Friday, September 29, 2017

Medo que não tem fundamento



Pedro J. Bondaczuk


A possibilidade de que um candidato de esquerda ou de direita radical possa vir a ser eleito sucessor do presidente José Sarney, está provocando sustos em determinados segmentos da sociedade, sobretudo por desinformação. Por isso, certos espertalhões estão se valendo da situação para faturar alto em cima, principalmente no mercado financeiro, através da perniciosa “indústria do boato”, gerando inquietação na praça e, por conseqüência, causando altas excessivas em determinados ativos, como ouro e dólar, em detrimento de outros.

O interessante é que ainda há ingênuos que caem nessas esparrelas e, evidentemente, acabam sendo “depenados”. Sofrem prejuízos enormes, somente porque não são bem informados, o que nessa atividade chega a ser até mesmo fatal.

É bom que se frise que o próximo presidente eleito, qualquer que seja a sua tendência ideológica ou matiz político, vai ter que governar com a nova Constituição, que reduziu, em muito, os poderes do Executivo. E ele não poderá fugir disso, sob pena de ser votado o seu impeachment. Portanto, muita coisa que os candidatos estão dizendo que vão fazer, em seu espaço no programa eleitoral gratuito das emissoras de rádio e televisão, serve, somente, para enganar os incautos e mal informados.

A Constituição, promulgada em 5 de outubro de 1988, que tem boa parte dos seus dispositivos ainda à espera de legislação complementar que a regulamente, possui um cunho francamente parlamentarista. Qualquer medida de impacto da Presidência carece da aprovação do Congresso.

O chefe do Poder Executivo foi privado do recurso do decreto-lei. O máximo que pode fazer é baixar medidas provisórias, e assim mesmo para assuntos extremamente relevantes, que por sua vez dependem de aprovação ou não dos congressistas e com vigência de 30 dias, que são renováveis.

Para se modificar esse quadro, é necessária a aprovação de alguma emenda constitucional. Mas, para isso, o presidente terá que dispor de dois terços dos votos no Congresso o que, convenhamos, nesse momento em particular, não passa de um sonho.

Por isso, não há motivo algum para traumas ou agitações, de quem quer que seja, qualquer que venha a ser o resultado das urnas de 15 de novembro e em especial do segundo turno, possivelmente em 17 de dezembro. Afinal, embora muitos ainda não tenham percebido, somos uma democracia...finalmente...

(Artigo meu, publicado sob o pseudônimo de Alex H. Bentley, na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 28 de outubro de 1989).



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