Vamos
pagar a conta da crise
Pedro J. Bondaczuk
O Brasil será, ao lado das Filipinas, um dos países
mais prejudicados com a crise no Golfo Pérsico, ocasionada pela invasão das
tropas do Iraque ao pequeno, rico e desprotegido Kuwait. Essa avaliação não é
nossa, mas do presidente do maior banco credor do nosso País, o Citicorp, John
Reed, num pronunciamento que fez, ontem, em Buenos Aires, sobre as implicações
econômicas mundiais ditadas pelo conflito.
Ele assinalou que o aumento de preço do barril de
petróleo para US$ 30 no mercado internacional vai significar uma despesa
adicional em torno de US$ 2 bilhões para brasileiros e filipinos. Mas consolou
dizendo que temos uma grande capacidade exportadora e que certamente nossas
vendas externas irão recuperar essa cifra, além de prever que o problema todo
será solucionado em pouco tempo, nos próximos dias.
Tudo leva a crer que haverá uma intervenção militar
no Iraque, para depor o presidente Saddam Hussein. Afinal, ninguém gastaria
tanto dinheiro, mandando enormes contingentes de homens, aviões e navios para o
outro lado do mundo, despendendo fortunas imensas, como os Estados Unidos estão
fazendo, somente para amedrontar alguém que já mostrou não ser suscetível ao
medo.
Além de tudo, os iraquianos, em decorrência do
boicote total imposto pelo Conselho de Segurança das Nações Unidas, através da
Resolução 661, estão num completo impasse. Não podem exportar seu petróleo por
mar, em virtude do bloqueio naval imposto no Golfo Pérsico. Não têm condições
de bombear o produto através dos dois oleodutos que cortam a Turquia rumo ao
Mediterrâneo, pois os turcos aderiram às sanções da ONU e fecharam essa via de
escoamento, por onde Bagdá exporta até 70% do seu óleo. Resta a Arábia Saudita.
Esse país, embora conte com farto e sofisticado
armamento ocidental, não possui tradição guerreira. É provável que, em
desespero, Saddam Hussein subestime a capacidade protetora norte-americana e
tente romper o cerco por aí. Principalmente se os sauditas fecharem o oleoduto
que passa por seu território e leva o petróleo do Iraque até o terminal de
Yanbu, no Mar Vermelho.
O presidente iraquiano, que não deve ter medido bem
as conseqüências de sua intempestiva invasão ao Kuwait, não dispõe de muitas
opções. Atacar pelo lado da Turquia seria loucura, já que os Estados Unidos têm
até mísseis nucleares em território turco. Para romper o bloqueio naval, ele
não conta com uma Marinha que sequer mereça esse nome.
Sobra, somente, a Arábia Saudita, ou a batida em
retirada do pequeno emirado invadido. Como os megalomaníacos não costumam
retroceder, a conclusão do que se pode esperar é óbvia. Enquanto isso, nós, que
não temos nada a ver com a questão, pagamos a conta das conseqüências da
ambição desmedida pelo poder do truculento ditador do Iraque.
(Artigo publicado na página 2, Opinião, do Correio
Popular, em 9 de agosto de 1990)
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