Sunday, December 18, 2016

Diálogo começa a ganhar forma



Pedro J. Bondaczuk


As negociações objetivando um entendimento nacional que possibilite um combate sério, duro e eficaz à inflação, evoluíram nas últimas horas, com a ocorrência de uma sucessão de fatos positivos. A Central Única dos Trabalhadores, CUT, por exemplo, através de seu líder, Jair Meneguelli, conseguiu a inclusão de sua pauta de reivindicações naquilo que pode ser negociado.

Dessa forma, é possível que participe das discussões. Além disso, o diálogo vai ganhar mais dois interlocutores de peso, a Ordem dos Advogados do Brasil e a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, conferindo maior abrangência e, portanto, representatividade, às conversações.

Quanto mais setores estiverem dispostos a se reunir em torno de uma mesa, na busca de um acordo, evidentemente será melhor. Pelo andamento das coisas, é possível (e até provável) que outros organismos representativos da sociedade venham a aderir à tentativa de entendimento.

Dessa forma, as negociações, encaradas, assim que foram anunciadas, com pessimismo (e, mais do que isso, com um indisfarçável e irônico ceticismo), ganham novos e promissores contornos.

É preciso que todo o País caia na realidade para as perspectivas sombrias que se desenham no horizonte econômico, não somente nacional, mas em todo o mundo. A dramática elevação dos preços do petróleo, em decorrência da crise do Golfo Pérsico e, principalmente, o compasso de espera em que o conflito se arrasta, com um enervante e assustador prolongamento, trazem, para a economia mundial, a nada agradável perspectiva de uma recessão generalizada.

Em tempos tão duros, é preciso que todos se unam e deixem de lado seus interesses particulares, que certamente serão afetados se os coletivos forem atingidos pela tempestade que se desenha. Um pacto social, que de fato mereça esse nome pela sua abrangência, seria, neste momento particular, uma medida parecida com a adotada pelos capitães das antigas caravelas, quando pretendiam dobrar o Cabo Horn, no Extremo Sul da América do Sul.

Essa região é fartamente conhecida pelas suas águas tempestuosas. Temporais medonhos ocorrem ali, na maior parte do ano. Para atravessar essa zona, os tripulantes que fossem indispensáveis no convés eram amarrados ao mastro, para não serem arrastados pelos ventos. Aí, enfrentavam, de peito aberto, a tormenta, que enrijecia a têmpera desses ousados marinheiros.
O pacto que eventualmente se obtiver será como essa atitude. Permitirá que os mais de 140 milhões de “tripulantes” desse navio ameaçado chamado Brasil, embora sofrendo o impacto duramente, sobrevivam a mais esta tempestade.      

(Artigo publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 21 de setembro de 1990)


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