Pirataria
aérea volta a ser rotina
Pedro
J. Bondaczuk
Os sequestros de avião, após
uma temporada relativamente calma, voltaram a agitar as manchetes
internacionais, especialmente nas últimas seis semanas. Dos
derradeiros cinco ocorridos, três envolveram sequestradores
iranianos e dois os separatistas indianos da seita sikh, que querem
transformar o estado do Punjab na República do Calistão.
Houve uma época, no início
da década de 60, que esse tipo de pirataria aérea se tornou
verdadeira rotina, com pelo menos um caso diário, em média. A
maioria envolvia empolgados jovens esquerdistas, que queriam ver de
perto (e de graça) a Cuba revolucionária de Fidel Castro, causando,
inclusive, grandes problemas para o regime de Havana. A coisa chegou
a tal ponto que bastava alguma pessoa um pouco mais nervosa chegar à
porta da cabine de comando das aeronaves, para que o piloto logo
dissesse a si próprio, até com enfado: - “Já sei, vamos para
Cuba!”
Quando Fidel Castro começou a
punir com prisão esses aventureiros, a ilha do Caribe deixou de ser
polo de atração para os piratas aéreos, que certamente estão
cientes de que com atos dessa natureza ganham um dia ou dois de
notoriedade na imprensa e depois caem definitivamente no ostracismo,
esquecidos para sempre no fundo de alguma cela de prisão. Alguém
sabe o nome, por exemplo, do autor do último sequestro? Ou melhor
diríamos, dos autores, já que foram sete os “sikhs” que
passeariam pelo Paquistão e pelo Golfo Pérsico com o Boeing 737 da
Air Indian, até que no sábado obtivessem asilo provisório em
Dubai, nos Emirados Árabes Unidos, de sete dias. Repetimos, alguém
sabe, ou lembra dos seus nomes? Claro que não!
Nada é novo nesse tipo de
ação. São sempre as mesmas ameaças (de explosão de aeronaves),
geralmente feitas na base de blefes, pois quase sempre os
sequestradores não têm em seu poder os explosivos e granadas que
afirmam ter. Houve, até, um caso pitoresco de um aventureiro ter
sequestrado um avião, há alguns anos, sem portar nenhuma arma, nem
ao menos uma reles lâmina de barbear. Bastou que mantivesse o dedo
em riste, dentro do bolso das calças, simulando o cano de uma
pistola, para conseguir seu intento. Irônico ou trágico? É para se
rir ou chorar?
A culpa dessas ocorrências,
nos parece, é das autoridades responsáveis pela segurança dos
aeroportos. E também das empresas aéreas, que ainda não puseram a
imaginação para funcionar, no sentido de neutralizarem essa
possibilidade. Ou, pelo menos, dificultá-la ao máximo. Por
enquanto, não se registraram tragédias. E as poucas mortes havidas,
até aqui, foram dos próprios piratas aéreos (como no caso do avião
venezuelano, ocorrido há quase dois meses). Mas se continuar havendo
tanta facilidade para a execução dessas aventuras, a qualquer
momento poderemos ter ocorrências terríveis, cujas consequências
nem mesmo ousamos prever.
(Artigo publicado na editoria
Internacional do Correio Popular, em 29 de agosto de 1984).
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