Sem os pés no chão
Pedro J.
Bondaczuk
O presidente norte-americano, Ronald Reagan, não está
colhendo o grande sucesso que esperava, do ponto de vista político, na “11ª
Reunião de Cúpula” dos países industrializados, que se realiza em Bonn, na
Alemanha Ocidental. Pelo menos não o êxito tão espetacular que ele, certamente,
esperava colher. E isso se verifica não somente porque o bloco ocidental não é
tão compacto, como desejava que fosse, estando ligado mais por interesse
pragmático, de segurança e de saúde da economia, do que por possível sentimento
de gratidão europeu ou por incontida simpatia pelos Estados Unidos.
Aliás, isso é o que cimenta e
mantém coesas todas as alianças através dos tempos. Ou seja, o puro interesse,
quer seja ele de caráter comercial, quer militar, quer de qualquer outra
espécie. E tudo restringe-se a apenas isso, e nada mais.
O primeiro revés político de
Reagan veio ontem, com a desaprovação, posto que não explícita, mas bastante
tácita, por parte dos seus parceiros, às sanções econômicas que ele anunciou no
exato instante do seu desembarque em Bonn, contra o regime sandinista da
Nicarágua. E essa repulsa não foi motivada por qualquer espécie de sentimento
romântico de admiração e respeito pela luta dos seguidores dos ideais de Sandino,
por parte dos líderes europeus.
É bastante provável que eles nem
mesmo saibam quem foi esse legendário líder nicaragüense. A Nicarágua, ademais,
sequer representa um mercado potencialmente promissor para a colocação dos
produtos desse clube dos ricos, longe disso.
A maioria dos seis países, que se
manifestaram contra o boicote adotado por Reagan (senão a totalidade) sequer
mantém relações de comércio com essa pobre República centro-americana, de pouco
menos de 2 milhões de habitantes. E se o faz, é em níveis tão irrisórios, que
dificilmente podem ser quantificados.
O que, certamente, esses líderes
reprovam, na atitude de Reagan, é a inoportunidade e a ineficácia de gestos
grandiloqüentes desse porte, contra um país que, quando muito, pode ser
perigoso apenas para si próprio. Pelas declarações dos principais políticos
presentes à conferência, o que se conclui é que, na verdade, eles não
entenderam bem como os sandinistas, acuados pela miséria de um lado, e pela
ameaça militar norte-americana de outro, podem desestabilizar a América
Central. Aliás, parece que ninguém entende isso.
A Teoria do Dominó, de
Eisenhower, parece ter, mesmo, causado uma duradoura impressão na mente de mais
de uma geração de políticos norte-americanos. E ela já fez alguns estragos muito
grandes para ser levada a sério.
Por causa dessa paranóia
anti-comunista, os EUA envolveram quase três milhões de seus mais promissores
jovens no Vietnã, para evitar que todo o Sudeste Asiático caísse na órbita de
Moscou. Perderam a guerra (ou pelo menos deixaram de ganhar) e o que aconteceu?
Apenas o Laos e o Camboja, e assim mesmo por causa de erros palmares da Casa
Branca, capitularam.
Hoje, sem os marines de Tio Sam,
o Sudeste Asiático está cada vez mais distante do “perigo comunista” como
jamais esteve até antes da Segunda Guerra Mundial. Os tempos, realmente, são
outros e não admitem mais conceitos e soluções que, mesmo na década de 50, se
revelaram caolhos e desastrados. Aí está o pecado de Ronald Reagan.
(Artigo publicado na página 10, Internacional, do Correio Popular, em 4
de maio de 1985).
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