Friday, September 15, 2017

Crimes de guerra e direitos humanos

Pedro J. Bondaczuk

Documentos, outrora secretos, que aos poucos começam a vir a público, sobre a guerra do Vietnã, revelam que as atrocidades cometidas nesse conflito, pelos militares norte-americanos, foram muito maiores do que a princípio se supunha. Fatos de igual natureza, ou até mesmo piores, estariam ocorrendo atualmente no Afeganistão ocupado pelos soviéticos (os quais, provavelmente, o Ocidente jamais saberá com absoluta certeza). Comenta-se, até, sobre o uso de sofisticadas armas químicas, que estariam sendo testadas nos vales e montanhas afegãos, especialmente contra as forças do guerrilheiro Masod, no Vale do Panjshir.

O próprio Vietnã, vítima de uma guerra cruel e desumana, movida com requintes de crueldade praticamente por nada, parece ter aprendido muito bem a infame lição no que diz respeito ao método utilizado contra o adversário. E estaria agindo de forma bastante semelhante à dos norte-americanos no Camboja, que ocupa já há anos. As hordas de refugiados khmers famintos e desamparados, que superlotam acampamentos na fronteira com a Tailândia, são, segundo relatos de testemunhas oculares, qualquer coisa de dantesca. Perto deles, os campos de concentração alemães seriam comparáveis a “colônias de férias”. Exagero, claro.

A pergunta que emerge, espontânea, diante desse tipo de denúncia, é quanto ao porquê dessa atitude, que depõe contra os foros de civilização de quem a pratica. Será que a sede de poder obceca tanto as pessoas a ponto de fazê-las esquecer os mais comezinhos princípios de humanidade? Muitas coisa horripilantes e chocantes podem estar ocorrendo em tantas outras zonas de conflito mundo afora, como, por exemplo, em El Salvador, na Nicarágua, em Angola, na Etiópia, na Namíbia, no Sri Lanka, na Índia, etc.etc.etc., numa sucessão de nomes exóticos e de lugares miseráveis, em que feras se digladiam por míseras migalhas de poder, espelhadas em exemplos de crueldade e irracionalidade dados pelas duas superpotências!

O pior de tudo é que, a despeito da sucessão de denúncias, de relatórios contundentes, de matérias jornalísticas notáveis (como o documentários sobre os desaparecidos na Argentina, apresentado, há duas semanas, pelo canal 13 de Buenos Aires), os responsáveis por essas “proezas” permanecem impunes, salvo raríssimas exceções. Geralmente morrem de velhice e ainda ganham extensos necrológios, como se fossem personalidades ilustres que devam ser venerqadas. E os direitos humanos de suas vítimas, como ficam? Bem, estes soam pomposos numa plataforma eleitoral dos que, de fato, não lhes dão a mínima. Geralmente não passam de mera retórica, de simples propaganda enganosa, já que os que se dizem seus defensores nunca tiveram a menor intenção de protegê-los, respeitá-los e de assegurar sua sacralidade.

(Artigo publicado na editoria Internacional do Correio Popular, em 18 de julho de 1984).


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