Saturday, December 17, 2016

Vamos pagar a conta da crise



Pedro J. Bondaczuk


O Brasil será, ao lado das Filipinas, um dos países mais prejudicados com a crise no Golfo Pérsico, ocasionada pela invasão das tropas do Iraque ao pequeno, rico e desprotegido Kuwait. Essa avaliação não é nossa, mas do presidente do maior banco credor do nosso País, o Citicorp, John Reed, num pronunciamento que fez, ontem, em Buenos Aires, sobre as implicações econômicas mundiais ditadas pelo conflito.

Ele assinalou que o aumento de preço do barril de petróleo para US$ 30 no mercado internacional vai significar uma despesa adicional em torno de US$ 2 bilhões para brasileiros e filipinos. Mas consolou dizendo que temos uma grande capacidade exportadora e que certamente nossas vendas externas irão recuperar essa cifra, além de prever que o problema todo será solucionado em pouco tempo, nos próximos dias.

Tudo leva a crer que haverá uma intervenção militar no Iraque, para depor o presidente Saddam Hussein. Afinal, ninguém gastaria tanto dinheiro, mandando enormes contingentes de homens, aviões e navios para o outro lado do mundo, despendendo fortunas imensas, como os Estados Unidos estão fazendo, somente para amedrontar alguém que já mostrou não ser suscetível ao medo.

Além de tudo, os iraquianos, em decorrência do boicote total imposto pelo Conselho de Segurança das Nações Unidas, através da Resolução 661, estão num completo impasse. Não podem exportar seu petróleo por mar, em virtude do bloqueio naval imposto no Golfo Pérsico. Não têm condições de bombear o produto através dos dois oleodutos que cortam a Turquia rumo ao Mediterrâneo, pois os turcos aderiram às sanções da ONU e fecharam essa via de escoamento, por onde Bagdá exporta até 70% do seu óleo. Resta a Arábia Saudita.

Esse país, embora conte com farto e sofisticado armamento ocidental, não possui tradição guerreira. É provável que, em desespero, Saddam Hussein subestime a capacidade protetora norte-americana e tente romper o cerco por aí. Principalmente se os sauditas fecharem o oleoduto que passa por seu território e leva o petróleo do Iraque até o terminal de Yanbu, no Mar Vermelho.

O presidente iraquiano, que não deve ter medido bem as conseqüências de sua intempestiva invasão ao Kuwait, não dispõe de muitas opções. Atacar pelo lado da Turquia seria loucura, já que os Estados Unidos têm até mísseis nucleares em território turco. Para romper o bloqueio naval, ele não conta com uma Marinha que sequer mereça esse nome.

Sobra, somente, a Arábia Saudita, ou a batida em retirada do pequeno emirado invadido. Como os megalomaníacos não costumam retroceder, a conclusão do que se pode esperar é óbvia. Enquanto isso, nós, que não temos nada a ver com a questão, pagamos a conta das conseqüências da ambição desmedida pelo poder do truculento ditador do Iraque. 

(Artigo publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 9 de agosto de 1990)


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