Crime
premeditado cujas causas permanecem nebulosas
Pedro
J. Bondaczuk
O
brutal e despropositado assassinato do primeiro-ministro da Suécia,
Olof Palme, ocorrido sexta-feira passada, durante a madrugada, em uma
rua de Estocolmo. Deixou (como seria de se esperar) a todos chocados.
E não apenas a opinião pública sueca, país onde a sua perspicácia
política e sua convicção ideológica eram legendárias. Todos os
que conheciam e admiravam essa personalidade lamentaram o fato. Todo
assassinato, é verdade e é óbvio, choca aos que tomam conhecimento
desse crime. Mas este específico tem ingrediente especial que amplia
a revolta contra o autor desse ato de extrema violência, por vitimar
um homem cuja atuação pública se caracterizou pela defesa dos
oprimidos, dos discriminados e dos explorados, da Suécia e de fora
dela. Olof Palme pautou sua brilhante carreira política em três
princípios básicos: Pregou, por exemplo, incansavelmente, o fim da
imoral exploração dos países pobres, feita pelos ricos. Combateu,
com bastante vigor, os vários tipos de discriminação, notadamente
a racial. E lutou, finalmente, pela utopia de um mundo desarmado, não
somente no que se refere a armas (convencionais e nucleares), mas,
sobretudo, pelo desarmamento do espírito dos povos.
Como
se vê, o primeiro-ministro assassinato era um pacifista convicto e
coerente. Diferente desses que fazem enorme barulho, quando se trata
de apontar erros alheios (mas que por baixo do pano praticam o que
publicamente condenam). Suas ações eram coerentes com o que
pregava. Em suma, era um ser humano raro, desses que não abundam por
aí. Tolerante, sem ser omisso, aferrado a princípios humanistas,
sem descambar para o fanatismo, e pragmático, sem se valer da força
e da riqueza de seu país para impor suas ideias, Olof Palme fará
muita falta.
Foram
essas raras qualidades citadas que o tornaram querido e respeitado
pela população sueca, que comandou por onze anos, à frente de
cinco gabinetes, embora em períodos alternados. Foram elas, também,
que fizeram com que gozasse do prestígio e da admiração
internacionais, mesmo dos adversários que o combatiam ferrenhamente.
É tudo isso o que irá fazer com que o primeiro-ministro sueco
continue lembrado sempre que as questões do desarmamento e do
respeito aos direitos humanos forem levantadas.
Apesar
de vários grupos terroristas europeus reivindicarem a autoria dessa
despropositada barbaridade (como se ela fosse um galardão a se
ostentar), esse nebuloso e lamentável caso ainda permanece nebuloso.
O que se sabe (ou, pelo menos, o que se deduz) é que o criminoso
conhecia muito bem os hábitos de Olof Palme. Sabia, por exemplo, que
detestava andar pelas ruas da cidade em que nasceu protegido por
guarda-costas. Preferia caminhar sempre sozinho. Deve, por
conseguinte, ter ficado à espreita por vários dias, como se fora
venenosa cascavel à espera de dar o boter fatal.
No
momento que julgou oportuno, o assassino executou seu nefato ato com
uma frieza e precisão raras. Demonstrou um “profissionalismo”
característico dos mais letais matadores de aluguel. O assassinato,
por suas características, só pode ter sido perpetrado por encomenda
e dificilmente foi encomendado por algum sueco. Quem deve estar por
trás desse crime talvez seja algum dos tantos paranoicos de que o
mundo está repleto.
Olof
Palme foi abatido de uma forma, e em um momento em que não podia se
defender. Foi uma ação fulminante, como se atacado por algum animal
predador ou como a descarga elétrica letal de um raio. O assassino
foi súbito, frio, implacável, sem dar a menor chance de reação à
vítima. Chega-se a essa conclusão pela análise dos projéteis
(foram dois) disparados contra Palme. Foram projéteis raros, de
calibre 38, de um tipo especial, uma espécie de “dum dum”, que
se fragmentam ao atingirem o alvo, dilacerando artérias, veias,
nervos, músculos e até ossos.
O
difícil de se entender é o motivo de tamanha ira do matador e de
quem possivelmente encomendou o crime contra um homem que sempre
pregou a paz. Deve ser porque no dicionário dessas feras humanas tal
conceito soa como se fora um palavrão. Como esperar alguma coisa de
bom em um mundo em que homens do tipo de Olof Palme são ceifados do
convívio humano por pessoas intoxicadas pela violência?!
(Artigo
publicado na editoria Internacional do Correio Popular, em 4 de março
de 1986).
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