Friday, April 20, 2012







O que governa o mundo

Pedro J. Bondaczuk


As idéias governam o mundo”. Essa declaração, simples, direta, objetiva e sem evasivas, foi dada por Francis Bacon, político, filósofo e ensaísta inglês do século XIV, em um de seus tantos e lúcidos ensaios. Claro que não se limitou isso. Posteriormente, teceu um sem número de considerações sobre o tema que, por si só, sem nenhum acréscimo ou comentário suplementar, já se presta, a caráter, para reflexões. Convido-os a refletirem a propósito comigo.

De imediato, certamente emergirá a pergunta: “Por que o mundo é e sempre foi tão errado se sempre foi governado por idéias?”, indagará o atento leitor, não raro em tom de desafio. E o questionamento procede. Tanto que também o repito a mim mesmo, praticamente todos os dias, por um bilhão de vezes ou mais. Mas, da minha parte indago: “O melhor, então, seria não idealizar nada? Seria agir sempre movido exclusivamente pelos instintos?” Claro que não.

Ocorre que as idéias por si sós não garantem perfeição, felicidade e harmonia e nem mesmo indicam um caminho infalível para elas. Muitas (e põe muitas nisso), são equivocadas, capciosas, injustas, mal intencionadas e, portanto, nocivas. E, no entanto... “também” governam o mundo. Aliás, temo que estas sejam a maioria.

Há idéias e idéias. Para que sejam positivas, úteis e corretas têm que ser submetidas permanentemente a meticulosas análises. Temos que dialogar a seu respeito, principalmente com quem se opõe a elas. Afinal, sempre há o risco delas serem inadequadas, incorretas e viciosas e de sequer percebermos isso, por as termos abraçado a priori, sem reflexão ou discussão. Se não forem criticáveis e até substituíveis, quando for o caso, correm o risco de se transformarem em dogmas. E estes, quando fundamentados em princípios errados, tendem a perpetuar equívocos (e de fato perpetuam), tornando-os incorrigíveis.

Quando desconhecermos algum ponto de determinada idéia, não importa qual, temos que ter o bom senso de admitir esse desconhecimento. Não se trata de humildade, mas de princípio básico de sabedoria. Confúcio recomendou a respeito: “Quando não sabes uma coisa, o reconhecimento de que não a sabes é saber”.

Convenhamos, nem todos agem assim. Ou melhor, nem sempre “temos” essa lúcida atitude. Aliás, nosso orgulho e espírito de competição fazem com que dificilmente (e não raro nunca) assumamos essa sapiente postura. Mostrar ignorância sobre o que quer que seja? Admitir que não sabemos alguma coisa? E ainda mais em público? Nem pensar! Esse é, salvo exceções, nosso comportamento padrão. Quem perde, evidentemente, com essa tola intransigência, somos nós. Perdemos preciosa oportunidade de aprender algo útil e, sobretudo, correto.

Diante disso, não há como deixar de dar razão ao filósofo estóico grego Epicteto quando sentenciou: “Para que o homem fosse perfeito, seria bastante lhe tirar duas coisas: a presunção e a desconfiança”. Convenhamos, os defeitos humanos não se limitam a apenas esses dois (antes se limitassem!). Mas se ambos fossem extirpados, a humanidade já teria um avanço imenso em termos de relacionamento.

São incontáveis os males causados por essas duas atitudes. Ambas estão na raiz de um comportamento ainda pior, que já causou, está causando e dificilmente deixará de causar inúmeras desgraças tempo e mundo afora: o preconceito. E não importa de que natureza ele é, se de raça, de cor, de gênero, de religião etc.etc.etc. Incontáveis carnificinas foram ditadas por ele. E o interessante é que, quem nega mais enfaticamente que o tenha, na prática, na maioria das vezes, acaba se revelando o maior dos preconceituosos.

Apesar de haver tantas e tantas e tantas idéias distorcidas, viciosas e nocivas, algumas passivas de correção e outras tantas simplesmente descartáveis, seria uma tragédia se o mundo fosse governado “apenas” pelos instintos. Como animais que somos, todos os temos. E eles são úteis e até essenciais para a sobrevivência, mas só se os controlarmos adequadamente pelo uso da razão. Ou seja, mediante idéias que distingam, com clareza e exatidão, o bem do mal, o evitável e do desejável, o factível do impossível.

Mas é mister que o mundo seja governado por idéias. Pelas positivas, reitero, Por aquelas passivas de correção quando a prática lhes apontar falhas. E todas, absolutamente todas, por mais perfeitas que nos pareçam, devem estar sob permanente análise, sob ininterrupto questionamento, sob contínuas melhorias, sob sábio e sincero julgamento, para não virem a se esclerosar e se transformar em odiosos dogmas.

Entre milhões de espécies de seres vivos, animais e vegetais, só o homem, exclusivamente ele, foi dotado de inteligência. Ou seja, da capacidade de entender o que é, o que faz, o que quer, o que é bom, o que é mau e tudo o que o cerca.

Só o homem pode conceber uma idéia. Só ele pode escolher seu caminho. Se a escolha for correta e adequada, viverá com alegria e harmonia. Se equivocada... está consciente de que terá um preço a pagar. E invariavelmente paga.

Li, recentemente, uma declaração de famoso político norte-americano, Everett M. Dirksen (falecido em 1969), que praticamente resume tudo o que escrevi. Diz: “Num mundo de maravilhas e realizações científicas, nenhum átomo, com toda sua força para destruir, pode conceber uma idéia, construir uma estrutura, nutrir compaixão, ou caridade, ou esperança. Só ao homem foi concedido esse dom de inteligência, dignidade e divindade”.

Exerçamo-lo, pois, com responsabilidade e coragem. Que as idéias, as positivas e construtivas, continuem governando o mundo. E as negativas, distorcidas e maldosas, como agir em relação a elas? Bem, vocês sabem o que se deve fazer com elas. Façam!

Acompanhe-me pelo twitter: @bondaczuk

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