Momento de definições
Pedro J. Bondaczuk
O momento atual, de definições
políticas e econômicas que não podem mais ser adiadas, é dos mais
ricos em termos de possibilidades, embora implique em escolhas que
podem melhorar ou piorar o País. Está em andamento um plano de
estabilização de médio prazo, gerando tensões e incertezas em
trabalhadores, banqueiros e empresários.
Ainda mais quando se sabe que
o condutor do programa, o ministro da Fazenda, Fernando Henrique
Cardoso, está em vias de deixar o cargo para postular
responsabilidade ainda maior: a Presidência da República.
Os partidos movimentam-se,
lançando "balões de ensaio" sobre eventuais candidaturas,
traçando estratégias e negociando alianças. Aos poucos, o quadro
sucessório começa a ganhar contornos mais nítidos, menos
provisórios, que se consolidarão de vez a partir de maio, quando da
realização das convenções partidárias.
E a revisão constitucional,
mais uma vez alardeada pelos demagogos como a "salvação da
lavoura", a quantas anda? Segue um ritmo irritantemente moroso.
Até mesmo matérias tidas como consensuais arrastam-se em
discussões, quando não se tropeça na crônica falta de quorum.
Os "gazeteiros",
aqueles que não exercem com a devida responsabilidade a procuração
que o eleitorado lhes conferiu nas urnas, nas eleições passadas,
seguem ditando o ritmo do processo. Ou seja, a passos de tartaruga.
Outro assunto pendente, a
exigir as atenções gerais, é o da cassação dos que foram
apontados como integrantes da quadrilha que lesou o Orçamento da
União no relatório da Comissão Parlamentar de Inquérito,
instalada em outubro passado, para investigar um dos maiores
escândalos envolvendo o Parlamento brasileiro.
Como se esperava, o processo
emperrou na Comissão de Constituição e Justiça da Câmara dos
Deputados e a própria imprensa se desinteressou do assunto, por
absoluta falta de novidades.
Por enquanto, o único "anão"
envolvido na monumental mazela, a pique de ser cassado, é o
considerado "chefe" deles, o "sortudo" João
Alves. Quanto aos demais... Por enquanto, nada. Há, como escrevemos
neste mesmo espaço, tempos atrás, "um terrível cheiro de
pizza no ar".
Tomara que estejamos
enganados, para o bem da credibilidade do Congresso, instituição de
fundamental importância em qualquer democracia que se preze, que
deve ter na ética o seu fundamento maior.
As preocupações gerais, por
enquanto, como é óbvio, giram em torno da já emblemática Unidade
Real de Valor, a tão comentada e pouco compreendida URV. Os
trabalhadores argumentam com perdas salariais na correção de seus
salários, os oligopólios --- tão comentados, mas raramente
identificados com a figura fantasmagórica do "atravessador"
--- a pretexto de jogarem na defensiva, remarcam seus produtos, sem
esta ou mais aquela, em 50%, 100%, 180%, 250%, de acordo com sua
delirante fantasia e falta de patriotismo (para não dizer outra
coisa).
De qualquer forma, bem ou mal,
já que estamos neste barco e não sabemos como mudar seu rumo, a
melhor política é cooperar. Quem sabe desta vez, pelo fato de
estarmos absolutamente descrentes do sucesso da empreitada,
acabaremos ancorando em algum porto seguro. Tomara que sim, para que
finalmente nossa vida adquira algum sentido que não seja apenas o de
como pagar nossas contas no final de cada mês.
(Artigo publicado na página
2, Opinião, da Folha do Taquaral, em 19 de março de 1994).
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