Monday, September 11, 2017

Marketing político de Collor



Pedro J. Bondaczuk


O presidente Collor de Mello repetiu, no domingo, em Nova York (onde fez o discurso de abertura da 45ª Assembleia Geral das Nações Unidas, ontem) um ritual que já virou rotina entre nós desde a sua posse, em 15 de março passado. Fez o seu Cooper domingueiro, com ampla cobertura de alguns meios de comunicação, revelando, ao público, seus dotes atléticos e seu gosto pela aventura.

Muitos têm criticado esse cultivo da imagem do jovem governante e alguns chegam, até mesmo, a considerá-lo afrontoso, num país, como o nosso, com tantos e tamanhos problemas, especialmente sociais. Mas haveria, de fato, algo de tão errado ou insólito nessa atitude?

O presidente George Bush, por exemplo, tem toda uma equipe preocupada, constantemente, com esse aspecto, com o seu marketing político. A todo o momento são exibidas fotos, gravados teipes, redigidos quilômetros de textos para ressaltar alguma jogada boa, ou ruim, numa partida presidencial domingueira de golfe, ou mostrar as pescarias que o chefe da Casa Branca realiza quando se encontra na residência de veraneio de Kennebunkport, no Estado do Maine, mesmo no calor de uma crise, como a do Golfo Pérsico.

O mesmo cuidado existe em relação a Mikhail Gorbachev, fixando, no público, não a imagem do desportista, como no caso do governante norte-americano, mas do negociador determinado e democrata, que defende apaixonadamente suas ideias, mesmo em discussões na rua com populares.

Se isto é verdadeiro, ou apenas pré-fabricado, é virtualmente impossível de se saber. Idêntica preocupação com a imagem é demonstrada por Margaret Thatcher, na Grã-Bretanha (apelidada de “Dama de Ferro”, por sua determinação) e por François Mitterrand, na França (mostrado como uma espécie de avô, sábio e ponderado) entre outros.

O que é errado é o exercício do chamado “culto à personalidade”, que não é o caso, evidentemente, do presidente brasileiro. Ocorre que passamos tantos anos sob uma ditadura, que nem lembramos mais de como se procede numa democracia.

É melhor (até em termos estratégicos de negociação), que se passe a imagem do governante do Brasil como a de um jovem moderno, dinâmico, ousado e com espírito esportivo, do que a de um pedinte maltrapilho, ou de um sanguinário ditador.

Na passagem de Collor por Nova York, por exemplo, ontem, ele deu uma cartada de mestre em termos de marketing político. Foi quando, ao depositar uma flor no memorial a John Lennon, o Beatle assassinado em frente ao edifício em que morava, por um fã desequilibrado, em 7 de dezembro de 1980, o presidente brasileiro repetiu um verso de uma das canções mais conhecidas dessa personalidade artística, que diz que devemos “dar chances à paz”. É isso o que precisamos fazer, ao não buscarmos achar apenas defeitos nos homens público.

(Artigo publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 25 de setembro de 1990)



Acompanhe-me pelo twitter: @bondaczuk

No comments: