A passos de tartaruga
Pedro J. Bondaczuk
O País está mudando para
melhor, afirmam amiúde os políticos, em especial os ligados ao
governo. Pode ser, mas se as mudanças estão acontecendo, são a
passos de tartaruga, muito lentas e quase imperceptíveis. O que pode
ter mudado é a retórica e a ênfase dada a determinados problemas,
que continuam sendo "empurrados com a barriga", mas não
resolvidos.
Uma rápida olhada no
noticiário dos últimos dias revela as mesmas mazelas de sempre,
tanto dos homens públicos, quanto de instituições e da sociedade.
Na área da saúde, por exemplo, o caos continua instalado.
Há falta de vacina, há
imunizante contaminado tendo que ser recolhido, há bebês morrendo
em berçários em quantidades além das normais para o País ---
aliás detentor de altíssima mortalidade infantil --- em hospitais
de Boa Vista, Fortaleza, Vitória, Maceió e Niterói.
Não bastasse isso, a cada dia
surgem mais notícias sobre os resultados catastróficos das
carências hospitalares. Quem sofre, evidentemente, é sempre a
camada de baixa renda, que não pode bancar um plano de saúde, nem
mesmo o mais modesto deles.
Quanto à corrupção, embora
seja caso ainda para se investigar e não se possa fazer
prejulgamentos, vem à tona nova denúncia contra a malfadada
Comissão do Orçamento. Desta vez, o denunciante não foi a
imprensa, mas o ministro do Meio Ambiente e Recursos Naturais
Renováveis, Gustavo Krause.
O denunciado é o deputado
Pedrinho Abrão (PTB-GO), líder do partido na Câmara. O parlamentar
teria tentado receber 4% de comissão para manter no orçamento de
1997 os recursos para a construção de uma barragem no Ceará.
Compete ao Congresso dar satisfação à opinião pública, até para
preservar sua imagem, que nesta legislatura não estava tão má
quanto nas anteriores.
Mas a sociedade não está
isenta de corrupção. Prova disso é a descoberta, por parte da
Fundação Cesgranrio, da fraude no vestibular envolvendo pelo menos
77 estudantes. Eles faziam prova utilizando relógios de fabricação
suíça que funcionavam como receptores de mensagens numéricas
luminosas correspondentes às respostas do gabarito. Cinqüenta e
oito desses dispositivos já foram apreendidos.
E o que dizer da polícia? O
que falar dos casos de tortura denunciados ou comprovados? Como
encarar o episódio do menino Deivyson André da Silva, que garantiu
haver sido seqüestrado e mantido cativo por dois anos e sete meses,
quando tudo indica que não foi?
A polícia não entendeu assim
e, precipitadamente, sem a devida apuração, prejulgou e prendeu
Geovan Joaquim da Silva e Amarildo Batista Fernandes, que foram
espancados, torturados e violentados na cadeia pelos presos. E a
tortura dos falsos autores do assalto e dos assassinatos do Bar
Bodega? Se o País está mudando, quase nem dá para notar...
(Artigo escrito em 5 de
dezembro de 1996)
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