Orgia de sons
Pedro J. Bondaczuk
Flutua no ar uma canção estranha,
bárbara e viril, mas terna: paradoxo.
O pensamento passeia, vagabundo, entre as estrelas
e o corpo, frágil corpo, padece na luta renhida.
Navio fantasma singra ignotos mares,
raios, trovões, tempestades pavorosas.
Cantos de sereias provocantes e letais,
Ulisses a lutar com humanos instintos.
Nave estelar volteia insólito planeta,
além de Sirius, Canopus ou Aldebarã,
calor intenso de bilhões e bilhões de graus,
nave que suporta mil sóis.
Perplexidade de sonhos, de fantasias,
pensamento mais veloz do que a luz
abarca imensidões inconcebíveis
imune a hecatombes galácticas, universais.
Noite, noite escura, noite eterna
salpicada de infindáveis focos de luz.
Treva, o universo é treva, sem princípio ou fim,
infinitésimo de segundo de brilho fugaz.
Estrondos mega-sônicos, horrendos.
Explosão de estrelas, constelações, galáxias.
O universo é povoado por orgia de sons...
Flutua no ar uma estranha canção...
(Poema composto em São Caetano do Sul, em 28 de janeiro de 1964).
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