Crimes
de guerra e direitos humanos
Pedro
J. Bondaczuk
Documentos, outrora secretos,
que aos poucos começaram a vir a público, sobre a guerra do Vietnã,
revelam que as atrocidades cometidas naquele conflito, pelos
militares norte-americanos, foram muito maiores do que a princípio
se supunha. Fatos de igual natureza\, ou até mesmo piores, estariam
ocorrendo, atualmente, no Afeganistão ocupado pelos soviéticos (os
quais, provavelmente, o Ocidente jamais saberá com absoluta
certeza). Comenta-se, até, sobre o uso de sofisticadas armas
químicas, que estariam sendo testadas nos vales e montanhas
afegãos, especialmente contra as forças do guerrilheiro Masod, no
Vale do Panjir.
O próprio Vietnã, vítima de
uma guerra cruel e desumana, movida com requintes de crueldade por
praticamente nada, parece ter aprendido muito bem a infame lição. E
estaria usando métodos bastante semelhantes no Camboja que mantém
sob ocupação há longos anos. As hordas de refugiados khmers
famintos e desamparados, que superlotam acampamentos na fronteira com
a Tailândia, são, segundo relatos de testemunhas oculares, qualquer
coisa de dantesca. Perto deles, os campos de concentração alemães
seriam, até, “fichinhas”.
A pergunta que surge,
espontânea, diante desse tipo de denúncia, é quanto ao porquê de
tais atitudes, que depõem contra os foros de civilização de quem
as pratica. Será que a sede perlo poder obceca tanto as pessoas ao
ponto de as fazer esquecer princípios os mais comezinhos de
humanidade? Quanta coisa tão absurda e chocante não deve estar
ocorrendo em outras tantas zonas de conflito do mundo, tais como El
Salvador, Nicarágua, Angola, Etiópia, Namíbia, Sri Lanka, Índia e
vai por aí afora, numa sucessão de nomes exóticos e de lugares
miseráveis, onde feras se digladiam por míseras migalhas de poder,
espelhadas em exemplos de crueldade e irracionalidade das
superpotências?!
O pior de tudo é que. A
despeito da sucessão de denúncias, de relatórios contundentes de
entidades defensoras dos direitos humanos, de matérias jornalísticas
notáveis (como o documentário sobre os desaparecidos da Argentina,
exibido há duas semanas pelo Canal 13 de Buenos Aires), os autores
dessas “proezas” permanecem impunes. Geralmente morrem de velhice
e ainda ganham extensos necrológios, tratados como “personagens
ilustres”. E os direitos humanos? Bem, estes soam pomposos numa
plataforma eleitoral e, geralmente, não passam mesmo disso. De meras
propagandas sobre intenções que, geralmente, os que dela se valem
nunca tiveram de verdade.
(Artigo publicado na editoria
Internacional do Correio Popular em 18 de julho de 1984).
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