Tudo se transforma...
Pedro
J. Bondaczuk
“Na natureza nada se
cria e nada se perde, tudo se transforma”. Qualquer adolescente minimamente
informado, com noção elementar de química e de física, conhece de sobejo esse
enunciado, mesmo que não pense amiúde (ou mesmo nunca) nele. Trata-se do que a
Ciência consagrou como uma das suas leis naturais, que rotulou de “Lei da
Conservação da Massa”, ou de “Lei da Conservação da Matéria”, ou, ainda, de
“Lei de Lavoisier”, em homenagem ao químico francês Antoine Lavoisier (que teve
a cabeça decepada na guilhotina no chamado “Reinado do Terror” da Revolução
Francesa). Apesar da paternidade dessa
“descoberta” (que, de fato, não passou de mera “constatação”), ter sido
atribuída ao citado cientista, esse princípio certamente passou antes
(muitíssimo antes) pela cabeça de milhares (sabe-se lá quantas) de pessoas, de
tempos bastante remotos (sabe-se lá de quando), posto que ou era contestada, ou
os que pensavam nela não ousavam expressá-la, ou talvez tivessem somente
intuição a propósito, sem nenhuma convicção.
Se Lavoisier não
houvesse estabelecido (na verdade “constatado”, pois mesmo se não fosse
identificada por ele existiria à sua e à nossa revelia) essa “lei”, certamente outro pesquisador
qualquer o faria. Porquanto a mim (e provavelmente a você também, caríssimo
leitor) ela parece ser absolutamente óbvia, embora os que se recusem a pensar
no que os cerca (a maioria absoluta da humanidade), não se dêem conta de tal
obviedade. Apesar desse conceito ser aplicável, sobretudo, à Química e à
Física, ele é verdadeiro para tudo no mundo. E não apenas na Terra, mas em todo
o Universo. Há quem argumente que matéria se transforme em energia (mas o
vice-versa não ocorre). Isso, todavia, não derruba a lei, apenas a comprova.
Não há, no caso, destruição e nem criação de nada. Só há transformação. Bem,
não vou me aprofundar no tema, não pelo menos do ponto de vista científico,
pois não sou cientista. Sou escritor (ou talvez mero “escrevinhador”, como
costumo me auto-qualificar).
Trago, pois, a “Lei de
Lavoisier” para um terreno mais chão, que me é mais familiar: o do “feijão com
arroz”, ou seja, o do cotidiano. Nesse sentido, considero esse princípio
natural sumamente positivo, para não dizer decisivo para a própria
sobrevivência humana. Para justificar essa afirmação, vem-me de imediato à
memória um exemplo, digamos, escatológico, certamente de mau gosto, nem por
isso menos verdadeiro: o da produção diária de dejetos humanos. O leitor já
pensou na quantidade de fezes e de urina gerados em um único dia por mais de
7,2 bilhões de indivíduos? Ascende a bilhões, quiçá a trilhões ou mais de
toneladas. Já imaginaram se esse resíduo biológico todo não se transformasse,
não se modificasse e não se degradasse de maneira natural? O Planeta estaria
muito mais emporcalhado do que já está, que não é pouco, convenhamos.
Esses dejetos vêm se
produzindo, dia a dia, sem cessar, há milhares de anos (sabe-se lá quantos),
desde o surgimento da nossa espécie. E não é apenas o homem que os produz.
Todos os seres vivos, sem exceção, também os geram. E estes ascendem a alguns
bilhões de espécies, cada qual com número incontável de espécimes. Ainda
assim... o mundo é razoavelmente habitável. Por que? Porque esses dejetos se
transformam, graças à atuação de bactérias específicas, para as quais eles são
“alimentos”. Sapientíssima natureza, embora em certos aspectos não deixe de ser
cruel, posto que implacável! Tudo se transforma e o tempo todo. Nós nos
transformamos a cada dia, a cada hora, a cada minuto, mesmo que tais
transformações sejam imperceptíveis.
Transformamo-nos a vida
toda, do nascimento à morte. Nossas obras se transformam, mesmo quando nos
pareçam destruídas. Não são! São transformadas em algo diferente do que
fizemos. Mas cada fragmento delas continua presente em algum lugar, posto que
modificado. O mesmo ocorre com nossas idéias, que evoluem ou se degradam, de
acordo com a natureza de nossas ações. O Sol, um dia, quando esgotar todo seu
combustível, se transformará, provavelmente, numa anã vermelha. A Terra passará
por essa transformação e virará cinzas ou algo que o valha. A Via Láctea irá se
transformar. Mas nada novo será criado. E nada velho será destruído. Tudo, tudo
será transformado. Pelo menos é o que a intuição me dita, com base nessa
inflexível lei da natureza. Pensem nisso, mesmo que tal pensamento não sirva
para nada prático, além de transformá-los um pouco mais, talvez em pessoas mais
conscientes.
Acompanhe-me pelo twitter: @bondaczuk
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