Superprodução digna de Hollywood
Pedro J. Bondaczuk
A Rede Manchete lança-se, de vez, na produção de novelas e começa logo com um projeto dos mais arrojados, cujas primeiras cenas vão ao ar nesta segunda-feira, às 21h20. Trata-se de “Dona Beija”, figura essencialmente brasileira que, como a Marquesa de Santos (de quem foi contemporânea), traz em torno de si uma aura de mistério, de fascínio e até de um certo “pecado”.
O leitor talvez se lembre dessa personagem, pois a sua vida foi praticamente narrada na Rede Globo em 1975 no programa que a emissora possuía na época, apresentado aos domingos por Paulo Gracindo e Sílvia Bandeira. Chamava-se “Oito ou Oitocentos” e tinha o mesmo estilo do velho e bem sucedido “O céu é o limite”, comandado com tanto brilhantismo por J. Silvestre na extinta TV Tupi. Ou seja, pessoas especializadas em determinados assuntos respondiam sobre eles, disputando certas somas de dinheiro por programa. E não podiam errar nenhuma questão, pois se o fizessem, seriam eliminadas. O prêmio mínimo era de Cr$ 8 mil e o máximo de Cr$ 800 mil (na época uma importância capaz de virar a cabeça de qualquer um).
Quem respondeu sobre “Dona Beija” foi o conhecido costureiro, e hoje homem de televisão, Clodovil. Aliás, na oportunidade, ele conseguiu ir até o final sem errar nenhuma questão, conquistando uma pequena fortuna. Pois é essa mesma personagem, orgulhosa, bela, inteligente, sedutora, audaciosa, perspicaz e que além de tudo possuía um elevado senso de humor, que vai ser mostrada, numa superprodução de mais de USD$ 1,5 milhão, em 77 capítulos, pela Rede Manchete.
Não há como negar que é um ato de coragem da caçula das emissoras e um cumprimento pleno do compromisso de qualidade que a sua direção assumiu quando de sua criação. Competir com a Rede Globo, em qualquer área que seja, já é uma temeridade. O que dizer, então, no gênero novela? Essa pode ser a colocação de algumas pessoas.
Acontece que, bafejada, até, pela sorte, essa concorrência será numa outra faixa de programação. Em virtude da história apresentar cenas fortes e bastante realistas de sedução, de mortes violentas e os habituais banhos de cachoeira da personagem (evidentemente, com a nudez com que veio ao mundo), a Censura liberou a sua exibição apenas para o horário das 21h20. Exatamente aquele em que a Globo apresenta seus humorísticos. E nessa faixa, somos muito mais a Manchete.
Perceba o leitor o esforço feito pela emissora para que nós pudéssemos conhecer melhor aquela que foi chamada de “Feiticeira de Araxá”. Primeiro, teve que construir uma autêntica Hollywood em pleno Rio de Janeiro, no distrito de Santa Cruz. Ali ergueu virtual “cidade dos sonhos”, do tamanho de dez campos de futebol,. Para a filmagem das cenas internas, montou 42 cenários diferentes, com pátios, varandas, salas, interiores, tudo exatamente como no período oitocentista, em seus estúdios na Água Grande, construídos num terreno de oito mil metros quadrados.
Mas o investimento maior foi em pessoal. E não somente no elenco, reconhecidamente um dos melhores do Brasil, todo ele composto por atores e atrizes com no mínimo dez novelas de projeção em seus currículos. Também em técnicos, figurinistas e demais profissionais de bastidores, que garantem, em última análise, o sucesso de qualquer empreendimento.
Só de figurantes, o número supera os 300, ou seja, a população de muitas vilas por este interior brasileiro afora. Essa gente toda precisa ser muito bem dirigida para acertar. Não é fácil você comandar uma multidão dessas, sem nenhuma experiência com câmeras. Além de tudo, o elenco central, tendo como estrela uma maravilhosa conterrânea, Maitê Proença, é composto por 64 artistas. Nele estão nomes como os de Edwin Luisi, Bia Seidl, Gracindo Jr., Carlos Alberto, Sérgio Britto, Renato Borghi, Marcelo Picchi, Arlete Salles, Sérgio Mamberti, Mário Cardoso, Antonio Pitanga, Jonas Melo, Maria Isabel de Lisandra e outros, muitos outros já consagrados nos palcos e nas telas de todo o País.
