Tuesday, September 19, 2017

Três sucessões com o uso da força

Pedro J. Bondaczuk

O Burundi é um desses pequenos países que os economistas costumam classificar de “inviáveis”. Ou seja, trata-se de uma sociedade nacional cuja capacidade de geração de riquezas é muito menor do que a quantidade de bocas para alimentar e que, de ano para ano, vê sua situação econômica ficar cada vez mais grave. Essa República do Centro-Leste da [África é, na atualidade, ao lado de Burkina Faso, de Bangladesh e de Moçambique, uma das mais pobres do Planeta. Pois foi alui que ocorreu, ent5re anteontem e ontem, um, dos únicos golpes de Estado bem suce4didos do ano. O major Pierre Buyoya, à frente de um grupo de militares rebeldes, depôs o todo-poderoso presidente (também fardado) Jean Baptiste Bagazza.

Falar em instituições sólidas e democráticas de um povo cuja renda per capita anda por volta de qualquer coisa parecida com US$ 210 anuais, que tem um Produto Interno Bruto de US$ 1,1 bilhão (um quarto do qual, US$ 300 milhões, comprometido com o Exterior em dívida externa) é tempo perdido. Desde que o Burundi ficou independente da Bélgica, em 1962, se separando de Ruanda, com a qual compunha a colônia belga, teve, apenas, três governantes. Inicialmente, seus primeiros passos como nação, foram dados como monarquia, sob o reinado de Muabutsa IV, que em 1966 foi deposto por Michel Micombero.

Este, para variar, teve destino semelhante em 1976. Foi posto para fora do poder por Bagazza, que agora teve o mesmo tratamento. Foram, portanto, apenas três governos em 25 anos e duas “guinadas” de posições ideológicas. Primeiro, o Burundi alinhou-se com o leste europeu. Posteriormente, pendeu para o Ocidente. E agora? O que virá? Este país, em termos de África, tem uma particularidade: a maioria da sua população professa a fé cristã. Quarenta e cinco por cento são católicos, 10% protestantes e os 45% restantes são animistas.

O presidente deposto, no entanto, vinha sendo intolerante com a prática do catolicismo, dando motivo para levantes e protestos, isto desde 1984, quando se “reelegeu” com 99,63% de votos, em um arremedo de eleição. Foi o candidato único, do único (logicamente) partido local, o União pelo Progresso Nacional. O regime de Burundi, portanto, pode ser tudo, menos democracia.

Ainda não se sabe a tendência do novo governo. Desconhece-se o seu perfil ideológico e os planos (será que tem?) para o país, se é que vai se sustentar no poder. Mas a julgar pelo nome que a nova junta militar escolheu para se auto-rotular, ela não promete muita durabilidade: “Comitê Militar de Redenção Nacional”. Isto tem o aspecto de algo dejá vu, como diriam os habitantes de Burundi, em castiço francês, o idioma oficial do país. E como tem, ora, ora!!!

(Artigo publicado na editoria Internacional do Correio Populqar, em 4 de setembro de 1987).



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