Três
sucessões com o uso da força
Pedro
J. Bondaczuk
O
Burundi é um desses pequenos países que os economistas costumam
classificar de “inviáveis”. Ou seja, trata-se de uma sociedade
nacional cuja capacidade de geração de riquezas é muito menor do
que a quantidade de bocas para alimentar e que, de ano para ano, vê
sua situação econômica ficar cada vez mais grave. Essa República
do Centro-Leste da [África é, na atualidade, ao lado de Burkina
Faso, de Bangladesh e de Moçambique, uma das mais pobres do Planeta.
Pois foi alui que ocorreu, ent5re anteontem e ontem, um, dos únicos
golpes de Estado bem suce4didos do ano. O major Pierre Buyoya, à
frente de um grupo de militares rebeldes, depôs o todo-poderoso
presidente (também fardado) Jean Baptiste Bagazza.
Falar
em instituições sólidas e democráticas de um povo cuja renda per
capita anda por volta de qualquer coisa parecida com US$ 210 anuais,
que tem um Produto Interno Bruto de US$ 1,1 bilhão (um quarto do
qual, US$ 300 milhões, comprometido com o Exterior em dívida
externa) é tempo perdido. Desde que o Burundi ficou independente da
Bélgica, em 1962, se separando de Ruanda, com a qual compunha a
colônia belga, teve, apenas, três governantes. Inicialmente, seus
primeiros passos como nação, foram dados como monarquia, sob o
reinado de Muabutsa IV, que em 1966 foi deposto por Michel Micombero.
Este,
para variar, teve destino semelhante em 1976. Foi posto para fora do
poder por Bagazza, que agora teve o mesmo tratamento. Foram,
portanto, apenas três governos em 25 anos e duas “guinadas” de
posições ideológicas. Primeiro, o Burundi alinhou-se com o leste
europeu. Posteriormente, pendeu para o Ocidente. E agora? O que virá?
Este país, em termos de África, tem uma particularidade: a maioria
da sua população professa a fé cristã. Quarenta e cinco por cento
são católicos, 10% protestantes e os 45% restantes são animistas.
O
presidente deposto, no entanto, vinha sendo intolerante com a prática
do catolicismo, dando motivo para levantes e protestos, isto desde
1984, quando se “reelegeu” com 99,63% de votos, em um arremedo de
eleição. Foi o candidato único, do único (logicamente) partido
local, o União pelo Progresso Nacional. O regime de Burundi,
portanto, pode ser tudo, menos democracia.
Ainda
não se sabe a tendência do novo governo. Desconhece-se o seu perfil
ideológico e os planos (será que tem?) para o país, se é que vai
se sustentar no poder. Mas a julgar pelo nome que a nova junta
militar escolheu para se auto-rotular, ela não promete muita
durabilidade: “Comitê Militar de Redenção Nacional”. Isto tem
o aspecto de algo dejá vu, como diriam os habitantes de Burundi, em
castiço francês, o idioma oficial do país. E como tem, ora, ora!!!
(Artigo
publicado na editoria Internacional do Correio Populqar, em 4 de
setembro de 1987).
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