Momentos de felicidade
Pedro
J. Bondaczuk
A capacidade de ter (e
de expressar) gratidão é uma das características das pessoas felizes. Elas
nunca se consideram credoras da ajuda e da consideração dos que as cercam. E
sabem ser gratas aos parentes, pelo carinho; aos cônjuges, pelo amor; e aos
amigos, pela amizade manifestada. Victor Hugo constatou, em um de seus livros,
que “os infelizes são ingratos”. E arremata: “a ingratidão faz parte da
infelicidade deles”.
Temos tantos e tão
variados motivos de gratidão bastando, para identificá-los, olharmos
atentamente ao nosso redor. Devemos ser gratos aos nossos pais pela
oportunidade da vida e pelos desvelos na nossa criação e pelos princípios que
nos transmitiram, e à natureza, por nos proporcionar todos os recursos que
asseguram nossa sobrevivência. Agindo assim, já teremos dado um grande passo
para sermos felizes. Afinal, a felicidade não se acha por aí, mas se conquista,
com sensibilidade e sabedoria. E com reconhecimento das coisas boas que nos
acontecem e com a conseqüente gratidão, por termos esse privilégio.
Um dos maiores pecados
que uma pessoa pode cometer, se não o maior de todos, é o de não ser feliz. É o
de alimentar rancores, inveja, cobiça e egoísmo, em detrimento dos sentimentos
nobres, das emoções sadias e dos atos de grandeza. A felicidade, ao contrário
do que muitos pensam, não consiste na posse de bens materiais e nem na
companhia de pessoas que os sirvam e bajulem. Estes até podem contribuir para
que sejamos felizes, mas, sozinhos, não nos proporcionam essa desejada
bem-aventurança. A felicidade não é nada concreto, visível ou palpável, mas um
conceito, uma postura, um comportamento.
Há pessoas que a deixam
de usufruir, por não a saberem sequer identificar, quanto mais valorizar o que
de bom a vida lhes proporciona. Contam, por exemplo, com uma família unida e
amorosa; são cercadas de afeto de múltiplos amigos por todos os lados, mas não
sabem dar valor a esse magno privilégio, alheias ao fato de que a maioria não
conta com essa bênção. Apostam na infelicidade e findam por, de fato, serem
infelizes. Devemos ser pródigos em agradecimentos e parcimoniosos em
reclamações. Caso contrário...Seremos
rematados tolos de chutar nossa felicidade para um lugar em que jamais a
conseguiremos alcançar.
Ninguém, em lugar
algum, é feliz o tempo todo. Isso não existe. Sempre haverá uma preocupação,
uma angústia, um contratempo, um desgosto qualquer, pequeno ou grande, para nos
atormentar. Isso, contudo, não pode influir em nosso humor, não pelo menos por
muito tempo. A felicidade é constituída de “momentos”, mais ou menos
duradouros, de acordo com nossas ações e, também, da nossa percepção. Um deles,
por exemplo, é quando passamos por um desses campinhos improvisados de futebol
do bairro e uma bola sobra, redondinha, pererecando, para nós. Mesmo
engravatados, com a pasta 007 à mão e os sapatos de cromo alemão tolhendo os
movimentos, conseguimos dominá-la, fazer duas ou três embaixadas sem que ela
nos escape ou caia no chão, e endereçá-la, certeiramente, de volta à molecada,
sob aplausos admirados (ou mesmo galhofeiros, não importa) dos meninos. Nesses
instantes, nos sentimos, secretamente, o próprio Neymar a entortar os zagueiros
adversários numa final da Copa da Uefa.
Outro momento de
felicidade (pelo menos para mim) é quando passo o dia com meu neto e retorno,
sem vergonha ou sem censura, à infância, revivendo, nele, os inocentes sonhos
infantis que um dia acalentei. Outro, é quando de manhã, aos primeiros raios de
sol, sigo em direção da padaria, para comprar leite e pão, com passo lento e
preguiçoso, cumprimentando, à esquerda e à direita, vizinhos, conhecidos,
amigos ou, principalmente, estranhos e recebo, em retribuição, um sorriso.
Outro, ainda, é quando me dou conta de que praticamente cumpri com todas as obrigações
que a vida me impôs, de que criei (e bem) meus quatro filhos, mas que ainda
tenho saúde e disposição para usufruir as coisas boas que há no mundo. E há
milhares e milhares de outros momentos, tantos que até me fogem da memória, em
que sou grato por tudo o que tenho e pelo que sou, e em que estou em paz comigo
mesmo.
Um dos desafios mais
árduos e, no entanto, mais compensadores, é o de aprender a lidar com
frustrações de toda a sorte em nosso cotidiano e evitar que elas se transformem
em crônicos aborrecimentos. Para o bem da nossa saúde física e mental, e para o
bem-estar dos que nos cercam e que conosco convivem, devemos manter sempre
constante o nosso bom-humor, sem permitir que qualquer incidente, seja de que
tamanho ou natureza for, o comprometa e arruíne. Devemos ter em mente a sábia
observação do filósofo Ralph Waldo Emerson: “Para cada minuto que você se
aborrece perde sessenta segundos de felicidade”. Não parece, mas se trata de
perda irreparável. Há pessoas que perdem não apenas um minuto, mas horas sem
fim, dias, meses, anos, quando não a vida toda, acalentando mágoas, chateações
e desejos de vingança, abdicando da possibilidade de serem felizes. Vale a pena
abrir mão de tanto por tão pouco? Claro que não!
Há um mundo a ser
conquistado, que desafia o nosso talento e a nossa competência. Para isso,
porém, o medo de se expor tem que ser, necessariamente, deixado de lado.
Objetivos claros e definidos precisam ser traçados (e seguidos rigorosamente).
O resto... Bem, o resto é colocarmos no empreendimento tudo de nós. É aliar
ação à emoção, técnica ao sentimento, conhecimento ao amor pelo que se faz.
Há tempos, ouvi, de
alguém, uma citação, cujo autor desconheço, e que nunca mais me saiu do
pensamento, que diz: “Quando nascemos, todos ao nosso redor riem e apenas nós
choramos. Vivamos uma vida de tal sorte que, ao morrermos, todos chorem nossa
partida e somente nós possamos sorrir, com a certeza do dever cumprido”. Isto é
o que entendo por “ser feliz”. O resto? Bem, o resto.não conta. Isto sim é
viver com alegria e entusiasmo. Ou, simplesmente, é viver!
Acompanhe-me pelo twitter: @bondaczuk
No comments:
Post a Comment