Pai da “Reaganomic”
Pedro J.
Bondaczuk
A renúncia do
presidente do Federal Reserve Board, o banco central norte-americano, Paul
Volcker, apresentada ontem a Ronald Reagan e imediatamente aceita (já está
escolhido até o seu sucessor, Alan Greenspan), deverá, certamente, reforçar as
discussões, que ainda são bastante tímidas, de que a “Reaganomic”, a política
econômica do atual governo, cantada e decantada em prosa e verso como uma das
maravilhas da atualidade, não foi tão perfeita quanto se disse.
Há tempos, parlamentares
democratas e economistas mais céticos vêm dizendo que ela não passa de
autêntica bomba de tempo, montada para explodir quando o atual presidente
estiver fora da Casa Branca. Rumores, aliás, sempre há, principalmente quando
sai um elemento-chave no planejamento e execução da administração da economia
de algum país.
Por isso, é prudente que o
observador se acautele a seu respeito antes de emitir qualquer opinião. O
aspecto que queremos destacar é acerca do número de mudanças ocorridas no governo
norte-americano desde que Ronald Reagan foi eleito pela primeira vez.
Já saíram o general Alexander
Haig, do Departamento de Estado; Donald Regan, que deixou o Tesouro e foi para
a Secretaria da Presidência e, finalmente, caiu, cedendo o seu lugar para
Howard Baker; Jeanne Kirkpatrick, da representação dos Estados Unidos na ONU;
Robert McFarlane e John Poindexter, do Conselho de Segurança Nacional, ambos
atropelados pelo escândalo “Irã-contras” e outros, cujos nomes nos fogem.
Da equipe original sobrou pouca
gente. Daquele pessoal afinado com o estilo Reagan, que tanto sucesso fez na
sua gestão no Estado da Califórnia e no primeiro período de mandato
presidencial, não ficou quase ninguém. Não, pelo menos, no primeiro escalão.
Chega a ser assustadora a erosão
de prestígio que o atual presidente vem sofrendo. Nem tanto por haver prestado
auxílio aos anti-sandinistas, questão que preocupa poucas pessoas nesse país. O
que vem deixando todo o mundo indignado é o fato de se ter vendido armas ao
Irã, com tudo o que o regime radical iraniano fez aos norte-americanos nos
penosos 444 dias de cativeiro de muitos dos seus cidadãos na missão diplomática
dos Estados Unidos em Teerã.
O pior de tudo é que o tiro saiu
pela culatra nessa questão. Não só não houve a pretendida reaproximação com a
República Islâmica, como os moderados persas perderam terreno, internamente, e
esse país, estrategicamente situado na entrada do Golfo Pérsico, continua tão
radical quanto sempre foi, desde 1979, quando o aiatolá Ruhollah Khomeini
regressou de seu exílio em Paris e foi guindado, triunfalmente, ao poder.
Por isso, não é de se estranhar
que muitos vejam na saída de Volcker, que irá se configurar, somente, em agosto
próximo, quando vencer o seu segundo período de quatro anos à frente do Federal
Reserve, sinais de perigo. Nem que a renúncia do chamado “Menino Prodígio”
esteja provocando uma certa inquietação quanto a uma mudança de curso na
economia nos próximos tempos.
Já se fala num possível novo
surto inflacionário, numa desaceleração do crescimento e numa dramática
elevação das taxas de juros bancários nos Estados Unidos. Um desaquecimento
econômico norte-americano, neste momento, seria desastroso para o mundo todo.
Especialmente para os países endividados, que precisam fazer saldos em suas
balanças comerciais e que estão caçando dólares a laço, para evitarem o caos em
suas respectivas sociedades.
Os últimos dois anos de Reagan na
Casa Branca, a menos que algo ocorra logo para reverter o quadro atual, têm
tudo para serem dramáticos e até angustiosos. Queira Deus que tudo não passe de
falsa impressão.
(Artigo publicado na página 10, Internacional, do Correio Popular, em 3
de junho de 1987).
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