Hora de renovação
Pedro J. Bondaczuk
O presidente Itamar Franco, de
acordo com levantamento da imprensa, foi o recordista na edição de
Medidas Provisórias, desde que esse expediente foi introduzido na
Constituição de 1988. Usou 211 vezes o recurso, sendo que 136 delas
se trataram de reedições, por falta de apreciação do Congresso.
Essa informação dá a exata
idéia das dificuldades enfrentadas pelo Poder Executivo, diante da
inércia e da incapacidade de tomar decisões rápidas da Câmara e
do Senazdo. Já o ex-presidente Fernando Collor, em dois anos e meio
de governo, havia editado 160 Medidas Provisórias. Portanto, de 1990
para cá, elas foram 371.
Por isso, não se pode deixar
de dar razão ao jornalista Fernando Pedreira, que no artigo "O
médico e sua medicina", publicado no Jornal do Brasil, em 27 de
julho de 1993, constatou: "As causas da crise brasileira, cuja
manifestação pior e mais óbvia é a inflação, são
essencialmente políticas. Nascem da política, brotam e rebrotam do
patrimonialismo, do primarismo demagógico e da corrupção que
dominam a nossa cena política. Não se pode acabar com a inflação
e a crise sem, pelo menos, conter e disciplinar esses feios vícios
políticos. E como fazer isso se o Congresso, peça-mestra do regime,
não tem comando nem lideranças confiáveis e na verdade se tornou
um acampamento de predadores do erário e, através dele, dos bolsos
do povo? Se os deputados, mesmo os melhores, são 'muristas',
postam-se em cima do muro e só descem dele para dançar conforme a
música?"
Se, mesmo legislando através
de Medidas Provisórias, o governo Itamar tem sido acusado ---
injustamente, convenhamos --- de inércia, imaginem o que ocorreria
se não se utilizasse sequer desse recurso! O Congresso tem tarefa
relevante e fundamental como sustentáculo da democracia e como um
dos Três Poderes responsáveis pela boa administração do País.
Ocorre que seu regimento é
inadequado, que o corporativismo tem sido colocado acima dos
interesses nacionais e que a atuação dos parlamentares não vem
sendo devidamente fiscalizada. É indispensável que aqueles
deputados e senadores com vontade de trabalhar e dotados de
patriotismo iniciem uma reação, no sentido de limpar a imagem da
instituição.
Mas o conserto está nas mãos
apenas do eleitor. Que tal, nas próximas eleições, dar um basta
nas velhas raposas da política e promover radical renovação do
Legislativo?!
(Artigo publicado na página
2, Opinião, do Correio Popular, em 4 de junho de 1994).
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