Oportunidades iguais
Pedro J. Bondaczuk
A
crença básica do norte-americano comum, em termos ideológicos, embora possa
sequer ser explicitada nesses termos, não é a da inexistência de classes em sua
sociedade, mas de igualdade de "oportunidades" para todos. Como
ressaltou Werner Sombart, um economista alemão, esquerdista, no livro "Por
que não há Socialismo nos Estados Unidos?", publicado em 1906: "Não
se está lembrando a cada momento ao trabalhador que ele pertence a uma classe
inferior".
Ali,
existe a cultura do "self made mad", do "homem que se faz
sozinho", do vencedor, do indivíduo que torna sua vida um desafio e não se
deixa levar por vazios ideais hedonísticos. A imprensa, a literatura, a opinião
pública ressaltam os méritos de tais pessoas, apontadas como exemplos para a
juventude.
E
Sombart constatou, em 1904, quando visitou os Estados Unidos: "Um número longe de ser insignificante
de trabalhadores comuns ascendem os degraus da escala da hierarquia do
capitalismo até o topo". Havendo oportunidades iguais, regras fixas e
gerais, as tensões sociais diminuem ou até mesmo desaparecem.
Em
tais circunstâncias, os mais aptos, os mais organizados, os mais determinados
ou os mais trabalhadores fatalmente atingirão a realização pessoal. Hoje, mais
do que nunca, tais princípios têm os seus méritos atestados quando se vê a
falência do socialismo no Leste europeu.
Na
utopia de conferir igualdade de situação a todas as pessoas, tal sistema atuou
em sentido inverso, ao não lhes conceder oportunidades iguais. Faltou-lhes o
fator "motivação", indispensável para que qualquer ser humano se
realize.
Entre
nós, embora existam milhares de "self made men", seus méritos quase
nunca são exaltados, como nos Estados Unidos. Pelo contrário, tais pessoas são
envolvidas numa aura de desconfiança, como se para chegar ao sucesso, todos
precisassem lançar mão da falsa esperteza, da idéia ridícula e imoral de
"sempre levar vantagem em tudo". Trata-se de uma questão de cultura.
A
democracia apenas se realiza plenamente com a igualdade de oportunidades. Com
regras justas, imutáveis e iguais para todos. Com a preponderância absoluta do
império das leis. Pois, como assinalou o senador, e exímio orador romano, Marco
Túlio Cícero, "nós somos escravos do direito para que possamos ser livres".
Temos
que nos livrar da mentalidade paternalista, sempre à espera de que alguém faça
por nós as tarefas que nos cabem, que nos acompanha há tempos, se realmente
quisermos construir uma nação justa, humana, solidária e respeitada no plano
internacional.
(Artigo
publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 27 de novembro de 1990).
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