Nação e Estado
Pedro J. Bondaczuk
A Nação assiste,
entristecida, à crise institucional que se desenrola na "ilha
da fantasia" de Brasília, que não é sua, mas do Estado, que a
deveria representar e organizar. A tristeza não se prende à
controvérsia em si, já que estas são fatos normais num sistema que
se pretende democrático.
O que entristece é o motivo
do jogo de braço entre o Executivo, o Legislativo e o Judiciário:
salários. Bem, diria o leitor, a questão salarial não é
relevante? É, e muito! Mas o que esses ilustres senhores estão
tratando não é da "nossa" remuneração, mas da "deles".
A Nação, todavia, bem ou
mal, continua acreditando --- embora já não muito --- em saudáveis
e urgentes mudanças. Trabalha, produz, gera impostos, sofre, ri,
diverte-se, enfim, vive. À revelia de um Estado hiperdimensionado e
ineficiente. Manifestação de pujança e de amor ao Brasil foi dada,
por exemplo, no Estádio do Arruda, no Recife, antes do jogo entre a
seleção brasileira e a da Argentina, quando cerca de 90 mil
torcedores cantaram o Hino Nacional.
De forma desafinada, é
verdade. Tropeçando na letra, como foi fácil de notar. Mas foi um
ato simples, que demonstrou que a população, apesar do desgoverno e
dos descalabros, a despeito dos oportunismos e das omissões, mesmo
sofrida, desencantada e decepcionada, embora aparentemente pessimista
e excessivamente crítica, no íntimo, confia em seu país.
A crise do Brasil real é
originária do seu antípoda, o da Fantasia. É provocada pelos que
perderam de vista o sentido da função pública, do dever, do
compromisso assumido nos palanques. É gerada por homens que não
possuem visão histórica, que são imediatistas, de olho em
interesses pessoais, sem atentar que eles seriam melhor defendidos
quando integrados aos de todos os brasileiros.
De que me vale ser rico num
país pobre? O Brasil real não é o deles. É o de Herbert de Souza,
o Betinho. É o dos milhares de médicos, professores, engenheiros,
técnicos e operários braçais que, mesmo mal remunerados,
desassistidos e anônimos, movimentam a Nação.
Por que a população ainda
insistem em confiar? Porque sabe que as pessoas passam, mas os ideais
permanecem. Essa geração de homens públicos insensatos, embora não
se dê conta disso e se julgue invulnerável, inatingível,
inalcançável, vai passar. Mas o Brasil real, sofrido, judiado e com
milhões de excluídos, este irá permanecer.
(Artigo publicado na página
2, Opinião, do Correio Popular, em 26 de março de 1994).
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