Congresso será mais cobrado
Pedro J. Bondaczuk
O Congresso Nacional,
finalmente, saiu da sua letargia pré-eleitoral e conseguiu aprovar,
anteontem, depois de dois meses de tentativas frustradas por falta de
quorum, a revisão do orçamento deste ano. Logrou, portanto,
desemperrar o governo, ameaçado de paralisação por falta de
dinheiro.
Apenas este simples fato
mostra o quanto foi decepcionante a atuação dos atuais
legisladores, dos quais se esperava tanto, já que foram eleitos com
a função principal de elaborar a nova Constituição do País. A
Carta Magna, cheia de deficiências e contradições, levou dois anos
para ser redigida, votada, aprovada e sancionada, um tempo recorde,
evidentemente para mais, em termos de Assembléia Nacional
Constituinte.
Não era, portanto, para sair
com os defeitos que saiu, convenhamos. Para complicar, parte
considerável de importantes dispositivos constitucionais ainda
carece de regulamentação, sem a qual não pode ser aplicada.
Como se vê, o atual
Congresso, que está se despedindo, não primou pelo amor ao
trabalho. O engraçado é que em véspera de eleições, alguns
candidatos já adotaram, até como chavão, dizer em comícios que
não prometem nada aos eleitores a não ser "trabalhar" em
defesa dos interesses coletivos.
Todavia, não foi isso o que
se viu nos últimos penosos e frustrantes quatro anos. Daí o
protesto --- inócuo e perigoso --- dos cidadãos nas recentes
eleições.
Ao votarem em branco e
anularem votos, as pessoas que agiram dessa maneira, em virtude da
inadequação de próprio processo eleitoral, concederam mais quatro
anos aos inaptos, preguiçosos e incompetentes. Por outro lado,
puniram duramente os eficientes, que não dispuseram de tempo e
dinheiro para bajular os incautos e os que se deixam vender por um
empreguinho barato, quando não por uma simples cesta básica. Como
conseqüência, embora os resultados finais das eleições ainda não
tenham sido divulgados, o índice de renovação do Legislativo será
muito menor do que o esperado.
Desta vez, todavia, a
sociedade certamente estará atenta à atuação dos congressistas.
Eles sabem que as cobranças serão maiores, muito maiores do que as
feitas até aqui. Não se concebe que o País, que empreende esforços
sobreumanos de modernização e de tentativas de sair da crise e
voltar a crescer, fique emperrado por causa da inércia de um de seus
Três Poderes.
Todos viram os expedientes
utilizados pelos parlamentares que se elegeram. Testemunharam o
desespero de alguns para conquistar uma vaga no Congresso. Agora,
mais do que nunca, os eleitos têm a obrigação de mostrar serviço,
no mínimo comparecendo ao trabalho.
(Artigo publicado na página
2, Opinião, do Correio Popular, em 18 de outubro de 1990).
Acompanhe-me pelo twitter: @bondaczuk
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