Pedro J. Bondaczuk
O ano de 1987 pode não ter sido bom para muita gente, mas se há alguém que não pode se queixar dele, é o presidente costarriquenho, o jovem economista Oscar Arias Sanchez. Com muita justiça, foi alvo de inúmeras homenagens, das quais a mais expressiva foi a conquista do Prêmio Nobel da Paz.
Nos pronunciamentos públicos que fez, após a obtenção da láurea, demonstrou, acima de tudo, que se trata de um idealista. Sanchez comprovou que é um homem que acredita na própria capacidade e nas outras pessoas. Mas mostrou, também, que não é desses sujeitos alienados, que enxergam o mundo cor-de-rosa, quando tudo se mostra, na verdade, cinzento. Tem os pés no chão, com plena consciência das suas limitações.
Sublime foi o discurso que o presidente costarriquenho pronunciou em Oslo, na cerimônia de entrega do Nobel. Foi um pronunciamento, sobretudo, lúcido. Teve a coragem, mesmo sendo procedente de uma área do mundo tida e havida como colônia das grandes potências, de apontar, com destemor, o dedo acusador para os poderosos e de exigir que deixem a América Central em paz.
Apelou-lhes que não façam dessa região arena das suas disputas ideológicas, que não passam, na verdade, de intermináveis arengas sobre conceitos que eles próprios não crêem. E Arias tem moral para falar de paz. Está escudado, acima de tudo, na tradição do seu país.
A Costa Rica teve a suprema coragem, num continente marcado pelo caudilhismo e por “gloriosas revoluções salvadoras”, de extinguir, em 1949, suas Forças Armadas. Pode haver maior manifestação de confiança nos vizinhos do que esta?
Sintomaticamente, desde que isso aconteceu, a democracia jamais foi suprimida em solo costarriquenho. O país não teve um único golpe de Estado e nem mesmo ameaça nesse sentido. Claro que esse país não é nenhum paraíso terrestre, perdido nas selvas centro-americanas. Tem problemas, e grandes, como todos os povos abaixo do Rio Grande (o norte-americano, é evidente).
Conflitos e tensões surgem a toda a hora em sua sociedade, como ocorre em qualquer lugar. Mas seus políticos têm jogo de cintura para negociar, ceder e conciliar. E jamais os costarriquenhos tiveram que lançar mão de expedientes violentos e atrabiliários para fazer valer seus direitos e/ou opiniões.
Por isso, nada mais justo que Oscar Arias Sanchez seja escolhido a personalidade do ano na América Latina. E em âmbito mundial, não tenham dúvidas, merece figurar em posição de bastante destaque entre os dez homens que mais contribuíram para a paz em 1987.
Seu aparecimento no cenário global é uma mensagem de fé e de esperança para outros povos latino-americanos, descrentes de seus políticos e enojados com messianismos e arroubos demagógicos dos que os representam e lideram. Há, como se vê, pessoas de valor entre nós! Basta, somente, que as saibamos enxergar!
(Artigo publicado na página 10, Internacional, do Correio Popular, em 30 de dezembro de 1987).
Acompanhe-me pelo twitter: @bondaczuk
No comments:
Post a Comment