Um
século de contínuas lutas
Pedro
J. Bondaczuk
As Filipinas completam, em 12
de junho, 40 anos de vida independente, dos quais mais de vinte sob
um único governo, o de Ferdinand Marcos. Antes dele, quatro outros
políticos presidiram o país: Manuel Roxas (1946 a 1949), Elpídio
Quirino (1949 a 1953), Ramón Magsaysay (1953 a 1961) e Diosdado
Macapagal (1961 a 1965). Foi competindo com este último , em
eleições limpas e livres, que o atual presidente venceu e assumiu o
cargo que nunca mais quis largar.
Esse país insular, um
arquipélago composto por 7.100 ilhas, das quais a maioria com
tamanho inferior a 100 quilômetros quadrados, desde fins do século
passado vem sendo palco de intensas lutas. Raros foram os períodos
de paz do seu povo, que é uma mistura de malaio com chinês,
indiano, asiáticos do sul e espanhol. Em seus 300.000 quilômetros
quadrados de território vivem mais de 50 grupos étnicos diferentes,
que falam mais de 70 dialetos e que perfazem uma população de 54
milhões de habitantes. As Filipinas (que devem o seu nome ao rei
Filipe IV da Espanha) já foi domínio de três países diferentes.
Até 1898 esteve sob a tutela espanhola, quando passou a pertencer
aos Estados Unidos como consequência da vitória norte-americana na
guerra hispano-americana. Na Segunda Guerra Mundial, parte do seu
território foi ocupada pelos japoneses.
Os filipinos, que começaram a
sua luta pela independência em 1896, não tiveram, desde então,
prolongados períodos de paz. Vários foram os levantes contra o
domínio norte-americano. Momentos de heroísmo foram protagonizados
para expulsar os japoneses do seu território. E depois de 1946, já
independentes, os combates assumiram um aspecto ainda mais sombrio:
passaram a ser protagonizados entre os próprios irmãos.
Na verdade as Filipinas foram
abalroadas pelo avanço comunista no sudeste asiático a partir da
segunda metade da década de 1950. Os primeiros anos de independência
até que transcorreram relativamente bem. De 1946 até 1955, até a
metade do mandato do presidente Ramón Magsaysay, havia convivência
harmônica entre os poderes Executivo e Legislativo, que tinha
liderança comunista, originada numa força guerrilheira que havia se
destacado na luta contra os japoneses durante a Segunda Guerra (os
Huks). No entanto, metade da Coreia caiu, nessa época, em mãos
comunistas. Para complicar, os vietmins derrotaram os franceses e
estabeleceram um estado marxista no Norte do Vietnã. E guerrilhas
comunistas atuavam intensamente no Camboja, no Laos, na Tailândia,
na Birmânia e na Malásia. “O próximo país” - raciocinavam,
então, os norte-americanos, protetores e financiadores das Filipinas
- “será o arquipélago”. E essa ex-colônia dos Estados Unidos
tinha import?ância estratégica ímpar para Washington. Até hoje,
os norte-americanos dispõem de duas bases militares importantes em
solo filipino: uma naval (a de Subic Bay) e outra aérea.
Os Huks passaram a ser
encarados como perigosos desde então e foram banidos da política. E
estes não tiveram dúvidas: pegaram em armas. Em 1969, já no
governo de Marcos, essa guerrilha foi liquidada, com a morte, em
janeiro desse ano, de seu líder, Efren Lopez. Isso só fez crescer,
tanto entre os filipinos, quanto aos norte-americanos, o prestígio
desse então jovem e promissor político, ou seja, o atual
presidente. Se ele se4 contentasse com apenas um mandato
presidencial, ou quando muito com dois, estaria tudo bem, Passaria
para a História como heroi nacional. Mas não, um prazo desses não
foi visto como suficiente por Ferdinand Marcos. E já está provado
que um poder absoluto e por tempo ilimitado tende a corromper seu
detentor e fazer com que ele perca até mesmo contato com a
realidade. E o que está acontecendo com o atual presidente filipino.
Seria irônico se agora ele
terminasse vencido por uma simples dona de casa, que nunca escondeu
de ninguém que não entendia nadas de política e muito menos de
administração pública. O motivo quie levou Marcos a fechar o
regime, sobretudo a partir de 1972, quando decretou a lei marcial,
subsiste e até se agravou. Mas agora não mais por causa de eventual
interferência externa, porém em virtude de seus muitos erros. A
guerrilha esquerdista hoje está mais forte do que nunca. Os Huks do
passado foram substituídos por outro grupo, o Novo Exército
Popular, tão ou mais aguerrido do que a facção comunista
antecessora. Sem Marcos, pode até ser que as Filipinas conheçam o
caos, conforme o presidente adverte. Mas, com ele, as coisas podem
ser até piores. Esta, portanto, será uma escolha crucial para o
eleitorado filipino, já acostumado a ser manobrado pelo atual
mandatário, que age como vitalício. As perspectivas, portamnto, não
são das melhores.
(Artigo publicado na editoria
Internacional do Correio Popular, em 7 de fevereiro de 1986).
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