Natal
da crise
Pedro J. Bondaczuk
O Natal que se avizinha, a ser celebrado no próximo
domingo, na maioria dos lares brasileiros, é mais de incertezas quanto ao
amanhã, que se desenha com perspectivas sombrias (sobretudo para os mais de
doze milhões de desempregados) do que de comemorações. Os que ainda dispõem de
recursos, podem festejar, posto que agora com mais moderação, em virtude da
crise. Estatísticas acerca de vendas demonstram que este Natal está sendo um
dos mais difíceis dos últimos anos para os brasileiros. Principalmente para
aqueles que, mesmo em períodos de “vacas gordas”, têm dificuldades para tornar
esta data diferente das demais do seu penoso cotidiano.
Todavia, por se tratar da celebração de um
aniversário, o do nascimento daquele que veio ao mundo pregar uma mensagem de
paz e de solidariedade entre os homens, é lícito que aqueles que podem,
festejem, sim, a ocasião. Seria desejável, igualmente, que esses que possuem
condições para festejar, praticassem uma boa ação e contribuíssem para que os
desvalidos que os cercam tivessem ao menos um dia, um único do ano, de sonho e
de fantasia. Que houvesse, ao menos, o que comer em suas mesas, já que em
muitas, alimentos sofisticados e, às vezes, até impróprios para nossas
condições de clima, não apenas abundam, mas acabam sendo esbanjados.
Quem experimentar agir dessa forma verá a enorme
satisfação íntima que irá sentir. Essa sensação de utilidade, de ter feito
alguém sorrir, de haver conseguido, ao menos, uma imitação de felicidade, é
indescritível. Os que já a experimentaram sabem como ela é boa. Para aqueles
aos quais a vida não tem sido pródiga em satisfações, ultimamente – a maioria
dos brasileiros está nessa condição desde o nascimento – o conselho ideal está
contido nos versos do poeta Gonçalves Dias, na “Canção do Tamoio”:
“Não chores meu filho;
não chores que a vida
é luta renhida,
viver é lutar.
A vida é combate
que os fracos abate,
que os fortes, os bravos
só pode exaltar”.
O jeito é não se deixar abater pelas dificuldades,
por piores que sejam as circunstâncias, pois o mesmo acaso que atua contra as
pessoas, lhes trazendo surpresas sumamente dolorosas, age, às vezes, a seu
favor, mudando toda a sua biografia. Ninguém tem o direito de abrir mão da
esperança, embora ela, isoladamente, sem uma ação concreta que a acompanhe,
jamais mudará para melhor a situação de ninguém. Que este ano crítico seja
deixado para trás e ninguém sofra por antecipação com as dificuldades
potenciais vindouras.
Sobretudo, que todos tenham um feliz Natal. O depois
será o capítulo da biografia de cada um, que será escrito de acordo com o seu
ânimo de ser forte, e não se deixar abater, ou fraco, e ser esmagado pela
vida.
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