Saturday, September 02, 2017

Tarefa e ferramenta


Pedro J. Bondaczuk


O brasileiro tem em suas mãos a possibilidade de modificar a atual situação do País, afetado por uma crise que virtualmente se eternizou e cujos reflexos sociais estão aí para quem quiser ver. Basta que vote, e de maneira adequada, consciente e inteligente nas próximas eleições.

É preciso que escolha um bom governo, mas que seja homogêneo. Não basta eleger fulano, sicrano ou beltrano para a Presidência sem lhe conferir, igualmente, maioria no Congresso. Todos vimos no que deu a escolha de Fernando Collor, sem que ele contasse com maioria parlamentar.

Cometeram-se, portanto, dois erros simultâneos em 1989. Foi eleito um presidente sem a mínima condição para fazer uma boa administração e, de quebra, este não contou com o indispensável respaldo congressual.

Claro que ninguém pode saber com antecedência qual dos candidatos é o melhor, quem é aquele há tanto aguardado para liderar a sociedade na tarefa da redenção nacional. Até porque, as simples aparências enganam. Saberemos se votamos bem ou não apenas pelos resultados do próximo governo que tivermos escolhido.

Além disso, a sociedade não pode cair na esparrela de dar uma carta branca a quem for eleito. Precisa permanecer atenta, participativa, fiscalizadora, cobrando as promessas feitas nos palanques. Quem poderia imaginar, em novembro de 1989, que a gestão de Collor já começaria com suspeitas, posteriormente com denúncias e mais tarde com comprovações de corrupção entre seus ministros:? Não era ele o autodenominado "caçador de marajás"? A presunção lógica era a de que fosse, sobretudo, bom árbitro de caráter. Mas não era.

Portanto, às promessas dos candidatos o eleitor deve juntar referências sobre sua vida. Pesquisar seus antecedentes nos cargos que ocuparam. Saber qual foi o seu desempenho e conhecer o nível de competência demonstrado.

O voto não pode ser emocional, por mero palpite ou atribuído na base da simpatia ou da antipatia pessoal. Até porque, todo o malandro costuma ser simpático, caso contrário não conseguiria fazer "caixa" sequer para o cafezinho. E o mais importante a destacar, e a reiterar quantas vezes se fizer necessário: de nada vale conferir responsabilidade a um homem se não forem dadas a ele "ferramentas" para a execução do trabalho.

O próximo presidente precisará contar com governabilidade. Para tanto, é importantíssimo que disponha de maioria parlamentar, para que não esbarre na inércia e não seja vítima de chantagem política de um Congresso hostil.

(Artigo publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 3 de junho de 1994).



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