Tuesday, December 13, 2016

O desempenho do PMDB


Pedro J. Bondaczuk


Os resultados das eleições de 15 de novembro passado têm sido analisados, freqüentemente, sob um enfoque antigovernista. Mais especificamente, antipeemedebista. O fato do PMDB não ter logrado conquistar as prefeituras de São Paulo, Recife, Porto Alegre, Rio de Janeiro e Fortaleza é tido e havido como um grande desastre eleitoral do maior partido brasileiro. Alguns vêem nesse insucesso uma resposta do eleitorado a uma possível má gestão de vários governadores ligados à agremiação e quem sabe, até da administração federal. Mas seria isso verdadeiro?

Em primeiro lugar, dos cinco Estados onde o PMDB não elegeu prefeitos para as respectivas capitais, apenas em um deles, São Paulo, o governo está nas mãos de um peemedebista. Nos demais, ou os governadores são do PFL (Pernambuco e Ceará), ou do PDT (Rio de Janeiro), ou então do PDS (Rio Grande do Sul). A vitória de Jarbas Vasconcelos, no Recife, por outro lado, nem mesmo forçando muito a barra pode ser considerada um insucesso do PMDB. Afinal, o maior baluarte da campanha vitoriosa do candidato do inexpressivo PSB, sigla que o político pernambucano usou apenas para chegar ao poder municipal, foi o ministro da Justiça, Fernando Lyra. A vitória em Pernambuco, portanto, não deixa de ter sido do PMDB, posto que não para a sua sigla tradicional. Venceu a sua ala dissidente.

No Rio de Janeiro, nem o analista mais ingênuo esperava que qualquer candidato, das tantas siglas (a maioria artificiosas) que se lançaram na disputa conseguisse fazer sombra a Saturnino Braga. O brizolismo está profundamente arraigado no Estado e dificilmente no pleito estadual deste ano conseguirá ser ao menos molestado. O PMDB fluminense foi há muito implodido pelo chaguismo e seus líderes não se preocuparam em criar novas lideranças. O resultado no Rio de Janeiro, portanto, era dos mais previsíveis, antes mesmo da apresentação, ao nível público, dos candidatos. Não houve, dessa forma, nenhuma surpresa.

No Rio Grande do Sul, outro dos grandes redutos do brizolismo, o PDT saiu com o seu maior nome, político de grande expressão nacional, que se consagrou no Congresso como um dos mais combativos e corajosos parlamentares num período em que falar em anistia e eleições diretas era considerado um ato de subversão. Em 1982, Alceu Collares não teve êxito na busca pelo governo do Estado. Suas pretensões esbarraram no desejo de Pedro Simon de conquistar o mesmo cargo. Divididas, as oposições foram presas fáceis para o PDS, muito bem estruturado na oportunidade no Rio Grande do Sul. Como candidato a prefeito, Carrion Júnior não seria nunca (como não foi) páreo para Alceu Collares. Levando-se em conta a diferença de experiência de ambos, a vitória do candidato pedetista até que não foi tão categórica quanto se esperava.

Em Fortaleza, a petista Maria Luíza é cria do PMDB, que possivelmente por um certo ranço discriminatório ainda existente no partido, não lhe deu o espaço que ela merecia. Perdeu, por ainda não confiar na capacidade administrativa e principalmente política de uma mulher, a oportunidade de conseguir uma vitória mais expressiva nesses pleitos municipais. E convenhamos, para uma cidade do porte da capital cearense, onze mil votos de vantagem não é uma diferença que possa ser considerada arrasadora. Ou é?

Finalmente, temos o caso de São Paulo. Quando o PMDB paulista ainda se movimentava para escolher o candidato que mais chances teria de enfrentar nas urnas o ex-presidente Jânio Quadros, tivemos a oportunidade de comentar que qualquer que ele fosse, não obteria sucesso. O janismo está arraigado há trinta anos na Paulicéia. Foi nessa cidade em que no pleito de 1962 o governador Franco Montoro sofreu a sua maior derrota, compensada com a excelente performance eleitoral no Interior. Mas ressalte-se que o janismo não cresceu nestes últimos três anos. Jânio obteve, para prefeito, contando com um respaldo muito maior agora, os mesmos 1,5 milhão de votos que logrou conseguir para governador.

A "acachapante" derrota do PMDB nos pleitos municipais, portanto, não passa de uma balela, um argumento tomado às pressas pelas forças contrárias ao governo para tentar desmerecer a atuação do principal partido que lhe dá sustentação nos últimos nove meses. Em número de votos, em capitais conquistadas, em cidades que passaram para a esfera peemedebista, enfim, em todos os critérios lógicos que se adotem para conferir uma vitória eleitoral a uma agremiação, a entidade governista tem números dos mais expressivos a registrar. De quebra, conseguiu também a sua "zebra", em Florianópolis, derrotando a estranha coligação PDS-PDT, conferindo a Edson Andrino, situado nas prévias, a apenas um mês antes do pleito, muito abaixo de Francisco de Assis, uma consagradora vitória. Em 15 de novembro teve uma diferença em seu favor de quase 14 mil votos. Dessa forma, ou estão errados os fatos (que evidentemente não estão) ou a performance peemedebista não foi tão catastrófica como muita gente apressadamente considerou, pelo simples fato de desejar que assim fosse.

(Artigo publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 5 de janeiro de 1986)


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