Wednesday, December 07, 2016

Preço do barril cai e derruba mito


Pedro J. Bondaczuk


A guerra do Golfo Pérsico veio demonstrar, mais uma vez, a fragilidade das previsões, principalmente quando estas são de caráter econômico e, mais especificamente, se referem a petróleo. Antes do conflito começar, analistas previram uma grave escassez do produto no mercado, pelo menos a médio prazo. Num determinado período do ano passado, a cotação do barril de petróleo chegou ao seu recorde histórico de US$ 40.

Estava-se às vésperas do inverno europeu, que se esperava fosse dos mais rigorosos, o que levaria os consumidores a aumentarem a demanda, por causa do óleo para calefação, indispensável para manter as casas aquecidas nessa época. E vivia-se em plena síndrome da guerra.

Analistas afoitos vinham a público para prever uma explosão de preços. Chegou-se a falar, caso Saddam Hussein cumprisse a promessa de incendiar os poços de petróleo do Golfo Pérsico, que o barril chegaria a custar até mesmo US$ 90.

O presidente do Iraque não queimou todos os campos petrolíferos da região, mas destruiu dois terços dos pertencentes ao Kuwait. Além disso, perdeu todos os seus, afetados pelas bombas aliadas. No entanto, o que ocorreu foi uma queda vertiginosa de cotação. Hoje, é possível comprar, de alguns fornecedores, petróleo a até US$ 15 o barril, entre os tipos menos nobres do produto. O mundo descobriu, no final desta guerra, que tem mais petróleo do que pensava.

As previsões, agora, são em sentido inverso. A guerra deixou a Arábia Saudita, que arcou com 25% dos custos de manutenção da força multinacional no Golfo Pérsico --- estimados, durante o auge do conflito em US$ 2 bilhões diários --- com os cofres vazios.

Por isso, o reino certamente irá manter a sua superprodução atual, que chega, virtualmente, ao dobro do que produzia no ano passado. O mercado, já bastante abastecido por causa das previsões catastrofistas que circularam depois de agosto de 1990, ficará inundado de petróleo. A maior oferta do que a procura tende a repetir o que se verificou em 1988, quando o barril chegou a ser cotado a míseros US$ 5.

Talvez agora o dumping não chegue a esse ponto. Mas os preços vão baixar. Tudo seria diferente caso Saddam conseguisse atingir os poços sauditas. Bem que ele tentou, mas a má pontaria de seus Scuds não permitiu isso.

Além do aumento de produção saudita, há que se considerar que o Irã virtualmente triplicou sua extração. Os iranianos, por exemplo, passaram a suprir o Brasil com o petróleo que o País deixou de importar do Kuwait e do Iraque, seus maiores fornecedores antes da guerra.

Quem não teve nervos de aço e comprou grandes quantidades assim que a crise começou, perdeu rios de dinheiro, literalmente queimado na esteira do blefe de Saddam. Quem preferiu esperar para ver o que acontecia, se é que houve alguém que tenha agido assim, obteve uma economia inesperada e de grande porte.

(Artigo publicado na página 32, Especial sobre a Guerra do Golfo, do Correio Popular, em 1º de março de 1991).


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