Diálogo
começa a ganhar forma
Pedro J. Bondaczuk
As negociações objetivando um entendimento nacional
que possibilite um combate sério, duro e eficaz à inflação, evoluíram nas
últimas horas, com a ocorrência de uma sucessão de fatos positivos. A Central
Única dos Trabalhadores, CUT, por exemplo, através de seu líder, Jair
Meneguelli, conseguiu a inclusão de sua pauta de reivindicações naquilo que
pode ser negociado.
Dessa forma, é possível que participe das
discussões. Além disso, o diálogo vai ganhar mais dois interlocutores de peso,
a Ordem dos Advogados do Brasil e a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil,
conferindo maior abrangência e, portanto, representatividade, às conversações.
Quanto mais setores estiverem dispostos a se reunir
em torno de uma mesa, na busca de um acordo, evidentemente será melhor. Pelo
andamento das coisas, é possível (e até provável) que outros organismos
representativos da sociedade venham a aderir à tentativa de entendimento.
Dessa forma, as negociações, encaradas, assim que
foram anunciadas, com pessimismo (e, mais do que isso, com um indisfarçável e
irônico ceticismo), ganham novos e promissores contornos.
É preciso que todo o País caia na realidade para as
perspectivas sombrias que se desenham no horizonte econômico, não somente
nacional, mas em todo o mundo. A dramática elevação dos preços do petróleo, em
decorrência da crise do Golfo Pérsico e, principalmente, o compasso de espera
em que o conflito se arrasta, com um enervante e assustador prolongamento,
trazem, para a economia mundial, a nada agradável perspectiva de uma recessão
generalizada.
Em tempos tão duros, é preciso que todos se unam e
deixem de lado seus interesses particulares, que certamente serão afetados se
os coletivos forem atingidos pela tempestade que se desenha. Um pacto social,
que de fato mereça esse nome pela sua abrangência, seria, neste momento
particular, uma medida parecida com a adotada pelos capitães das antigas
caravelas, quando pretendiam dobrar o Cabo Horn, no Extremo Sul da América do
Sul.
Essa região é fartamente conhecida pelas suas águas
tempestuosas. Temporais medonhos ocorrem ali, na maior parte do ano. Para
atravessar essa zona, os tripulantes que fossem indispensáveis no convés eram
amarrados ao mastro, para não serem arrastados pelos ventos. Aí, enfrentavam,
de peito aberto, a tormenta, que enrijecia a têmpera desses ousados
marinheiros.
O pacto que eventualmente se obtiver será como essa
atitude. Permitirá que os mais de 140 milhões de “tripulantes” desse navio
ameaçado chamado Brasil, embora sofrendo o impacto duramente, sobrevivam a mais
esta tempestade.
(Artigo publicado na página 2, Opinião, do Correio
Popular, em 21 de setembro de 1990)
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