Thursday, December 22, 2016

O jogo previsível da estratégia


Pedro J. Bondaczuk


A guerra do Golfo Pérsico foi, até aqui, desde antes do disparo do primeiro tiro, na madrugada de terça para quarta-feira, com o maciço ataque aéreo aliado contra Bagdá – a mais previsível de todos os tempos. Cada jogada neste macabro tabuleiro de xadrez tem sido divulgada com grande antecedência e cumprida rigorosamente à risca.

Assim que as tropas de Saddam Hussein invadiram o Kuwait, em 2 de agosto de 1990, a comunidade internacional, encabeçada pelos Estados Unidos, avisou que as expulsariam, caso não se retirassem pela própria conta. Conhecendo a intransigência do presidente iraquiano, não era difícil de se supor, já naquela oportunidade, o desfecho anterior.

Antes do esgotamento da derradeira tentativa diplomática de paz, empreendida, em Genebra, pelo secretário de Estado norte-americano, James Baker, com o chanceler do Iraque, Tarik Aziz, estrategistas militares do Ocidente garantiam que a libertação do Kuwait começaria mediante um maciço e fulminante ataque aéreo, onde as armas de alta tecnologia teriam papel decisivo. E foi o que aconteceu.

Houve, é verdade, quem subestimasse a capacidade defensiva das forças de Saddam e superestimasse a aliada, afirmando que o Iraque se renderia em 48 horas ou algo semelhante. Agora, está mais evidente do que nunca que a guerra será de longa duração. Prever seu tempo seria meramente praticar um exercício, nada racional, de adivinhação.

Outra coisa absolutamente anunciada antes da deflagração da guerra foi o ataque contra Israel. Muita gente, não enfronhada no assunto (que pretendeu mostrar conhecimento que não possuía e se deu mal) opinou que o presidente iraquiano estava blefando.

Todavia, para Saddam Hussein, o engajamento israelense no conflito é fundamental para o objetivo que ele tem, que é o de prolongar ao máximo a conflagração, jogando com o fator custo e com o da força da opinião pública, quer a do mundo árabe, quer a norte-americana, a seu favor.

As despesas com a manutenção das forças multinacionais no Golfo, que já não eram baixas antes da batalha de Bagdá, se tornaram simplesmente absurdas agora. Estima-se que sejam de US$ 1 bilhão diários. É claro que nem mesmo uma superpotência pode suportar impunemente isto por muito tempo.

Por outro lado, a participação de Israel na guerra tende a insuflar os árabes – a população, não os governos – a pegarem em armas ao lado de Hussein. Portanto, as linhas básicas da estratégia de cada lado já estão claras. Os desdobramentos vindouros mostrarão quem tem maior determinação e disciplina para atingir os objetivos pretendidos: os EUA, o de ganharem e os do Iraque, de não perder o conflito.

(Artigo publicado na página 19, A Guerra no Golfo, do Correio Popular, em 20 de janeiro de 1991).

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