A maldição do vice
Pedro J. Bondaczuk
A vitória do
presidencialismo, no recém-findo plebiscito para a escolha do regime
e do sistema de governo para o País, e o pré-lançamento da
candidatura para a sucessão do presidente Itamar Franco –
prematuro e tendente a desgastar os mais afoitos – impõem cautela
num ponto em que os partidos nunca mostraram maiores preocupações:
a escolha do candidato à Vice-Presidência em suas chapas.
Até aqui, três candidaturas
foram utilizadas apenas como meios para amarrar alianças
partidárias. E raros foram os escolhidos pelo critério de liderança
e capacidade plena para substituir o titular em alguma eventualidade.
Esta omissão já custou ao
País inúmeros sobressaltos, gerou crises, ameaçou as instituições
e foi motivo, inclusive, de golpe de Estado. Sete vice-presidentes,
incluindo Itamar Franco, tiveram que substituir presidentes ao longo
dos quase 104 anos de República. E, em raras, raríssimas ocasiões,
essa sucessão foi tranqüila, pacífica, consensual e automática.
O primeiro desses casos
ocorreu, justamente, com o marechal que pela primeira vez ocupou a
Presidência, Deodoro da Fonseca, que renunciou, intempestivamente,
ao posto em 23 de novembro de 1891. Assumiu o seu vice, igualmente um
militar, Floriano Peixoto, que precisou usar de pulso firme para
impedir que o País descambasse para o caos e a anarquia, ganhando o
apelido de “Marechal de Ferro”.
Em 14 de junho de 1909, o
Brasil viveu outro drama semelhante, com a inesperada morte de Afonso
Pena. Nilo Peçanha, então desconhecido, assumiu a Presidência, até
a convocação de novas eleições. Em 15 de novembro de 1918, pela
terceira vez em menos de três décadas, de novo os brasileiros
tiveram que conviver com a incerteza.
A pouco mais de dois meses de
sua posse, o paulista Francisco de Paula Rodrigues Alves foi vitimado
pela gripe espanhola e veio a falecer, sendo impedido, dessa forma,
pelas circunstâncias, de ocupar, de novo, o cargo que tão bem
exerceu de 1902 a 1906. Foi sucedido pelo vice, Delfim Moreira.
O quarto caso ocorreu 36 anos
depois, com o suicídio de Getúlio Vargas, em 24 de agosto de 1954,
no auge de uma crise política que colocou o País na iminência de
um golpe de Estado. A trágica morte do caudilho gaúcho evitou a
ruptura da ordem institucional, mas jogou a Nação num período de
instabilidade, diante da fraqueza do seu vice, Café Filho. Em um
único ano, tivemos três ocupantes do Catete, o então palácio
presidencial: o próprio Café Filho, Carlos Luz e Nereu Ramos.
O quinto caso, o de João
Goulart, após a intempestiva renúncia de Jânio Quadros, em 25 de
agosto de 1961, desembocou na Revolução de 1964. Dispensa maiores
comentários. O sexto episódio dramático deu-se em 15 de março de
1985, quando o País foi surpreendido com a doença de Tancredo
Neves, a poucas horas da sua posse.
Assumiu, em seu lugar, o vice
da aliança, pela governabilidade, José Sarney, e o carismático
político mineiro viria a falecer no Dia de Tiradentes (37 dias
depois), após longo sofrimento que comoveu o Brasil.
O sétimo é Itamar Franco
(conta de mentiroso?), que todos torcem para que acabe com essa
espécie de maldição que pesa contra os companheiros de chapa de
presidentes eleitos e faça um surpreendente fim de governo, capaz de
nos tirar da crise. Tempo para isso ainda lhe resta.
(Artigo publicado na página
2, Opinião, do Correio Popular, em 26 de abril de 1993)
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