Desafios urgentes
Pedro J. Bondaczuk
O deputado José Serra, num
artigo que publicou na edição de novembro de 1991 da revista
"Superinteressante", em determinado trecho, observou:
"No final deste século o
Brasil deverá enfrentar três grandes desafios: 1º) A curto prazo,
eliminar os desequilíbrios macroeconômicos que induzem à inflação
elevada; 2º) Abrir consideravelmente a economia, elevando seus
coeficientes de importação de 5% para algo superior a 10% do PIB;
3º) Reformar o sistema político e eleitoral, com vistas à
consolidação do processo democrático e à eliminação do hiato
existente entre os níveis de desenvolvimento econômico e de
desenvolvimento político do País".
Tais prioridades, sem dúvida,
estão corretas, embora não necessariamente nesta ordem. O que se
contesta é o prazo proposto pelo parlamentar. Os três desafios não
podem ser protelados por um único ano que seja. As mudanças
precisam ser feitas já, em 1993, aproveitando as reformas
constitucionais previstas para outubro, quando já será conhecida a
opção da população pelo sistema e forma de governo.
Nenhum dos três desafios foi
atacado com o vigor e a eficácia necessários até agora. Os
desequilíbrios macroeconômicos, principalmente a monumental dívida
interna (constantemente rolada à custa de juros exorbitantes) estão
aí, mais evidentes do que nunca, pressionando para o alto as taxas
de inflação.
A verdadeira causa desse
flagelo sequer foi tocada, daí os altos e baixos (mais os primeiros
do que os segundos) dos índices inflacionários. Controles de
preços, tentativas de acordos de cavalheiros ou choques ortodoxos,
heterodoxos, orto-heterodoxos, hetero-ortodoxos e todos os nomes que
se queiram dar, são absolutamente inúteis.
Não adianta atacar a febre,
mas sim a doença. É inútil qualquer combate ao efeito, mas é
indispensável que se chegue à causa da inflação.
Quanto à abertura do mercado,
o processo vem caminhando razoavelmente a contento. Em julho próximo,
por exemplo, haverá nova rodada de redução de alíquotas. O
comércio internacional é uma via de duas mãos. Se o País pretende
exportar, de fato, neste ano, US$ 50 bilhões em produtos --- meta
que nos parece um tanto megalomaníaca --- deve, necessariamente, dar
a contrapartida.
Mas a reforma do sistema
político e eleitoral, como temos afirmado e reiterado, é
fundamental. O Brasil não pode mais continuar como está:
absolutamente ingovernável. Nem importa se o caminho a ser seguido
seja o presidencialista ou o parlamentarista.
É indispensável que se faça
política de fato, e não politicagem como até aqui. O deputado José
Serra, no supramencionado artigo, conclui: "O presidencialismo
brasileiro transforma crises de governo em crises de regime;
dificulta as retificações necessárias nas políticas públicas;
exacerba os conflitos Executivo-Legislativo; fomenta as relações
clientelistas entre esses poderes; enfraquece os partidos e faz com
que o Parlamento se exima de maiores responsabilidades na condução
dos negócios governamentais". Isso precisa mudar o quanto antes
possível.
(Artigo publicado na página
2, Opinião, do Correio Popular, em 24 de janeiro de 1993).
Acompanhe-me pelo twitter: @bondaczuk
No comments:
Post a Comment