Guerra produz novo quadro
político
Pedro J. Bondaczuk
O
fim da guerra do Golfo Pérsico coloca, tanto diante dos países da região,
quanto dos integrantes da coalizão multinacional que participou do conflito,
uma série de questões, de cuja resposta satisfatória irá depender a
estabilidade ou não dessa vital zona mundial.
Um
novo quadro político e estratégico está emergindo, com o calar dos canhões,
ainda indefinido e carecendo de decisões que o consolidem. A primeira pergunta
que surge se refere ao destino de Saddam Hussein. Como os iraquianos irão
absorver a derrota? O presidente tem cacife para se conservar no poder ou está
com os dias contados?
Há
uma forte movimentação de bastidores --- uma segunda guerra, subterrânea mas
nem por isso menos encarniçada --- para fazer com que ele saia do cenário da
região e se possível até da própria vida.
Serviços
secretos movimentam-se no sentido de fermentar uma rebelião no Iraque que
redunde na queda do atual líder. Grupos, certamente, estão planejando formas de
chegar até Saddam Hussein, para dar cabo dele. Claro que o homem mais
controvertido da atualidade, odiado e amado por milhões de pessoas,
especialmente no mundo árabe, está ciente disso.
Embora
perdendo a guerra, ele mostrou ser hábil, manhoso, ousado. Não pode, por isso,
ser subestimado. Os quadros, evidentemente, serão bem diversos com Saddam na
presidência do Iraque --- mesmo militarmente impotente --- e sem ele. É preciso
encontrar um ponto de equilíbrio entre as três Repúblicas da região e as suas
monarquias.
O
presidente sírio, Hafez Assad, ao aderir à coalizão, tornou-se confiável aos
olhos do Ocidente, depois de ter sido durante muitos anos tido como
"persona non grata" para europeus e norte-americanos.
Ainda
em 1988, durante uma reunião dos sete países mais industrializados do mundo, a
Síria foi acusada, oficialmente, num documento assinado pelos dirigentes dessas
nações, como um Estado promotor do terrorismo. Se Damasco ganhou a confiança
ocidental, perdeu a aura de defensor dos milhões de árabes pobres que o viam
como uma opção.
A
guerra, por outro lado, beneficiou o Irã em quase todos os aspectos, à exceção
do ecológico, já que o território iraniano vem sendo um dos mais afetados pelas
nuvens de fumaça da queima dos poços de petróleo kuwaitianos e iraquianos e
bastante atingido peela perniciosa "chuva negra".
No
aspecto econômico, a República dos aiatolás teve lucros fantásticos ao longo de
toda a crise, obtendo, inesperadamente, os recursos que tanto precisa para sua
reconstrução. Politicamente, a posição assumida pelo presidente Ali Akbar
Hashemi Rafsanjani de, mesmo condenando a invasão ao Kuwait, tentar mediar a
paz, para salvar seu inimigo de ontem da destruição, certamente vai render
saldos positivos.
Doravante,
o país volta a ser novamente uma potência regional a ser considerada. Tudo isso
merece uma séria, cuidadosa e criteriosa análise, pois do panorama que se
configurar vai depender se o Golfo Pérsico, finalmente, terá a segurança e
estabilidade desejadas pelo Ocidente ou se esta guerra foi só um
"round" de um conflito muito mais amplo no porvir.
(Artigo
publicado na página 11, Internacional, do Correio Popular, em 2 de março de
1991)
Acompanhe-me pelo twitter: @bondaczuk.
No comments:
Post a Comment