Notícia tendenciosa
Pedro J. Bondaczuk
A dramática situação social
vivida por parte expressiva da população brasileira gera alguns
episódios de manifesto equívoco em relação ao nosso País no
Exterior. Por razões que não se sabe quais sejam, existe, e há
tempos, autêntica campanha de desinformação sobre o que realmente
ocorre no Brasil.
Nossos problemas e desvios
comportamentais são aumentados, como se não passássemos de
monstros, de um povo bárbaro, enquanto que as virtudes que temos são
omitidas, como se não as tivéssemos. Não se trata de esconder as
injustiças sociais e descalabros que ocorrem por aqui, aliás,
fartamente noticiadas e criticadas, não sem razão. O que se pede,
porém, é que a verdade não seja distorcida. Que não se procure
fazer sensacionalismo em cima das nossas deficiências.
Este preâmbulo vem a
propósito de uma reportagem, feita por uma equipe de televisão da
BBC de Londres, exibida recentemente em toda a Grã-Bretanha, sobre a
cidade do Rio de Janeiro. Esse trabalho jornalístico, tendencioso,
conforme os que o assistiram, pintou a ex-capital brasileira como
autêntico inferno: cheia de miséria, violência e desrespeito pelo
ser humano.
Foi dito, na referida matéria,
que “chuvas torrenciais” (talvez os repórteres nos confundiram
com algum país asiático afetado pelas monções), “cadáveres nas
ruas” (não estariam querendo se referir a Beirute?) e “torcidas
de futebol ensandecidas são comuns” na segunda maior metrópole
brasileira.
Ninguém nega as carências da
chamada “Cidade Maravilhosa”, cujas maravilhas estão, de fato,
escasseando nestes tempos duríssimos do salve-se quem puder. A
violência no Rio é, realmente, grande, há pobreza por toda a parte
e a crise social aumentou muito a quantidade dos amigos do alheio.
Mas, evidentemente, nem tudo o que existe na cidade é ruim.
Torcidas de futebol
ensandecidas são as inglesas (remember a tragédia de Huysen, na
Bélgica, em maio de 1986, e a do estádio de Sheffield, no corrente
ano). Chuvas torrenciais são acidentes da natureza e a sua
freqüência na cidade é de uma por década, em média.
Cadáveres nas ruas Londres,
Birmingham, Liverpool e outras localidades britânicas também têm,
já que a criminalidade é um fenômeno mundial. Peste bubônica, se
existir, no Rio, é uma novidade até para os cariocas.
Onde se pretende chegar, pois,
com essa campanha calhorda, de desprestígio e desinformação,
contra o Brasil? Ademais, nossos problemas cabe a nós resolvermos,
embora boa parte deles seja causada por essa indecência, que é o
macrogolpe da dívida externa.
(Artigo publicado sob
pseudônimo na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 25 de
julho de 1989)
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