Incoerência
norte-americana
Pedro J. Bondaczuk
As decisões tomadas por líderes mundiais, condutores
dos destinos das grandes potências, nem sempre (ou quase nunca) são coerentes.
Ocorrem, via de regra, ao sabor das conveniências. O que é certo hoje, pode não
o ser amanhã.
Pelo menos isso é o que se deduz das atitudes do
governo dos EUA em relação à Corte Internacional de Justiça de Haia. Há quatro
anos, quando os norte-americanos viviam o drama de ter a sua embaixada em Teerã
ocupada por xiitas e quando seus compatriotas eram mantidos como reféns do
regime do aiatolá Ruhollah Khomeini, Washington elegeu esse tribunal como
“único foro legítimo e civilizado” para resolver pendências entre países.
Anteontem, contudo, esse princípio mudou. A
Nicarágua, sentindo-se agredida com a colocação, por parte de agentes da CIA,
de minas em seus principais portos (flagrante ato de agressão, intencional e
planejada) apelou a essa corte de Justiça.
Estranhamente, porém, os EUA comunicaram ao Tribunal
de Haia que não reconhecem, pelo prazo de dois anos, sua jurisdição para
questões que envolvam a América Central. Por que dois anos? Seria o prazo para
“americanizar”, na base do conhecido e manjado “big stick”, essa área, que
Washington sempre tratou como sendo o seu quintal dos fundos?
Por que a mesma corte, considerada “foro legítimo e
civilizado” há quatro anos, hoje não o é mais? São dois pesos e duas medidas,
que colocam em xeque nossos conceitos de independência e de soberania nacional.
(Artigo publicado na página 11, Internacional, do
Correio Popular, em 12 de abril de 1984)
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