É por isso que a Manchete entregou a direção a um veterano, com 33 anos de profissão no Brasil e no Chile. Trata-se de Herval Rossano, que já dirigiu 21 novelas, das quais oito foram comercializadas no Exterior e exibidas numa infinidade de países. Além dessa experiência dirigindo, ele sabe o que se passa com os atores. Afinal, jás atuou nessa função em diversas oportunidades, inclusive em papéis principais.
Como se vê, a emissora pensou em tudo. Desde o texto, cuja versão final é do talentoso Wilson Aguiar Filho, aos cenários e figurinos de época, que ficaram por conta do até legendário Arlindo Rodrigues, conhecido principalmente no mundo do Carnaval, por seu um dos “papas” das escolas de samba cariocas.
Por esse breve resumo que fizemos acima, o leitor pode perceber que quando classificamos “Dona Beija” como sendo uma superprodução, não exageramos. É verdade que investimentos desse porte já foram feitos, e com sucesso, pela Globo. Foram os casos de “O Tempo e o Vento” e “Grande Sertão, Veredas”. Mas esses dois trabalhos televisivos eram minisséries. Tinham menor quantidade de capítulos para gravar.
Em novela, não há dúvida, a Manchete parte na frente, com todo o pioneirismo dos que sabem ousar e que, mais cedo ou mais tarde, só podem colher sucessos. É uma questão de lógica. E de bom gosto do telespectador que, afinal de contas, sabe dar o devido valor àquilo que é realmente bom.
(Comentário publicado na página 19, editoria de Arte e Variedades do Correio Popular, em 28 de março de 1986).
Acompanhe-me pelo twitter: @bondaczuk
Pedro J. Bondaczuk
A Rede Manchete lança-se, de vez, na produção de novelas e começa logo com um projeto dos mais arrojados, cujas primeiras cenas vão ao ar nesta segunda-feira, às 21h20. Trata-se de “Dona Beija”, figura essencialmente brasileira que, como a Marquesa de Santos (de quem foi contemporânea), traz em torno de si uma aura de mistério, de fascínio e até de um certo “pecado”.
O leitor talvez se lembre dessa personagem, pois a sua vida foi praticamente narrada na Rede Globo em 1975 no programa que a emissora possuía na época, apresentado aos domingos por Paulo Gracindo e Sílvia Bandeira. Chamava-se “Oito ou Oitocentos” e tinha o mesmo estilo do velho e bem sucedido “O céu é o limite”, comandado com tanto brilhantismo por J. Silvestre na extinta TV Tupi. Ou seja, pessoas especializadas em determinados assuntos respondiam sobre eles, disputando certas somas de dinheiro por programa. E não podiam errar nenhuma questão, pois se o fizessem, seriam eliminadas. O prêmio mínimo era de Cr$ 8 mil e o máximo de Cr$ 800 mil (na época uma importância capaz de virar a cabeça de qualquer um).
Quem respondeu sobre “Dona Beija” foi o conhecido costureiro, e hoje homem de televisão, Clodovil. Aliás, na oportunidade, ele conseguiu ir até o final sem errar nenhuma questão, conquistando uma pequena fortuna. Pois é essa mesma personagem, orgulhosa, bela, inteligente, sedutora, audaciosa, perspicaz e que além de tudo possuía um elevado senso de humor, que vai ser mostrada, numa superprodução de mais de USD$ 1,5 milhão, em 77 capítulos, pela Rede Manchete.
