Sunday, April 29, 2012

Promessas perigosas

Pedro J. Bondaczuk



O ano que recém-iniciamos se reveste de uma importância toda especial para os brasileiros, às voltas com uma crise que parece não ter mais fim. Além de marcar a solução dos problemas pendentes em 1993 – como a cassação ou não dos mandatos dos sete “anões” do Orçamento e de seus cúmplices, que ajudaram a furtar os cofres públicos, a serviço das grandes empreiteiras e dos ajustes que se espera sejam feitos na Constituição durante a revisão constitucional – os eleitores terão uma preciosa chance de se redimir da péssima escolha feita nas últimas eleições presidenciais, quando se deixaram levar pelos discursos e jogo de cena de Fernando Collor.

É desnecessário repetir no que deu esse voto dado apenas emocionalmente, sem maiores análises, erro ditado pela vã esperança do surgimento de um “salvador da Pátria”, que livrasse o País da corrupção, da inflação e da miséria. É preciso que os brasileiros se conscientizem que não há milagres. O que existe é trabalho, honestidade, planejamento e, sobretudo, competência. O caminho do sacrifício, da dedicação e da solidariedade é o único que une pessoas fracas e as transforma em forças poderosas e irresistíveis, que forjam nações com destino de potências.

Países que precisam de “salvadores da Pátria” não merecem ser salvos. Estão mortos. Todos sabemos no que deu nosso último “milagre”. Portanto, o eleitor deve ficar mais atento do que nunca nos programas a serem expostos pelos candidatos para a sua análise. Não temos mais o direito de errar.

Em termos econômicos, o País tem à sua frente dois caminhos absolutamente distintos. No primeiro caso, o plano exposto recentemente pelo ministro da Fazenda, Fernando Henrique Cardoso, finalmente obtém êxito e a inflação é controlada. Caso isso ocorra, certamente os capitais externos, de que tanto necessitamos para promover nosso desenvolvimento, afluirão para reabilitar nossa economia e possibilitar novos investimentos, geradores de empregos e, portanto, da ampliação do mercado interno e de geração de riquezas.

No cenário oposto está a perda de controle sobre a inflação, com as taxas galgando, sucessivamente, patamares mais altos, até que a nossa atual superinflação se transforme numa hiper. Este quadro trágico seria desastroso em todos os sentidos, ampliando, em muito, o contingente de 32 milhões de famintos e de outros tantos de sem-teto que perambulam sem destino e sem esperança pelas ruas das grandes cidades.

O desespero gerado por eventual agravamento da crise pode levar o País ao caos social – em cuja vizinhança já se encontra – colocando em risco não apenas a ordem pública, mas as instituições e a própria democracia, reconquistada às duras penas.

Num terreno mais ameno, 1994 é ano de Copa do Mundo, igualmente com dois cenários diametralmente opostos pela frente, na dependência da ação inteligente ou não dos nossos “cartolas”. Futebol o Brasil já mostrou de sobejo que tem para dar e vender. Com um pouquinho que seja de organização por parte da CBF e com uma convocação honesta e, sobretudo, competente, por parte da comissão técnica, o caneco virá para cá pela quartas vez. Caso contrário, será mais uma frustração a amargar.

Como se percebe, em política, economia, esporte ou em qualquer outra atividade, o êxito ou o fracasso estão na dependência exclusiva da nossa ação, autodisciplina e competência. Não há destinos pré-traçados ou determinismos inexoráveis. A única coisa de que não podemos escapar jamais é da morte, cuja chegada, felizmente, não podemos nunca prever. No mais, tudo está em nossas mãos, aguardando que construamos o nosso sucesso como formiguinhas, passo-a-passo, dia-a-dia, com dedicação e constância.


(Artigo publicado na página 2, Opinião, da Folha do Taquaral, em janeiro de 1994)

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