Wednesday, September 13, 2017

Pirataria aérea volta a ser rotina

Pedro J. Bondaczuk

Os sequestros de avião, após uma temporada relativamente calma, voltaram a agitar as manchetes internacionais, especialmente nas últimas seis semanas. Dos derradeiros cinco ocorridos, três envolveram sequestradores iranianos e dois os separatistas indianos da seita sikh, que querem transformar o estado do Punjab na República do Calistão.

Houve uma época, no início da década de 60, que esse tipo de pirataria aérea se tornou verdadeira rotina, com pelo menos um caso diário, em média. A maioria envolvia empolgados jovens esquerdistas, que queriam ver de perto (e de graça) a Cuba revolucionária de Fidel Castro, causando, inclusive, grandes problemas para o regime de Havana. A coisa chegou a tal ponto que bastava alguma pessoa um pouco mais nervosa chegar à porta da cabine de comando das aeronaves, para que o piloto logo dissesse a si próprio, até com enfado: - “Já sei, vamos para Cuba!”

Quando Fidel Castro começou a punir com prisão esses aventureiros, a ilha do Caribe deixou de ser polo de atração para os piratas aéreos, que certamente estão cientes de que com atos dessa natureza ganham um dia ou dois de notoriedade na imprensa e depois caem definitivamente no ostracismo, esquecidos para sempre no fundo de alguma cela de prisão. Alguém sabe o nome, por exemplo, do autor do último sequestro? Ou melhor diríamos, dos autores, já que foram sete os “sikhs” que passeariam pelo Paquistão e pelo Golfo Pérsico com o Boeing 737 da Air Indian, até que no sábado obtivessem asilo provisório em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos, de sete dias. Repetimos, alguém sabe, ou lembra dos seus nomes? Claro que não!

Nada é novo nesse tipo de ação. São sempre as mesmas ameaças (de explosão de aeronaves), geralmente feitas na base de blefes, pois quase sempre os sequestradores não têm em seu poder os explosivos e granadas que afirmam ter. Houve, até, um caso pitoresco de um aventureiro ter sequestrado um avião, há alguns anos, sem portar nenhuma arma, nem ao menos uma reles lâmina de barbear. Bastou que mantivesse o dedo em riste, dentro do bolso das calças, simulando o cano de uma pistola, para conseguir seu intento. Irônico ou trágico? É para se rir ou chorar?

A culpa dessas ocorrências, nos parece, é das autoridades responsáveis pela segurança dos aeroportos. E também das empresas aéreas, que ainda não puseram a imaginação para funcionar, no sentido de neutralizarem essa possibilidade. Ou, pelo menos, dificultá-la ao máximo. Por enquanto, não se registraram tragédias. E as poucas mortes havidas, até aqui, foram dos próprios piratas aéreos (como no caso do avião venezuelano, ocorrido há quase dois meses). Mas se continuar havendo tanta facilidade para a execução dessas aventuras, a qualquer momento poderemos ter ocorrências terríveis, cujas consequências nem mesmo ousamos prever.

(Artigo publicado na editoria Internacional do Correio Popular, em 29 de agosto de 1984).



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