Racionalidade é sonho
Pedro J. Bondaczuk
O
homem, num determinado instante da sua trajetória pelo Planeta, que não se sabe
qual foi, adquiriu, surpreso, a consciência de que existia. Foi quando começou
a exercitar uma faculdade que o distinguia dos outros animais: a de pensar.
As três primeiras indagações que lhe vieram, então,
à mente, embora certamente não colocadas com tanta clareza, foram: O que sou?
Onde estou? Para onde vou? Da tentativa de responder a estas três questões
surgiram as ciências, as artes, as filosofias e as religiões.
Milhões de hipóteses foram levantadas, uma
quantidade incontável de textos foi escrita em torno desse primitivo tema.
Ninguém, todavia, respondeu de forma incontestável: o que sou? Onde estou? Para
onde vou?
Renè Descartes, por exemplo, na tentativa de buscar
a verdade, negou inicialmente a existência de tudo. Depois, partiu de uma
premissa básica: a célebre “Cogito, ergo sum”. Ou seja, penso, logo existo.
Talvez hoje, a rigor, a única conclusão exata a que possamos chegar ainda seja
apenas esta.
O que é a vida? É, sobretudo, um mistério. É muito
mais do que meros conjuntos de aminoácidos combinados para formar proteínas
componentes de células, tecidos, órgãos, estruturas completas. Há algo
impalpável que anatomista algum, nenhum cientista, por mais perito que seja,
conseguiu isolar, separar, dissecar, posto que é imaterial.
O homem, por exemplo, simula em sua constituição
orgânica o próprio universo. É regido pelas mesmas leis e princípios naturais.
Tem, em suas células, bilhões e bilhões de vidas independentes. De sistemas
vivos que nascem, crescem, reproduzem-se e morrem constantemente.
A cada dia somos “outro” e no entanto somos os
mesmos. Continuamos vivendo. Esse quê imaterial passa das células moribundas
para as recém-nascidas num processo que só termina quando o indivíduo como um
todo morre. E para onde vai de fato essa chama que nos anima?
Na ausência de explicação, multidões recorrem ao
expediente da fé. Apesar da raridade da vida, tanta gente atenta, 24 horas por
dia, 365 dias por ano, através de décadas, séculos, milênios, contra esse dom,
esse mistério, esse milagre.
Filmes, novelas, histórias passam a impressão, a
cada momento, que matar é um ato normal. Que isso faz parte do processo de
seleção natural existente no mundo. Claro que essa visão não é a correta.
Lógico que essa posição é sumamente imoral. Evidentemente não é uma atitude de
um ser racional, capaz de saber o que é o bem e o que é o mal.
No entanto, é a que ainda predomina, mostrando que o
homem ainda tem muito a aprender para que possa de fato ser racional.
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