. Em vista disso, e da dificuldade de alimentar tantas pessoas, muitos clãs teriam optado por emigrar. Mas se isso tivesse ocorrido, seria sumamente improvável, praticamente impossível, que “todos” tivessem a mesma idéia e deixassem, simultaneamente, a Península de Iucatã, que ficou virtualmente deserta.

Restam duas outras hipóteses a considerar. No meu entender, são as mais plausíveis. Podem ter ocorrido isoladamente ou de forma simultânea. Uma diz respeito ao “cansaço” do solo. Os maias plantavam, praticamente, uma única cultura. Com o correr do tempo, sem a reposição, na terra, dos nutrientes que as plantas absorvem a cada safra, ela vai cansando, se tornando cada vez mais improdutiva. As colheitas passam a ser menores, de ano para ano, até que a ausência de rotação de culturas, associada à erosão, finda por desertificar extensas áreas, outrora férteis.

A sexta e última hipótese é a da possibilidade de brusca mudança climática, algum súbito resfriamento, ou severa e prolongada mudança no ciclo de chuvas na região. Transferir todo um populoso império, de um território para outro, ou seja, convencer todo um povo a recomeçar a vida em outro lugar, é tarefa de titãs. É impraticável e, ouso dizer, impossível. Isso pode ter determinado a falência irrecuperável não somente de um poderoso império, mas, e principalmente, de uma das culturas mais vigorosas, extraordinárias e promissoras que já surgiram no Planeta. No entanto... Não temos explicações, só hipóteses.

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