Thursday, December 01, 2016

Pai da “Reaganomic”


Pedro J. Bondaczuk


 A renúncia do presidente do Federal Reserve Board, o banco central norte-americano, Paul Volcker, apresentada ontem a Ronald Reagan e imediatamente aceita (já está escolhido até o seu sucessor, Alan Greenspan), deverá, certamente, reforçar as discussões, que ainda são bastante tímidas, de que a “Reaganomic”, a política econômica do atual governo, cantada e decantada em prosa e verso como uma das maravilhas da atualidade, não foi tão perfeita quanto se disse.

Há tempos, parlamentares democratas e economistas mais céticos vêm dizendo que ela não passa de autêntica bomba de tempo, montada para explodir quando o atual presidente estiver fora da Casa Branca. Rumores, aliás, sempre há, principalmente quando sai um elemento-chave no planejamento e execução da administração da economia de algum país.

Por isso, é prudente que o observador se acautele a seu respeito antes de emitir qualquer opinião. O aspecto que queremos destacar é acerca do número de mudanças ocorridas no governo norte-americano desde que Ronald Reagan foi eleito pela primeira vez.

Já saíram o general Alexander Haig, do Departamento de Estado; Donald Regan, que deixou o Tesouro e foi para a Secretaria da Presidência e, finalmente, caiu, cedendo o seu lugar para Howard Baker; Jeanne Kirkpatrick, da representação dos Estados Unidos na ONU; Robert McFarlane e John Poindexter, do Conselho de Segurança Nacional, ambos atropelados pelo escândalo “Irã-contras” e outros, cujos nomes nos fogem.

Da equipe original sobrou pouca gente. Daquele pessoal afinado com o estilo Reagan, que tanto sucesso fez na sua gestão no Estado da Califórnia e no primeiro período de mandato presidencial, não ficou quase ninguém. Não, pelo menos, no primeiro escalão.

Chega a ser assustadora a erosão de prestígio que o atual presidente vem sofrendo. Nem tanto por haver prestado auxílio aos anti-sandinistas, questão que preocupa poucas pessoas nesse país. O que vem deixando todo o mundo indignado é o fato de se ter vendido armas ao Irã, com tudo o que o regime radical iraniano fez aos norte-americanos nos penosos 444 dias de cativeiro de muitos dos seus cidadãos na missão diplomática dos Estados Unidos em Teerã.

O pior de tudo é que o tiro saiu pela culatra nessa questão. Não só não houve a pretendida reaproximação com a República Islâmica, como os moderados persas perderam terreno, internamente, e esse país, estrategicamente situado na entrada do Golfo Pérsico, continua tão radical quanto sempre foi, desde 1979, quando o aiatolá Ruhollah Khomeini regressou de seu exílio em Paris e foi guindado, triunfalmente, ao poder.

Por isso, não é de se estranhar que muitos vejam na saída de Volcker, que irá se configurar, somente, em agosto próximo, quando vencer o seu segundo período de quatro anos à frente do Federal Reserve, sinais de perigo. Nem que a renúncia do chamado “Menino Prodígio” esteja provocando uma certa inquietação quanto a uma mudança de curso na economia nos próximos tempos.

Já se fala num possível novo surto inflacionário, numa desaceleração do crescimento e numa dramática elevação das taxas de juros bancários nos Estados Unidos. Um desaquecimento econômico norte-americano, neste momento, seria desastroso para o mundo todo. Especialmente para os países endividados, que precisam fazer saldos em suas balanças comerciais e que estão caçando dólares a laço, para evitarem o caos em suas respectivas sociedades.

Os últimos dois anos de Reagan na Casa Branca, a menos que algo ocorra logo para reverter o quadro atual, têm tudo para serem dramáticos e até angustiosos. Queira Deus que tudo não passe de falsa impressão.

(Artigo publicado na página 10, Internacional, do Correio Popular, em 3 de junho de 1987).


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