Tuesday, April 17, 2012







Questão para ser refletida


Pedro J. Bondaczuk


O projeto de lei, apresentado na Câmara Municipal de Campinas, versando sobre o horário de funcionamento das lojas do Shopping Center Iguatemi, despertou acaloradas discussões durante a semana, não somente no Legislativo, mas em vários setores da comunidade.

Na quinta-feira, inclusive, a questão chegou a descambar para a violência, numa praça da cidade, quando os partidários da tese de que o comércio naquele local deve fechar suas portas, aos sábados, às 18 horas, e os que querem que as coisas fiquem como estão, se confrontaram. Esta, porém, não é, evidentemente, a melhor forma da controvérsia vir a ser solucionada.

Nos últimos dias, foi apresentada uma fórmula de conciliação, uma espécie de meio-termo. Ou seja, por ela, as lojas não fechariam nem às 18 e nem às 22 horas, mas às 20 horas. Em princípio, com todo o respeito que os nobres vereadores merecem de nossa parte, achamos que esse tema é muito delicado, requer muita análise, para ser apresentado em caráter de urgência.

O assunto já foi debatido em pelo menos duas oportunidades anteriores, pelo Legislativo passado, tarimbado e experiente, sem que se chegasse a uma conclusão. No nosso entender, os edis eleitos em 15 de novembro de 1988 (quase todos, à exceção de dois, “marinheiros de primeira viagem”), deveriam deixar esse sensível problema para mais tarde, quando já tivessem uma experiência maior das lides parlamentares.

Particularmente, somos favoráveis à manutenção do atual horário do shopping, com toda a razão que possam eventualmente ter os comerciários. Afinal, se a jornada dos funcionários não vem sendo respeitada pelos lojistas, conforme acusam alguns, essa é uma questão para os fiscais do trabalho.

Não é justo que a população toda, que tem nessa flexibilidade de funcionamento das lojas aos sábados uma facilidade para efetuar as compras que não pode fazer durante a semana, em virtude de suas atividades profissionais, seja prejudicada.

Aliás, jornada noturna não são apenas os empregados que atuam no shopping que exercem. Garçons, balconistas, atendentes de farmácias, pessoal hoteleiro, etc., também trabalham à noite, e não se queixam. Quando são contratados, sabem, de antemão, para o que estão sendo.

Outro aspecto a considerar seria o prejuízo que lanchonetes, pizzarias e choperias existentes naquela região iriam ter com o fechamento do comércio ali às 18 horas. Esses estabelecimentos têm o grosso do seu faturamento exatamente em função da freqüência ao shopping. A mudança de horário poderia redundar na dispensa de empregados que atuam neles. Ou seja, equivaleria a “tapar o sol com a peneira”.

É mister que o caso seja, portanto, tratado não como uma questão político partidária. E nem com a urgência que se pretende dar a ela. Ao invés de se alterar, pois, agora, o horário de funcionamento, por que não se promove um diálogo franco, sincero e aberto entre as partes, para se conciliar os interesses?

Não existe, por enquanto, nada melhor do que uma boa conversa para a resolução de pendências. Pelo menos, esta é a forma mais democrática e civilizada de se chegar a um entendimento, sem que fiquem para trás mágoas e ressentimentos. Portanto, seria oportuno que os lados envolvidos refletissem melhor sobre essa questão antes de tomarem qualquer decisão.

(Artigo publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 5 de março de 1989).

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