Saturday, December 31, 2016

Oportunidades iguais


Pedro J. Bondaczuk


A crença básica do norte-americano comum, em termos ideológicos, embora possa sequer ser explicitada nesses termos, não é a da inexistência de classes em sua sociedade, mas de igualdade de "oportunidades" para todos. Como ressaltou Werner Sombart, um economista alemão, esquerdista, no livro "Por que não há Socialismo nos Estados Unidos?", publicado em 1906: "Não se está lembrando a cada momento ao trabalhador que ele pertence a uma classe inferior".

Ali, existe a cultura do "self made mad", do "homem que se faz sozinho", do vencedor, do indivíduo que torna sua vida um desafio e não se deixa levar por vazios ideais hedonísticos. A imprensa, a literatura, a opinião pública ressaltam os méritos de tais pessoas, apontadas como exemplos para a juventude.

E Sombart constatou, em 1904, quando visitou os Estados Unidos:  "Um número longe de ser insignificante de trabalhadores comuns ascendem os degraus da escala da hierarquia do capitalismo até o topo". Havendo oportunidades iguais, regras fixas e gerais, as tensões sociais diminuem ou até mesmo desaparecem.

Em tais circunstâncias, os mais aptos, os mais organizados, os mais determinados ou os mais trabalhadores fatalmente atingirão a realização pessoal. Hoje, mais do que nunca, tais princípios têm os seus méritos atestados quando se vê a falência do socialismo no Leste europeu.

Na utopia de conferir igualdade de situação a todas as pessoas, tal sistema atuou em sentido inverso, ao não lhes conceder oportunidades iguais. Faltou-lhes o fator "motivação", indispensável para que qualquer ser humano se realize.

Entre nós, embora existam milhares de "self made men", seus méritos quase nunca são exaltados, como nos Estados Unidos. Pelo contrário, tais pessoas são envolvidas numa aura de desconfiança, como se para chegar ao sucesso, todos precisassem lançar mão da falsa esperteza, da idéia ridícula e imoral de "sempre levar vantagem em tudo". Trata-se de uma questão de cultura.

A democracia apenas se realiza plenamente com a igualdade de oportunidades. Com regras justas, imutáveis e iguais para todos. Com a preponderância absoluta do império das leis. Pois, como assinalou o senador, e exímio orador romano, Marco Túlio Cícero, "nós somos escravos do direito para que possamos ser livres".

Temos que nos livrar da mentalidade paternalista, sempre à espera de que alguém faça por nós as tarefas que nos cabem, que nos acompanha há tempos, se realmente quisermos construir uma nação justa, humana, solidária e respeitada no plano internacional.

(Artigo publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 27 de novembro de 1990).


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