Sunday, April 29, 2012

Genialidade dissecada

Pedro J. Bondaczuk



O gênio já nasce superdotado de inteligência ou a genialidade pode ser desenvolvida, de acordo com a educação, o treinamento e várias outras circunstâncias favoráveis ao desenvolvimento de uma capacidade superior, acima da média? Esta é uma discussão quase que interminável, com argumentos prós e contras a ambas as teses e todos bem fundamentados. Entendo que, como sempre, a verdade está no meio.



Creio que haja algumas características genéticas que, se devidamente desenvolvidas e estimuladas, produzem a emersão da genialidade. Acredito, porém, que nem todos que tenham esse potencial se tornem gênios. Não creio que manifestem, por si sós, habilidades mentais muitíssimo acima da média e, principalmente, direcionem essa inteligência superior para produzir obras marcantes e únicas. Claro que não sou especialista na matéria. Opino, apenas, com base em observações pessoais e naquilo que ouço e que leio. Posso estar enganado? Claro que sim. Aliás, um eventual equívoco meu, sobretudo numa questão tão complexa e polêmica, não seria nenhuma novidade. Longe disso.



Há quem ache, por exemplo, que os bem-dotados, considerados gênios, contam com algum fator biológico especial. Mas qual ele seria, caso seja isso, realmente, o que determina sua superioridade de inteligência? O tamanho do cérebro teria alguma influência? Em caso positivo, em que medida? Quais os fatores que determinaram a genialidade, por exemplo, de um Albert Einstein, de um Beethoven, de um Salvador Dali ou de um Linus Pauling, entre tantos outros, em suas respectivas atividades? E, afinal, o que vem a ser inteligência?



Sei que já tratei desse assunto, aqui mesmo, neste espaço, e naquela oportunidade cheguei a conclusão semelhante da convicção que nutro atualmente. A de que, mesmo as pessoas que tenham capacidade de inteligência, digamos, “normal”, naquilo que se considera a média da maioria das pessoas bem sucedidas em suas atividades, se contarem com circunstâncias favoráveis e receberem os estímulos adequados, “podem” (e notem bem o verbo que utilizei, que define apenas uma possibilidade e não uma certeza) manifestar genialidade.



Constatei, recentemente, que não estou sozinho nesta minha opinião. Tenho companhia, aliás das mais ilustres. Refiro-me ao jornalista norte-americano David Shenck. Seu mais recente livro lançado no Brasil em 2011 pela Zahar Editora trata exatamente disso. Ele sugere aquilo em que acredito já a partir do título da obra, “O gênio em todos nós”. Pode vibrar, portanto, caro leitor. Você tem potencial para a genialidade. Claro que ela, certamente, não irá se manifestar automaticamente, num passe de mágica. Isso é tão raro que se pode, até, afirmar, que não existe. Ou quase não existe.



Se você quer ser gênio, precisa desenvolver seu potencial. Precisa criar estímulos adequados e, sobretudo, persistir, num constante treinamento mental que, entre tantas coisas, requer férrea autodisciplina. Se você tiver essa capacidade, já andou meio caminho. Persista, não desanime, crie novos interesses, desenvolva novos estímulos mentais e... Talvez (note bem, digo “talvez”) chegue ao objetivo que tanto persegue.



Mas, ao contrário do que muitos abalizados pesquisadores afirmam, ninguém nasce genial. Torna-se assim. Como, ademais, também ninguém vem ao mundo dotado de férrea e inabalável imbecilidade, de renitente cretinice. Igualmente se torna assim, ou se deixa transformar em deficiente mental.



David Schenck, festejado jornalista – foi ou ainda é (não sei) colaborador de prestigiosas publicações, como a “The National Geographic”, “Gourmet”, “Harper’s”, “Slate” e ”The New Yorker”, e autor de vários livros de sucesso, entre os quais “O jogo imortal” – demonstra que, praticamente tudo o que você já leu ou que já ouviu falar a propósito de genética, talento e Quociente de Inteligência, está errado.



O jornalista admite que possa, até, haver certa dependência dos genes. Todavia, após pesquisar manifestações de genialidade em diversas áreas de atividade intelectual, ou seja, de pensamento, nos induz à conclusão que o homem não somente pode, como deve desenvolver e, sobretudo, moldar, as próprias habilidades. Claro que isso não poderá ser feito com preguiça mental. Nenhum ser humano explora mais de 5% da capacidade mental do seu cérebro. Esta é a porcentagem com que os gênios preenchem seus bilhões de neurônios com informações. As pessoas comuns, que se convenciona chamar de “normais”, utilizam, apenas, 2,5%, no máximo, dessas células no transcurso de suas vidas. Notaram que universo de possibilidades está aberto (diria “escancarado”) à nossa frente?



Face ao exposto, creio que a forma mais adequada de concluir estas despretensiosas reflexões é repetindo o que escrevi em meu texto anterior em que abordei a questão, neste espaço. “Talvez a chave da genialidade, ou da maior ou menor inteligência, esteja na postura que se adota face à realidade e não no tamanho da massa cerebral, ou na quantidade maior ou menor de neurônios ou de células gliais.



Talvez seja a consciência do papel que cada um tem a desempenhar no Planeta. Talvez se encontre na satisfação de realizar alguma obra, não importa seu tamanho ou duração, e sempre da melhor maneira que ela puder ser feita. Talvez resida na participação ativa (jamais como mero e indefeso espectador) nos acontecimentos, atuando de modo a modificar, ou pelo menos atenuar, os atos que possam trazer prejuízos aos outros e melhorando, sempre que possível, os que beneficiem à coletividade.



Quem sabe, agindo assim, a maioria de nós não se surpreenderá com o próprio potencial, muitas vezes anestesiado por um frio e insensato pessimismo, quando não por bovina resignação. Talvez até cheguemos a topar com a mesma perplexidade revelada por Albert Einstein, quando constatou: ‘O que há de incompreensível no mundo é ele ser compreensível’”. E não é?!!!

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