Não há como negar que é um ato de coragem da caçula das emissoras e um cumprimento pleno do compromisso de qualidade que a sua direção assumiu quando de sua criação. Competir com a Rede Globo, em qualquer área que seja, já é uma temeridade. O que dizer, então, no gênero novela? Essa pode ser a colocação de algumas pessoas.
Acontece que, bafejada, até, pela sorte, essa concorrência será numa outra faixa de programação. Em virtude da história apresentar cenas fortes e bastante realistas de sedução, de mortes violentas e os habituais banhos de cachoeira da personagem (evidentemente, com a nudez com que veio ao mundo), a Censura liberou a sua exibição apenas para o horário das 21h20. Exatamente aquele em que a Globo apresenta seus humorísticos. E nessa faixa, somos muito mais a Manchete.
Perceba o leitor o esforço feito pela emissora para que nós pudéssemos conhecer melhor aquela que foi chamada de “Feiticeira de Araxá”. Primeiro, teve que construir uma autêntica Hollywood em pleno Rio de Janeiro, no distrito de Santa Cruz. Ali ergueu virtual “cidade dos sonhos”, do tamanho de dez campos de futebol,. Para a filmagem das cenas internas, montou 42 cenários diferentes, com pátios, varandas, salas, interiores, tudo exatamente como no período oitocentista, em seus estúdios na Água Grande, construídos num terreno de oito mil metros quadrados.
Mas o investimento maior foi em pessoal. E não somente no elenco, reconhecidamente um dos melhores do Brasil, todo ele composto por atores e atrizes com no mínimo dez novelas de projeção em seus currículos. Também em técnicos, figurinistas e demais profissionais de bastidores, que garantem, em última análise, o sucesso de qualquer empreendimento.
Só de figurantes, o número supera os 300, ou seja, a população de muitas vilas por este interior brasileiro afora. Essa gente toda precisa ser muito bem dirigida para acertar. Não é fácil você comandar uma multidão dessas, sem nenhuma experiência com câmeras. Além de tudo, o elenco central, tendo como estrela uma maravilhosa conterrânea, Maitê Proença, é composto por 64 artistas. Nele estão nomes como os de Edwin Luisi, Bia Seidl, Gracindo Jr., Carlos Alberto, Sérgio Britto, Renato Borghi, Marcelo Picchi, Arlete Salles, Sérgio Mamberti, Mário Cardoso, Antonio Pitanga, Jonas Melo, Maria Isabel de Lisandra e outros, muitos outros já consagrados nos palcos e nas telas de todo o País.
É por isso que a Manchete entregou a direção a um veterano, com 33 anos de profissão no Brasil e no Chile. Trata-se de Herval Rossano, que já dirigiu 21 novelas, das quais oito foram comercializadas no Exterior e exibidas numa infinidade de países. Além dessa experiência dirigindo, ele sabe o que se passa com os atores. Afinal, jás atuou nessa função em diversas oportunidades, inclusive em papéis principais.
Como se vê, a emissora pensou em tudo. Desde o texto, cuja versão final é do talentoso Wilson Aguiar Filho, aos cenários e figurinos de época, que ficaram por conta do até legendário Arlindo Rodrigues, conhecido principalmente no mundo do Carnaval, por seu um dos “papas” das escolas de samba cariocas.
Por esse breve resumo que fizemos acima, o leitor pode perceber que quando classificamos “Dona Beija” como sendo uma superprodução, não exageramos. É verdade que investimentos desse porte já foram feitos, e com sucesso, pela Globo. Foram os casos de “O Tempo e o Vento” e “Grande Sertão, Veredas”. Mas esses dois trabalhos televisivos eram minisséries. Tinham menor quantidade de capítulos para gravar.
Em novela, não há dúvida, a Manchete parte na frente, com todo o pioneirismo dos que sabem ousar e que, mais cedo ou mais tarde, só podem colher sucessos. É uma questão de lógica. E de bom gosto do telespectador que, afinal de contas, sabe dar o devido valor àquilo que é realmente bom.
(Comentário publicado na página 19, editoria de Arte e Variedades do Correio Popular, em 28 de março de 1986).
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