Marketing político de Collor
Pedro J. Bondaczuk
O presidente Collor de Mello
repetiu, no domingo, em Nova York (onde fez o discurso de abertura da
45ª Assembleia Geral das Nações Unidas, ontem) um ritual que já
virou rotina entre nós desde a sua posse, em 15 de março passado.
Fez o seu Cooper domingueiro, com ampla cobertura de alguns meios de
comunicação, revelando, ao público, seus dotes atléticos e seu
gosto pela aventura.
Muitos têm criticado esse
cultivo da imagem do jovem governante e alguns chegam, até mesmo, a
considerá-lo afrontoso, num país, como o nosso, com tantos e
tamanhos problemas, especialmente sociais. Mas haveria, de fato, algo
de tão errado ou insólito nessa atitude?
O presidente George Bush, por
exemplo, tem toda uma equipe preocupada, constantemente, com esse
aspecto, com o seu marketing político. A todo o momento são
exibidas fotos, gravados teipes, redigidos quilômetros de textos
para ressaltar alguma jogada boa, ou ruim, numa partida presidencial
domingueira de golfe, ou mostrar as pescarias que o chefe da Casa
Branca realiza quando se encontra na residência de veraneio de
Kennebunkport, no Estado do Maine, mesmo no calor de uma crise, como
a do Golfo Pérsico.
O mesmo cuidado existe em
relação a Mikhail Gorbachev, fixando, no público, não a imagem do
desportista, como no caso do governante norte-americano, mas do
negociador determinado e democrata, que defende apaixonadamente suas
ideias, mesmo em discussões na rua com populares.
Se isto é verdadeiro, ou
apenas pré-fabricado, é virtualmente impossível de se saber.
Idêntica preocupação com a imagem é demonstrada por Margaret
Thatcher, na Grã-Bretanha (apelidada de “Dama de Ferro”, por sua
determinação) e por François Mitterrand, na França (mostrado como
uma espécie de avô, sábio e ponderado) entre outros.
O que é errado é o exercício
do chamado “culto à personalidade”, que não é o caso,
evidentemente, do presidente brasileiro. Ocorre que passamos tantos
anos sob uma ditadura, que nem lembramos mais de como se procede numa
democracia.
É melhor (até em termos
estratégicos de negociação), que se passe a imagem do governante
do Brasil como a de um jovem moderno, dinâmico, ousado e com
espírito esportivo, do que a de um pedinte maltrapilho, ou de um
sanguinário ditador.
Na passagem de Collor por Nova
York, por exemplo, ontem, ele deu uma cartada de mestre em termos de
marketing político. Foi quando, ao depositar uma flor no memorial a
John Lennon, o Beatle assassinado em frente ao edifício em que
morava, por um fã desequilibrado, em 7 de dezembro de 1980, o
presidente brasileiro repetiu um verso de uma das canções mais
conhecidas dessa personalidade artística, que diz que devemos “dar
chances à paz”. É isso o que precisamos fazer, ao não buscarmos
achar apenas defeitos nos homens público.
(Artigo publicado na página
2, Opinião, do Correio Popular, em 25 de setembro de 1990)
Acompanhe-me pelo twitter: @bondaczuk
No comments:
Post a Comment