Wednesday, September 20, 2017

Momento de definições


Pedro J. Bondaczuk


O momento atual, de definições políticas e econômicas que não podem mais ser adiadas, é dos mais ricos em termos de possibilidades, embora implique em escolhas que podem melhorar ou piorar o País. Está em andamento um plano de estabilização de médio prazo, gerando tensões e incertezas em trabalhadores, banqueiros e empresários.

Ainda mais quando se sabe que o condutor do programa, o ministro da Fazenda, Fernando Henrique Cardoso, está em vias de deixar o cargo para postular responsabilidade ainda maior: a Presidência da República.

Os partidos movimentam-se, lançando "balões de ensaio" sobre eventuais candidaturas, traçando estratégias e negociando alianças. Aos poucos, o quadro sucessório começa a ganhar contornos mais nítidos, menos provisórios, que se consolidarão de vez a partir de maio, quando da realização das convenções partidárias.

E a revisão constitucional, mais uma vez alardeada pelos demagogos como a "salvação da lavoura", a quantas anda? Segue um ritmo irritantemente moroso. Até mesmo matérias tidas como consensuais arrastam-se em discussões, quando não se tropeça na crônica falta de quorum.

Os "gazeteiros", aqueles que não exercem com a devida responsabilidade a procuração que o eleitorado lhes conferiu nas urnas, nas eleições passadas, seguem ditando o ritmo do processo. Ou seja, a passos de tartaruga.

Outro assunto pendente, a exigir as atenções gerais, é o da cassação dos que foram apontados como integrantes da quadrilha que lesou o Orçamento da União no relatório da Comissão Parlamentar de Inquérito, instalada em outubro passado, para investigar um dos maiores escândalos envolvendo o Parlamento brasileiro.

Como se esperava, o processo emperrou na Comissão de Constituição e Justiça da Câmara dos Deputados e a própria imprensa se desinteressou do assunto, por absoluta falta de novidades.

Por enquanto, o único "anão" envolvido na monumental mazela, a pique de ser cassado, é o considerado "chefe" deles, o "sortudo" João Alves. Quanto aos demais... Por enquanto, nada. Há, como escrevemos neste mesmo espaço, tempos atrás, "um terrível cheiro de pizza no ar".

Tomara que estejamos enganados, para o bem da credibilidade do Congresso, instituição de fundamental importância em qualquer democracia que se preze, que deve ter na ética o seu fundamento maior.

As preocupações gerais, por enquanto, como é óbvio, giram em torno da já emblemática Unidade Real de Valor, a tão comentada e pouco compreendida URV. Os trabalhadores argumentam com perdas salariais na correção de seus salários, os oligopólios --- tão comentados, mas raramente identificados com a figura fantasmagórica do "atravessador" --- a pretexto de jogarem na defensiva, remarcam seus produtos, sem esta ou mais aquela, em 50%, 100%, 180%, 250%, de acordo com sua delirante fantasia e falta de patriotismo (para não dizer outra coisa).

De qualquer forma, bem ou mal, já que estamos neste barco e não sabemos como mudar seu rumo, a melhor política é cooperar. Quem sabe desta vez, pelo fato de estarmos absolutamente descrentes do sucesso da empreitada, acabaremos ancorando em algum porto seguro. Tomara que sim, para que finalmente nossa vida adquira algum sentido que não seja apenas o de como pagar nossas contas no final de cada mês.

(Artigo publicado na página 2, Opinião, da Folha do Taquaral, em 19 de março de 1994).


Acompanhe-me pelo twitter: @bondaczuk

No comments: