Saturday, September 30, 2017

Nova crise no ar

Pedro J. Bondaczuk

Os arroubos do presidente Itamar Franco e o oportunismo de muitos, que não têm a mínima consciência social, colocaram o País à beira de nova crise política. Desde antes da aprovação do impeachment do ex-presidente Fernando Collor, em 29 de setembro de 1992, eram freqüentes os boatos acerca de choques econômicos, congelamentos e outros meios heterodoxos – para não dizer estúpidos – de deter a escalada inflacionária. E tome remarcações preventivas, por conta de simples rumores, que não se concretizaram.

Agora, quatro ministros da Fazenda depois – Marcílio Marques Moreira, Gustavo Krause, Paulo Haddad e Eliseu Resende – esse tipo de conversa volta a freqüentar as manchetes, e como sendo favas contadas.

Quem ganha com isso? A população, com absoluta certeza, não é. A maioria dos brasileiros vê aprofundar-se o fosso da desigualdade de renda, que já é um dos mais profundos do mundo, com a pena sobressalente de não saber, sequer, se amanhã continuará com seu emprego, que lhe permita o sustento da família.

Enquanto isso, alguns espertalhões, valendo-se da ingenuidade de um presidente despreparado para o cargo, para o qual, sequer, foi eleito, agitam crises artificiais, talvez para emergirem delas como “salvadores da pátria”.

É doloroso ver o país em que nascemos, que tanto amamos – embora hoje alguns considerem esse amor “piegas” – afundando em atraso e demagogia barata. Não se defende, aqui, qualquer consenso. A democracia sobrevive, apenas, em conflitos que, quando bem administrados, geram uma energia irresistível, que catapulta os povos para o progresso.

O escritor indiano, naturalizado britânico, Salman Rushdie, observou a esse respeito: “Uma sociedade que só se relaciona sem atritos é uma sociedade morta. Quando só se pode dizer aquilo com que o outro está de acordo, toda a forma de liberdade está aniquilada”.

O que não se pode é sabotar a economia de um país como o nosso, que já está desarrumada, há muito tempo, por si só. Aliás, sabotagem maior já foi feita pelos que endividaram o Brasil, forçando a Nação desajustada a enveredar por um modelo econômico que não lhe é conveniente.

E quem fez isso? O ex-ministro da Agricultura durante o governo Médici, Luiz Fernando Cirne Lima, fez, em 5 de agosto de 1982, uma revelação gravíssima a esse respeito, não levada a sério na ocasião.

Disse, em entrevista no programa “Espaço Aberto”, da TV Guaíba de Porto Alegre: “Os tecnocratas do governo provocaram esta grande dívida externa para forçar o Brasil a um modelo do qual nunca pudesse retroceder. Durante minha administração, freqüentemente, os tecnocratas repetiam: ‘Temos que dar um nó na economia que só nós saibamos desatar’”.

A declaração dispensa comentários. O jornal norte-americano “The Washington Post”, em recente editorial, citando números do Banco Mundial, demonstra que a desigualdade de renda entre os brasileiros é uma das mais altas entre os maiores países do mundo.

Há um desequilíbrio de 26 para 1 – na Europa Ocidental ele é de seis para um – entre os ganhos dos 20% mais ricos da população e dos 20% mais pobres. Uma coisa é certa: não são estes últimos que estão espalhando boatos de congelamento e muito menos estão pedindo esta medida, mesmo não sabendo de suas conseqüências.

(Artigo publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 6 de março de 1993).



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