Monday, September 04, 2017

Crimes de guerra e direitos humanos

Pedro J. Bondaczuk

Documentos, outrora secretos, que aos poucos começaram a vir a público, sobre a guerra do Vietnã, revelam que as atrocidades cometidas naquele conflito, pelos militares norte-americanos, foram muito maiores do que a princípio se supunha. Fatos de igual natureza\, ou até mesmo piores, estariam ocorrendo, atualmente, no Afeganistão ocupado pelos soviéticos (os quais, provavelmente, o Ocidente jamais saberá com absoluta certeza). Comenta-se, até, sobre o uso de sofisticadas armas químicas, que estariam sendo testadas nos vales e montanhas afegãos, especialmente contra as forças do guerrilheiro Masod, no Vale do Panjir.

O próprio Vietnã, vítima de uma guerra cruel e desumana, movida com requintes de crueldade por praticamente nada, parece ter aprendido muito bem a infame lição. E estaria usando métodos bastante semelhantes no Camboja que mantém sob ocupação há longos anos. As hordas de refugiados khmers famintos e desamparados, que superlotam acampamentos na fronteira com a Tailândia, são, segundo relatos de testemunhas oculares, qualquer coisa de dantesca. Perto deles, os campos de concentração alemães seriam, até, “fichinhas”.

A pergunta que surge, espontânea, diante desse tipo de denúncia, é quanto ao porquê de tais atitudes, que depõem contra os foros de civilização de quem as pratica. Será que a sede perlo poder obceca tanto as pessoas ao ponto de as fazer esquecer princípios os mais comezinhos de humanidade? Quanta coisa tão absurda e chocante não deve estar ocorrendo em outras tantas zonas de conflito do mundo, tais como El Salvador, Nicarágua, Angola, Etiópia, Namíbia, Sri Lanka, Índia e vai por aí afora, numa sucessão de nomes exóticos e de lugares miseráveis, onde feras se digladiam por míseras migalhas de poder, espelhadas em exemplos de crueldade e irracionalidade das superpotências?!


O pior de tudo é que. A despeito da sucessão de denúncias, de relatórios contundentes de entidades defensoras dos direitos humanos, de matérias jornalísticas notáveis (como o documentário sobre os desaparecidos da Argentina, exibido há duas semanas pelo Canal 13 de Buenos Aires), os autores dessas “proezas” permanecem impunes. Geralmente morrem de velhice e ainda ganham extensos necrológios, tratados como “personagens ilustres”. E os direitos humanos? Bem, estes soam pomposos numa plataforma eleitoral e, geralmente, não passam mesmo disso. De meras propagandas sobre intenções que, geralmente, os que dela se valem nunca tiveram de verdade.

(Artigo publicado na editoria Internacional do Correio Popular em 18 de julho de 1984).



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