Motivações de escolha
Pedro J. Bondaczuk
O que motiva as pessoas nas escolhas pessoais e/ou profissionais que
fazem e que tendem a determinar os rumos de suas vidas? No caso de
profissões, a maioria leva em conta, principalmente, a remuneração
que se pode obter com a atividade escolhida (médico, advogado,
engenheiro, jornalista, atleta profissional, cantor popular etc.) e,
conseqüentemente, o status que se pode obter com ela. Fizeram a
opção correta? Equivocaram-se na escolha? É difícil de saber
antes de se conhecer os resultados finais. Afinal, fracasso e
sucesso, na maioria dos casos, são muito subjetivos, mera questão
de ponto de vista.
Caso levem em conta suas aptidões e talentos, essas pessoas tendem a
se dar bem (não necessariamente, claro, pois dependem de vários
fatores, entre os quais, os principais são as circunstâncias e as
oportunidades). Em caso contrário... São inúmeras as histórias de
fracassos de indivíduos que tinham tudo para vencer em suas
atividades e, no entanto, se decepcionaram e decepcionaram os que
acreditavam nelas. Fizeram escolhas equivocadas? Ou as motivações é
que não eram as mais pragmáticas e se mostraram frágeis para lhes
garantir o sucesso? Ou as duas coisas? Há casos e mais casos e não
se pode generalizar.
Somos, porém, via de regra, afoitos e severos em demasia no
julgamento dos atos e obras alheios. Exigimos dos outros
comportamentos e atitudes que não temos e não admitimos outra coisa
neles se não a perfeição. Por que essa postura, se somos tão
imperfeitos? É verdade que somos julgados da mesma forma e, não
raro, nos rebelamos com esses julgamentos e nos sentimos sumamente
injustiçados com eles, esquecidos que, igualmente, somos muitíssimo
injustos.
E mesmo quando agimos com justiça, deixamos de lado um ingrediente
altamente desejável: a misericórdia. Aliás, a mesma que queremos
para nós e para as nossas fraquezas e contradições. Somos
implacáveis em nossos julgamentos. Todos os princípios humanos são
imperfeitos e falhos, como a verdade (mal recompensada para os que a
buscam com exemplar dedicação), a justiça (raríssimas vezes
“cega” e imparcial), além das características encaradas
ostensivamente como deficiências de caráter, como orgulho, ambição
e vaidade, entre outros.
Teoricamente, quando escolhemos alguma atividade, que seja compatível
com o nosso preparo e talento, pesamos (e tacitamente aceitamos)
todas suas vantagens e riscos. Mas não raro exigimos dos outros
muito mais do que eles podem dar. Não os encaramos como seres
humanos, dotados das mesmas vulnerabilidades e fraquezas que nós.
Falta-nos o devido senso de proporção.
Reitero: carecemos do maior atributo de Deus, de quem somos imagem e
semelhança: infinita misericórdia. Morris West escreveu a respeito,
no romance “A Estrada Sinuosa”: “A verdade? Uma dedicação
sagrada, mas um serviço mal-agradecido. Justiça? Uma deusa cega
cuja balança nunca se equilibra perfeitamente. Orgulho? Ambição?
Vaidade? Tudo isso tem importância num homem, mas não se explica.
Escolhe-se uma profissão em que se deseja triunfar. Apreciam-se as
suas recompensas. Aceitam-se as suas limitações. Compartilha-se a
responsabilidade dos seus males. Um homem e a sua obra têm de ser
julgados no estado e condição a que ele pertence. O próprio Deus
Todo Poderoso tempera a justiça absoluta com uma infinita
misericórdia”.
Aspiramos, sobretudo, a eternidade, mas nossas pretensões esbarram
na realidade da nossa pequenez e efemeridade. Alguns creem que nossa
presença na Terra é apenas uma passagem, uma preparação, um
aprendizado para algo melhor e duradouro, em outra condição
desconhecida.
Claro que se trata, apenas, de questão de fé, sem a mínima
fundamentação em provas. Outros, por sua parte, acham que nossa
existência, enquanto seres racionais, se extingue com a extinção
do corpo e que, se não aproveitarmos esta vida, não teremos outra
para recuperar o tempo perdido. Aparentemente, é.
Com quem está a razão? Com os que acreditam em eternidade, sem este
frágil invólucro de carne, ossos, sangue e vísceras que abriga
nossa consciência? Ou com os que creem que a matéria é a única
realidade e que por isso, não se cria e não se perde, mas apenas se
transforma? E que apregoam que, o que chamamos de “alma”, não
passa de mera função biológica do cérebro?
Cada qual tem uma crença a propósito, de acordo com sua formação
intelectual e espiritual. Mas certeza, certeza mesmo, ninguém tem
(creio que jamais terá), nem a esse respeito e nem a propósito de
nada. Muito menos se suas escolhas – motivadas, via de regra, por
fantasias, sem nada de objetivo –, foram, são ou serão as
corretas e adequadas. Sucesso e fracasso andam lado a lado e são
sumamente subjetivos.
Para uns, somos uma “casta de condenados” à absoluta extinção,
sem deixar, a longo prazo, o mínimo vestígio da nossa passagem por
este recôndito e ínfimo recanto do universo. Para outros, somos
eternos e indestrutíveis, pelo menos no que diz respeito à nossa
tão misteriosa parte imaterial e nossos fracassos são somente
passageiros, quando não apenas aparentes.
O poeta paulista Y. Fujyama encerra seu poema “Opus Zero” com
estes versos instigantes, a esse propósito:
“Que representaria o perpetuar-se
de um canto se a certeza do eterno
bafejasse os seus passos? Oh! Incerto,
trivial alimento de uma casta de condenados!”
Seríamos mera matéria, que por um capricho da natureza adquiriu,
por certo tempo (que varia de uma pessoa para outra), a capacidade de
inteligência e consciência e que um dia se transformará, para
sempre, em algo inconsciente, “em pó” ou alguma coisa que o
valha, ou temos uma alma imortal, destinada a gozar de ventura
eterna? Eu não sei! Você, por acaso, sabe (não perguntei se
“acredita”)? E, caso a resposta seja positiva, pode provar esse
seu conhecimento?
Acompanhe-me pelo twitter: @bondaczuk
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