Nova crise no ar
Pedro J. Bondaczuk
Os arroubos do presidente
Itamar Franco e o oportunismo de muitos, que não têm a mínima
consciência social, colocaram o País à beira de nova crise
política. Desde antes da aprovação do impeachment do ex-presidente
Fernando Collor, em 29 de setembro de 1992, eram freqüentes os
boatos acerca de choques econômicos, congelamentos e outros meios
heterodoxos – para não dizer estúpidos – de deter a escalada
inflacionária. E tome remarcações preventivas, por conta de
simples rumores, que não se concretizaram.
Agora, quatro ministros da
Fazenda depois – Marcílio Marques Moreira, Gustavo Krause, Paulo
Haddad e Eliseu Resende – esse tipo de conversa volta a freqüentar
as manchetes, e como sendo favas contadas.
Quem ganha com isso? A
população, com absoluta certeza, não é. A maioria dos brasileiros
vê aprofundar-se o fosso da desigualdade de renda, que já é um dos
mais profundos do mundo, com a pena sobressalente de não saber,
sequer, se amanhã continuará com seu emprego, que lhe permita o
sustento da família.
Enquanto isso, alguns
espertalhões, valendo-se da ingenuidade de um presidente
despreparado para o cargo, para o qual, sequer, foi eleito, agitam
crises artificiais, talvez para emergirem delas como “salvadores da
pátria”.
É doloroso ver o país em que
nascemos, que tanto amamos – embora hoje alguns considerem esse
amor “piegas” – afundando em atraso e demagogia barata. Não se
defende, aqui, qualquer consenso. A democracia sobrevive, apenas, em
conflitos que, quando bem administrados, geram uma energia
irresistível, que catapulta os povos para o progresso.
O escritor indiano,
naturalizado britânico, Salman Rushdie, observou a esse respeito:
“Uma sociedade que só se relaciona sem atritos é uma sociedade
morta. Quando só se pode dizer aquilo com que o outro está de
acordo, toda a forma de liberdade está aniquilada”.
O que não se pode é sabotar
a economia de um país como o nosso, que já está desarrumada, há
muito tempo, por si só. Aliás, sabotagem maior já foi feita pelos
que endividaram o Brasil, forçando a Nação desajustada a enveredar
por um modelo econômico que não lhe é conveniente.
E quem fez isso? O ex-ministro
da Agricultura durante o governo Médici, Luiz Fernando Cirne Lima,
fez, em 5 de agosto de 1982, uma revelação gravíssima a esse
respeito, não levada a sério na ocasião.
Disse, em entrevista no
programa “Espaço Aberto”, da TV Guaíba de Porto Alegre: “Os
tecnocratas do governo provocaram esta grande dívida externa para
forçar o Brasil a um modelo do qual nunca pudesse retroceder.
Durante minha administração, freqüentemente, os tecnocratas
repetiam: ‘Temos que dar um nó na economia que só nós saibamos
desatar’”.
A declaração dispensa
comentários. O jornal norte-americano “The Washington Post”, em
recente editorial, citando números do Banco Mundial, demonstra que a
desigualdade de renda entre os brasileiros é uma das mais altas
entre os maiores países do mundo.
Há um desequilíbrio de 26
para 1 – na Europa Ocidental ele é de seis para um – entre os
ganhos dos 20% mais ricos da população e dos 20% mais pobres. Uma
coisa é certa: não são estes últimos que estão espalhando boatos
de congelamento e muito menos estão pedindo esta medida, mesmo não
sabendo de suas conseqüências.
(Artigo publicado na página
2, Opinião, do Correio Popular, em 6 de março de 1993).
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