O jogo previsível da estratégia
Pedro J. Bondaczuk
A guerra do Golfo Pérsico
foi, até aqui, desde antes do disparo do primeiro tiro, na madrugada de terça
para quarta-feira, com o maciço ataque aéreo aliado contra Bagdá – a mais
previsível de todos os tempos. Cada jogada neste macabro tabuleiro de xadrez
tem sido divulgada com grande antecedência e cumprida rigorosamente à risca.
Assim
que as tropas de Saddam Hussein invadiram o Kuwait, em 2 de agosto de 1990, a
comunidade internacional, encabeçada pelos Estados Unidos, avisou que as
expulsariam, caso não se retirassem pela própria conta. Conhecendo a
intransigência do presidente iraquiano, não era difícil de se supor, já naquela
oportunidade, o desfecho anterior.
Antes
do esgotamento da derradeira tentativa diplomática de paz, empreendida, em
Genebra, pelo secretário de Estado norte-americano, James Baker, com o
chanceler do Iraque, Tarik Aziz, estrategistas militares do Ocidente garantiam
que a libertação do Kuwait começaria mediante um maciço e fulminante ataque
aéreo, onde as armas de alta tecnologia teriam papel decisivo. E foi o que
aconteceu.
Houve,
é verdade, quem subestimasse a capacidade defensiva das forças de Saddam e
superestimasse a aliada, afirmando que o Iraque se renderia em 48 horas ou algo
semelhante. Agora, está mais evidente do que nunca que a guerra será de longa
duração. Prever seu tempo seria meramente praticar um exercício, nada racional,
de adivinhação.
Outra
coisa absolutamente anunciada antes da deflagração da guerra foi o ataque
contra Israel. Muita gente, não enfronhada no assunto (que pretendeu mostrar
conhecimento que não possuía e se deu mal) opinou que o presidente iraquiano
estava blefando.
Todavia,
para Saddam Hussein, o engajamento israelense no conflito é fundamental para o
objetivo que ele tem, que é o de prolongar ao máximo a conflagração, jogando
com o fator custo e com o da força da opinião pública, quer a do mundo árabe,
quer a norte-americana, a seu favor.
As
despesas com a manutenção das forças multinacionais no Golfo, que já não eram
baixas antes da batalha de Bagdá, se tornaram simplesmente absurdas agora.
Estima-se que sejam de US$ 1 bilhão diários. É claro que nem mesmo uma
superpotência pode suportar impunemente isto por muito tempo.
Por
outro lado, a participação de Israel na guerra tende a insuflar os árabes – a
população, não os governos – a pegarem em armas ao lado de Hussein. Portanto,
as linhas básicas da estratégia de cada lado já estão claras. Os desdobramentos
vindouros mostrarão quem tem maior determinação e disciplina para atingir os
objetivos pretendidos: os EUA, o de ganharem e os do Iraque, de não perder o
conflito.
(Artigo
publicado na página 19, A Guerra no Golfo, do Correio Popular, em 20 de janeiro
de 1991).
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